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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os essenciais 3 - Rui Rocha




Sobre um homem correto, em três tempos:


I

Muita honra em ter no Rui um aliado desde os idos de 2004, quando na Justiça Federal de Ilhéus lutávamos para manter o plantel do NSG na Bahia, face a investidas politicas (junto ao Ibama) de grandes institutos do sudeste. Hoje a luta é pela preservação do habitat em si, e a ultima das mega agressões´ambientais à região - e provável propinoduto - chama-se 'Projeto Porto Sul', que Rui Rocha descreve abaixo:


Porto Sul - O futuro depende de nós !!!

Bamin, ou BML, é uma empresa constituída de capital da Eurasian Natural Resources Corporation, do Cazaquistão, e a Zamin Ferrous, envolvendo capitais da China, Índia e Rússia. A empresa surgiu para viabilizar a exportação do minério de ferro de Caetité para a China. Porém, para o negócio se concretizar, precisa de uma logística cara que disponha o ferro em navios imensos (de até 330 metros) – daí a necessidade de um porto com alta profundidade, com mais de 20 metros de calado.  A Baia de Todos os Santos, por exemplo, contando com um dos maiores abrigos naturais para portos da América do Sul, não serve, segundo a empresa.


Em 2007, a empresa escolheu uma praia ao norte da cidade de Ilhéus, a Ponta da Tulha, para edificar um porto em alto mar, usando o litoral para depósito do ferro, escoando-o por navios graneleiros imensos até a China. A escolha da área seguiu critérios simples – custo mais baixo entre a jazida e o “futuro” porto, o mais próximo possível da costa, com o máximo de profundidade.

 
Mas, o que nós temos a ver com isso ? A presença de ambientes florestais e alagadiços, de uma estrada turística recém construída, de um mirante espetacular logo em frente, a passagem de baleias jubarte no local, a desova de tartarugas, a presença de pescadores artesanais de jangada, a área de proteção ambiental  da Lagoa Encantada, um Parque Estadual com a maior diversidade florestal do planeta, o potencial econômico do turismo crescente neste trecho do litoral baiano, enfim, nada disso importou na escolha deste local. Afinal, para a Bamin e para o Governo da Bahia, reduzir custos e aumentar os rendimentos com a logística de um minério de ferro de baixa qualidade é mais importante do que tudo isso.


Milton Santos, baiano da Chapada Diamantina e um dos maiores geógrafos do planeta no século XX, escreveu o seu primeiro livro – Zona Cacaueira - depois de alguns anos vivendo em Ilhéus. Isso nos anos cinqüenta, quando ensinou geografia no Instituto Municipal de Ensino. Meio século depois, em documentário, alertou-nos para os efeitos nefastos da globalização. 


Embora falecido, Milton Santos ainda vive na mente de muitos que leram e ouviram os seus ensinamentos, junto com o seu sorriso. Hoje, a Bamin  representa com força as contradições desta globalização perversa, que move interesses privados internacionais sobre lugares frágeis, com a  volúpia financeira e política – aonde começa uma ou outra sabemos pouco.


Interesses privados versus o interesse público – A Bamin, de alguma forma, convenceu o governo da Bahia que deveria apoiar esta iniciativa, através de uma parceria público-privada, ou PPP. No final, o governo decretou área de 1770 hectares como de utilidade pública, a serviço da Bamin, para que ela pudesse depositar em oitenta hectares o minério de ferro. O local, muito próximo da vila, servirá de apoio para um porto privado da empresa, basicamente para escoar este minério. Ah, é preciso dizer que a empresa não precisará mais construir um minerioduto, pois o governo se comprometeu em construir a ferrovia Oeste Leste para  o transporte do minério.


A decisão de governo estadual não incluiu nenhuma audiência pública,  embora isto seja a recomendação da legislação brasileira – através de Estudo de Impacto Ambiental - EIA RIMA e do estudos de alternativas locacionais. Enquanto isso, o governo anunciou que iria fazer, previamente, uma Avaliação Ambiental Estratégica, mas até hoje não houve nenhum debate ou encontro público para avaliar resultados preliminares destes estudos, sob a coordenação do LIMA, da COPPE/UFRJ. 


Turismo e conservação da natureza- As praias do norte de Ilhéus, incluindo a Ponta da Tulha, compõem cenários de rara beleza e vocações associadas ao turismo de natureza. Um dos destinos mais cobiçados do Brasil, a Costa do Cacau possui muitas comunidades tradicionais, florestas preservadas e rios de água limpa, abundantes, descendo da Serra do Conduru. Escoar minério de ferro no meio deste litoral é uma decisão arriscadíssima, pois ameaça milhares de empregos diretos com o turismo, e em franco crescimento. Neste verão, Ilhéus acolheu 48 transatlânticos, o equivalente a cinqüenta mil turistas, no ano anterior, foram 37 navios. A tendência de incremento do turismo na Bahia – em dois anos cresceu 148 %, segundo dados oficiais - inclui Ilhéus, que contribuiu, junto com Salvador e Porto Seguro, no avanço deste setor.


No inicio de abril de 2009, mais de um ano depois do anúncio oficial do governo de que teríamos um novo porto na Ponta da Tulha, este assunto parece um longo pesadelo, que atravessa a noite e invade os nossos dias. A Bahia de todos nós incluirá o cuidado com o interesse público diante dos interesses e negócios da Bamin? Depende de nós ...

RR



II


'Papo Amarelo' é o rifle favorito dos coronéis do cacau. Ainda se resolve muita coisa na bala na região. Fica sempre a preocupação com relação à segurança pessoal dos que se opõem às máfias multimilionárias.

Com a delação premiada da Camargo Correa, entende-se hoje o porque de Lula ligar para a Ministra Izabela (MMA) aos berros, cobrando 'pra ontem' o licenciamento ambiental de Belo Monte. O que estava em curso ali não era preocupação com geração de energia, mas de caixa.

Um dia também ficará claro o porque dessa afronta em se plantar um projeto como o Porto Sul numa área de preservação ambiental das mais frágeis, sendo que existem opções de escoamento do minério de Caitité ao Porto de Aratú ao norte, via trilhos já existentes da Vale do Rio Doce.

Mas não estamos dispostos a deixar essa conta para nossos filhos, e para os últimos viventes do bioma. Confira:  https://www.youtube.com/watch?v=7mw8Vofbofo


Entenda as opções sustentáveis para a região: Pacto do Condurú, pela biodiversidade

por Rui Rocha e Eduardo Athayde

O conduru (Brosimum conduru) árvore de madeira roxa, retilínea, serve para o esteio de casas, para a movelaria e é usada para mastreação de embarcações desde os tempos coloniais. Caravelas, canoas, saveiros e escunas, foram e são conduzidos pela energia do vento transferida para força dos mastros de conduru.

O Parque Estadual da Serra do Conduru que abrange parte dos municípios de Ilhéus, Uruçuca e Itacaré, exibe um recorde mundial de biodiversidade - 456 diferentes espécies vegetais/ha - identificado por cientistas do Jardim Botânico de Nova York. Destacando-se num imenso telhado de 10 mil hectares de floresta viva, as serras do parque recebem as chuvas que alimentam os rios de Contas e Almada e formam a Lagoa Encantada, abastecendo mais de 500 mil pessoas na região.

Desde 1998, quando foi inaugurado o trecho da BA 001 que liga Ilhéus a Itacaré, um investimento de 20 milhões de dólares, financiado pelo BID, o valor das terras sobe estratosfericamente pela corrida imobiliária que silenciosamente chega à linha costeira da Mata Atlântica.

As áreas adjacentes ao parque já valem mais de R$1 bilhão de reais com lotes residenciais vendidos por preços que circulam R$ 300,00/m2. Hotéis, cheios o ano inteiro, cobram diárias entre 200 e 600 dólares.

"Vendi a minha casa no Algarve por dois milhões de euros. Só podia usar no verão e mesmo assim tomando rápidos banhos num mar gelado. Comprei uma fazenda na Mata Atlântica da Bahia e construí casa ainda melhor, tudo com 500 mil euros. Jamais gastarei o milhão e meio de euros restantes com as baratas viagens entre Lisboa e Salvador", goza um empresário português, dono de área vizinha ao Conduru.

Hoje ganha dinheiro com econegócios e se gaba na Europa por ser dono de parcela da biodiversidade do mundo.

Pousadas e ecoresorts geram mais de 1000 empregos diretos e 4000 indiretos com a produção de verduras, frutas e artesanato, produzidos através do Programa Floresta Viva.

Um serpentário com pesquisas sobre o veneno da mortal surucucu pico-de-jaca, é um embrião dos econegócios que chegam à região para gerar renda protegendo a biodiversidade.

O Parque do Conduru foi criado em 1997 graças ao apelo de ambientalistas junto ao BID. Na época, o Governo do Estado se comprometeu a disponibilizar 5 milhões de dólares para implantar a unidade de conservação. Quase dez anos depois o parque ainda está à espera da regularização fundiária e da polícia florestal.

O velho sistema de comando e controle usado pelo Estado, somado a reconhecida incapacidade de gestão e a crescente incapacidade financeira, não garante a proteção das áreas. A falta de fiscalização surpreende também os turistas impressionados com o gigantesco patrimônio natural, ativo ambiental que tomba todos os dias entre as Vilas de Serra Grande e Tibina. Nos fins de semana caminhões continuam a abastecer as madeireiras das cidades próximas.

O Conselho Gestor do Parque, criado recentemente pela Secretaria de Meio Ambiente da Bahia, é uma nova esperança. Reúne 17 instituições, incluindo entidades ambientalistas que atuam na região, como o Instituto Floresta Viva, Iesb, Tijuípe e Boto Negro.

Inovando, a secretaria e as instituições parcerias podem articular o "Pacto do Conduru", adotando indutores eco-econômicos para investir na preservação com geração de renda e garantir um patrimônio único no planeta, pondo fim à era da madeira tombada.

O Parque do Conduru, por tudo que representa, é uma grife. Assim como as pessoas, o parque tem uma "natureza emocional" que ajuda na atração de econegócios para a sua manutenção.

O que pode representar uma floresta com recordes em biodiversidade no mundo para investidores interessados nos produtos da preservação ou dela derivados? Quanto vale uma semana ao lado do parque, integrado ao meio ambiente e a sociedade rural do Sul da Bahia? Quanto poderá valer, por exemplo, sabonetes de seivas ou cremes com princípios ativos de espécies do Conduru?

A estruturação do conceito de econegócio ajuda a formar fundos de investidores. "Conduru Ivestment Fund" batizariam os especialistas internacionais, voltados à preservação através da bioprospecção, geradores de eco-royalties para a manutenção do Parque. Neste sentido, o Estado pode e deve oferecer o seu apoio institucional, fomentando a atração de investidores como faz com sucesso em
diversas áreas.

Pessoas e ecossistemas formados por milhares de espécies da flora e fauna do Conduru dependem deste pacto. A produção rural vinculada aos econegócios faz dessas unidades de conservação exemplos de economia movida pela preservação da natureza.

O Parque Estadual do Conduru guarda in natura o que os cientistas, ambientalistas e empresários da Disney produzem em ficção, atraindo para lá turistas de todo o mundo.

O Pacto do Conduru, sintonizado com a Convenção da Diversidade Biológica, visa ações concretas para a preservação do ambiente, geração de economia e manutenção da qualidade de vida das gerações presentes, deixando um legado para as gerações futuras.

O que é Floresta Viva

É uma iniciativa sócio-ambiental inovadora que integra a proteção dos remanescentes florestais da Mata Atlântica, com a inclusão social dos agricultores familiares que habitam a Área de Proteção Ambiental Itacaré/Serra Grande, no Estado da Bahia - uma região com a maior diversidade biológica do planeta e com um dos piores indicadores sócio-econômicos do país.

Deste modo busca-se promover o fortalecimento sócio-econômico dos agricultores, através de incentivo financeiro para a conservação das florestas, melhoria na infra-estrutura das propriedades e promoção de transição tecnológica, através da capacitação dos agricultores em atividades produtivas sustentáveis, tais como: produção de mudas de espécies nativas, frutíferas e ornamentais; produção de
hortaliças orgânicas; sistemas agroflorestais; ecoturismo nas propriedades rurais; coleta de sementes florestais entre outras.

Ecoturismo

O Circuito de Trilhas do Floresta Viva é uma experiência inovadora, pois integra os pequenos agricultores familiares da APA Itacaré/Serra Grande e o crescente turismo nessa região, a preservação de um dos trechos prioritários para a conservação, por abrigar remanescentes da mata atlântica e seu elevado grau de endemismo.

Este Circuito de Trilhas está sendo desenvolvido pelo Grupo de Ecoturismo, o Getur, formado por agricultores sob coordenação do Instituto Floresta Viva. Vale salientar que a capacidade de carga é respeitada com bastante rigor pelos próprios agricultores, que hoje respeitam o meio ambiente e entendem que precisam dele para sobreviver.

A preservação da Mata Atlântica é a grande prioridade, no entanto, é necessário aliar fatores que possam proporcionar renda para essas famílias. Por isso vemos a possibilidade de explorar os atrativos naturais como um aliado a preservação dessa região. O potencial do ecoturismo socialmente responsável torna este Circuito de Trilhas como um excelente produto ecoturístico a nível nacional.

Este circuito de trilhas possui duas modalidades: as Trilhas Implantadas, como o caso da "Janela da Gindiba" e do "Refúgio dos Anjos", implantados pelo MPE - Melhores Práticas para o Ecoturismo do Funbio em parceria com o Iesb; e as Trilhas Primárias, que estarão sendo operadas pela primeira vez no verão 2004. Em ambas, os visitantes poderão se encantar ao ouvir as histórias curiosas e singulares de seus moradores, tomar deliciosos banhos de rio, cachoeira e açudes e provar os deliciosos doces caseiros feitos de produtos 100% orgânicos (sem adubo químico).

A experiência adquirida com as Trilhas Implantadas durante 3 anos de operação fundamentaram o desenvolvimento do Circuito, que hoje conta com 6 trilhas, sendo 2 na categoria implantada e 4 na categoria primária.

As Trilhas Implantadas (TI) já possuem toda a infra-estrutura e são locais de rara beleza onde o visitante pode conhecer a realidade desses agricultores e entender a importância do processo de mudança nas atividades e na vida desses agricultores.

As Trilhas Primárias (TP) proporcionarão ao visitante a sensação de descoberta e realização, estarão sendo os primeiros a visitarem aquelas áreas e estarão ajudando na formatação do produto turístico final, que deverá estar pronto para o verão 2006.

Estamos implantando em escala experimental a operação através do Voucher para o controle na Central Única de Reservas da capacidade de carga das trilhas que compõem o Circuito. No valor pago pelo visitante está incluído uma taxa de conservação a qual será administrada pelos agricultores que irão destinar esse recurso para atividades sócio-ambientais nesta região, além de seguro de vida.


Rui Rocha é diretor do Instituto Floresta Viva http://www.florestaviva.org.br/

Eduardo Athayde é diretor da UMA-Univesidade Livre da Mata Atlântica e do
WWI-Worldwatch Institute no Brasil http://www.wwiuma.org.br/


III


Confira no link abaixo mais do ambientalismo pé-no-chão de Rui Rocha, que em última análise é mais importante que o próprio Núcleo Serra Grande para a preservação das ultimas surucucus da Mata Atlântica, por trabalhar pela conservação e regeneração do seu território.

Aproveito para relembrá-los das dificuldades na luta pela preservação das ultimas Surucucus da Mata Atlântica: até um sujeito culto como o Jô Soares revela, no ultimo minuto da entrevista, que gostaria de vê-las extintas. Confira na integra a participação de Rui Rocha no programa:

http://www.youtube.com/watch?v=MCghQGL0Ewc



Confio em Rui por conhecer o carro que ele usa, a casa onde ele mora, e a honradez da família simples de onde ele vem, e também pela sua fé ardente e discreta. Rui credita em Jesus Cristo como Senhor e Guia, e tem ciência da retidão de conduta requerida de quem pretende segui-Lo. Talvez desta Fé venha também sua enorme coragem, em 'Terra de Papo Amarelo'. Creio que o leitor compreende o risco à sua segurança física ao liderar uma resistência a um empreendimento desse porte, que 'molharia' muitas mãos corruptas. Mas Rui não treme, porque em Mateus 6, lê-se que:


Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.


E no  Salmo 91, promessas são feitas:


1 Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.
2 Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio.
3 Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa.
4 Ele te cobre com as suas penas, e debaixo das suas asas encontras refúgio; a sua verdade é escudo e broquel.
5 Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia,
6 nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia.
7 Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido.
8 Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
9 Porquanto fizeste do Senhor o teu refúgio, e do Altíssimo a tua habitação,
10 nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
11 Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
12 Eles te susterão nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.
13 Pisarás o leão e a áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
14 Pois que tanto me amou, eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque ele conhece o meu nome.
15 Quando ele me invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei, e o honrarei.
16 Com longura de dias fartá-lo-ei, e lhe mostrarei a minha salvação


Concluindo, assim segue Rui, amparado na fé e em convicções éticas, existenciais e ambientais (tudo uma coisa só), em terras de Ilhéus e da Papo Amarelo, onde portos e coronéis nos remetem à premonição de Jorge Amado ...


Jubiabá





"... Então é para o grande cais dos transatlânticos que se dirigem. Vão ver os homens que embarcam à noite, misteriosamente, levando sob o braço sobretudos e embrulhos; vão ver os homens que trabalham na descarga dos navios. São negros e parecem formigas que levassem enormes fardos. Andam curvos como se em vez de sacos de cacau carregassem sob as costas o seu próprio destino desgraçado. E os guindastes, como monstros gigantescos que rissem dos homens, levantam fardos incríveis que ficam balançando no ar. E rangem e gritam e andam sobre trilhos, guiados pelos homens de macacão que estão trepados dentro dos cérebros dos guindastes"





Do Livro "Jubiabá", de Jorge Amado, (página 76). Romance. São Paulo: Livraria Martins Editora, 27 Edição, 1971


Estou nessa luta com Rui - e gente querida diz que pagaremos caro por isso - mas o silencio cúmplice doeria mais que qualquer agressão. Confira abaixo nossa postura ganhando mundo via BBC de Londres ...








Os essenciais 2 - Mestre José Abade




Ao Mestre com carinho,




Sabe tudo de manejo e é um apaixonado pelo gênero, mesmo tendo sido picado e quase finalizado por um animal de 12 anos, que ele conduziu do ovo.

 No dia seguinte ao seu acidente estava em sua cabeceira num hospital em Itabuna, torcendo pelo amigo e tomando notas. Teve reação anafilática ao soro, observe rash cutâneo e edema palpebral abaixo, mas tudo deu certo ao final.

 Houve inoculação com uma unica presa (circulo azul): a gravidade do acidente laquético, ao contrario do botropico, não é dose dependente.




 Foi Abade quem no fundo me alertou para a possível manifestação clinica da neurotoxicidade em Lachesis, com paralisia da musculatura responsável pela deglutição já nos primeiros 10 minutos do acidente envolvendo a surucucu da Mata Atlântica: "a garganta trava Doutor, não dá para engolir um comprimido..." registrei no caderninho ... 

Será a primeira tentativa de contratação do NSG caso venhamos a atingir a tal autossustentabilidade, com licenças do Ibama para operações comerciais.




LEIA TAMBÉM: 


http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/05/acidente-laquetico-na-pratica.html



Os essenciais 1 - Dr. João Luis "Boitatá" Cardoso


Dr. João Luis foi o primeiro "notável" a vir até o NSG, para me olhar no olho, para ver in loco o que faço.


João Luiz, o mineiro do Paranapanema, numa cortesia de Guilherme Reckziegel


Almoçou em minha casa em Itacaré o feijão básico da Gracinha. Presenteou-me na ocasião com vários artigos históricos sobre Lachesis: Bolãnos, Otero, Haad. Envergonhado, retribuí com algum escrito meu, menor.

No sudeste maravilha, manobras em curso para levarem as surucucus da Bahia, para morte certa em SP. E isso incluía desacreditar-me.

Mas ele não deu ouvido a terceiros, veio conferir, e creio que concluiu que meu trabalho tem valor. Prova disso são os textos que escrevemos em parceria. É macaco velho demais para se sujar, associando seu nome a aventureiros.

Abaixo a capa de seu livro. O capitulo "Acidente Laquético" é meu. Seguramente a maior honra que já tive nestes anos de Lachesis. É um livro fácil, agradável, que qualquer um lê. Mas tem hora que vai fundo, para educar médicos e salvar vidas. Considero prudente sua distribuição à todo ponto do país, onde hajam notificações de acidentes com animais peçonhentos.






Dr. João me jogou para cima e me exigiu ao máximo. Sem perceber fui colocado à prova em brainstorms memoráveis, com gente de um nível infinitamente superior ao meu, tentando com e sem sucesso, fazer valer alguns pontos de vista pessoais sobre a bioquímica do veneno de Lachesis, nos envenenamentos em humanos. Abaixo, como exemplo, email do Professor JLC ao Professor Jose Maria Gutiérrez (Costa Rica), de 2008, e que resultou em grande troca de experiencia e aprendizado:


Caro Gutierrez,

Há cerca de 2 anos o Dr.Rodrigo de Souza - Rodrigo - vem agitando o torporoso mundo das lachesis aqui, abaixo do equinócio.

Como estamos iniciando esforços pra uma segunda edição do nosso livro, pedi que ele escrevesse um relato sobre o que tem visto na sua região, o sul da Bahia, area litoranea atlantica, proximo a Minas Gerais, digamos.

Peço que entre em contato diretamente com Rodrigo, pois tenho aprendido muito com ele e gostaria/quero que você participasse desse convivio.

Abraço forte do

João Luiz

CC Rodrigo


Obrigado por tudo, Professor José Maria


Com Dr. João, tive também a honrosa chance de revisar o 'Manual de Condutas do Ministério da Saúde para Animais Peçonhentos', capitulo 'Acidente Laquético', que deve sair agora em 2012.

Ou seja, foram as suas intervenções que trouxeram credibilidade ao que faço aqui em Serra Grande. E isso diz tudo.

Saudades do Boitatá, boiúna, cobra grande. Ápice, apogeu.



A maldição do nome "Criatório Comercial"



Quando se vai registrar um criatório no Ibama, o interessado deveria ter 4 opções:

- criatório cientifico
- criatório comercial
- criatório conservacionista
- criatório conservacionista com possibilidade de gerar receita e auto sustentabilidade, sendo portanto também criatório comercial, e com parcerias com o Ministério da Saúde, institutos produtores de soro e universidades, sendo portanto também, criatório cientifico.

Esta última seria minha opção de cadastro, mas como ela não existe, o Nucleo Serra Grande pleiteia o status de criatório comercial.

As palavras 'criatório comercial' remetem imediatamente ao empresario inescrupuloso tentando lucrar com fauna. No nosso caso especifico, o pleito significa tentar tirar dos meus plantões de medicina, mensalmente, o ônus pelos seis mil mensais fixos para custeio do NSG.

Isso acima manutenção. Do que foi gasto em implantação e extras, nem falaremos.

Fontes de receita ? Quem sabe um centro de educação ambiental e turismo cientifico ? Quem sabe se ao atingirmos um numero 'seguro' de matrizes nascidas em cativeiro, não poderíamos vender filhotes a zoológicos e instituições credenciadas ? Quem sabe a USP e a UNICAMP, e institutos produtores de soro, que receberam gratuitamente veneno do NSG, não poderiam no futuro pagar por ele, participando do crescimento do Núcleo ? Quem sabe um dia não teremos apoio para projetos de repovoamento onde as surucucus não mais existem ? Quem sabe não poderíamos fazer uma parceria com o Ministério da Saúde, para que ele, como comprador, mantivesse os institutos produtores de soro providos de veneno ?

Tenho pouca fé em qualquer uma das possibilidades acima, se tivesse entrado nessa por grana já estaria longe há muito tempo, me contentaria contudo com RESPEITO, nada justifica um tramite de catorze anos no Ibama, e dois, até o momento, no licenciamento ambiental do INEMA. Somente na mesa de quem decide há TEMPO, aqui na realidade, é EXTINÇÃO NA NATUREZA EM 50 ANOS.