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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Timothy e eu



Com um bom atraso, e com minhas desculpas, respondo à pergunta de três leitores: 'que papo é esse de homem-urso' ?

Duas matérias citam essa 'semelhança' entre Timothy Treadwell e eu: na BBC de Londres http://www.bbc.co.uk/news/magazine-24396013  e na revista piauí
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-83/questoes-ofidicas/cobra-criada

Timothy viveu por 12 verões consecutivos entre o ursos pardos do Alaska, desarmado, e numa proximidade que por vezes permitia o toque. Morreu no decimo terceiro verão, comido por um deles.

Assisti ao documentário do Herzog sobre sua vida pelo menos umas vinte vezes, tentando captar cada nuance do inglês, para ir mais fundo no personagem.

Meu interesse veio do fato de que eu não considerava essa interação possível. Como não acho possível que humanos se aproximem dos grandes felinos, em ambiente natural, e vivam para contar.

Por DOZE verões Timothy voltou para contar. As centenas de horas de vídeo que filmou mostram esse impossível acontecendo, dia após dia.

Timothy arriscou botar em pratica uma visão de que quando bem alimentados, não hostilizados e enfrentados em seus próprios termos - grunhidos, postura corporal e defesa do território - os ursos tem cérebro o suficiente para optarem por não se arriscar com essa coisa diferente, os humanos.

São absolutamente aterrorizantes as cenas filmadas com tripé, e nas quais ele não dá um único passo para trás (defesa do território) quando animais gigantescos se aproximam de forma sabidamente predatória: cabeça e orelhas baixas, e salivando. Com uma sequencia de grunhidos, gritos, e saculejadas de ombro, Timothy fazia estes ursos (bem nutridos), 'repensarem' sua intenção.

Confira: https://www.dailymotion.com/video/x1puv2g

Mas a mente de Timothy oscilava por demais. Desde sempre. Descobriu nos ursos e sua preservação a sua razão de viver, se queria viver, não sei.

Numa dessas oscilações mentais, resolveu voltar ao seu acampamento muito tarde na estação. Os ursos da costa, seus conhecidos, estavam alimentados e hibernando. Ursos velhos, desnutridos, do interior, agora chegavam ao litoral, em busca de restos de salmão, carcaças, qualquer coisa calórica que lhes permitisse suportar o inverno. Qualquer coisa, gente inclusive. Foi um urso desses que o matou.

Não sei exatamente porque me comparam a ele. Mas dá para intuir: parece que facilito com as surucucus, bichos também mortais, e que em função disso, que eu seja também meio doido. Com esse cabelo, sujeira e expressão abaixo, reconheço que dou margem.




É difícil para quem esta de fora perceber, mas temo, respeito e não brinco com estes animais. Manipulo Lachesis sem imobilizar sua frágil porção cervical ('free-handling'), porque aprendi que essa é a regra de ouro para quem pretende longevidade de seu plantel. E dentro dessa regra há uma outra regra: em hipótese alguma, quem faz 'free-handling' pode ver, ao mesmo tempo, as duas fossetas loreais do animal que manipula. Se estiver vendo, já é alvo. Já foi. Ou já era.

Bernardo Esteves, autor da matéria da Piauí, perguntou-me 'se meu décimo terceiro verão chegaria', ao que respondi que 'a paternidade me tirou o direito ao suicídio'. Espirituoso, mas não é bem assim. Pearn, Covacevich e Richardson, do Royal Children's Hospital, Brisbane, Australia, autores do artigo 'Snakebites in herpetologists', demonstram que herpetologia como a nossa é atividade de alto risco, que herpetólogos experientes sofrem um  acidente potencialmente fatal à cada 10 anos, e que a prevenção começa por se reconhecer esse risco. Sendo ou não pai, se vacilar, o décimo terceiro verão chega sim. Essa seria a resposta correta ao jornalista.

Temos animais excepcionais nascidos em Serra Grande. Sua calma e seu porte impressionam. Um deles voou em minha cara outro dia, sem aviso. Se eu não considerasse a possibilidade de comportamento atípico, poderia estar morto. Confira esse episódio: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/08/mea-culpa.html

Parece que Timothy travou aqui: ignorar a possibilidade do comportamento atípico. Infelizmente.













terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Em resposta a leitor do blog: a questão do espaço



Não há nada mais importante na lida com Lachesis que o espaço físico. Sim, o animal é dócil, mas é também 'aquela que dá botes repetitivos', do verbete 'surucucu', em Tupi-Guarani.

Como já vivi tanto docilidade quanto agressividade extrema na lida diária, no Núcleo Serra Grande só manipulo Lachesis dentro de um 'octógono de MMA', literalmente, vide imagem abaixo: a ideia é nunca ser encurralado.

Eu nunca sedo animais com neve carbônica para a lida. O halotano pode ser usado na contenção, mas em procedimentos cirúrgicos.

Essa é a primeira e mais importante orientação que passo aos interessados em trabalhar com o gênero: com este animal especifico, a distancia segura é sempre um pouco além do que se imagina.






Confira também:

http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol41Num4pp65-68%282006%29.pdf

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/08/mea-culpa.html

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/07/sobre-o-duplo-s.html


Abaixo texto de Bernardo Esteves, sobre o 'octógono':

http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/serpentes-no-octogono