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INDICE AO BLOG NSG E À BIBLIOTECA VIRTUAL LACHESISBRASIL BASEADO EM BUSCAS ESPECÍFICAS

OBSERVE POR FAVOR QUE A MAIORIA DOS LINKS SÃO AUTO EXPLICATIVOS, E CONTÉM INDICAÇÃO DE CONTEÚDO ANTES MESMO DE SUA ABERTURA: 1) SOBRE ...

sábado, 20 de setembro de 2014

CAÁ-ETÊ




"Nós nunca vamos vender ela papai, nunca ...", a comovente enfase no 'nunca' falava por si. Meus filhos referiam-se à possibilidade de venda da nossa roça, e mostravam-se profundamente conectados àquela terra devastada, 4 hectares exauridos pela atividade carvoeira do antigo proprietário. Contudo, sabemos onde estamos - a placa abaixo é nossa vizinha na estrada de acesso - o que aumenta a responsabilidade de recompor e conservar nosso microcosmo.




Agora com seus amigos na lagoa, água até o nariz em noite alta de lua miúda, Gabriel dá o comando: '... para, para (de falar), escuta só isso ...'. o vento agitava o bambu gigante que plantamos 10 anos atrás, fazendo fundo para a mais impressionante 'vocalização' simultânea de pelo menos cinco espécies diferentes de sapinhos e pererecas, às centenas, num volume que impedia conversas que não aos berros, literalmente.




Todos se deram conta de que algo magico ocorria na noite escura, e ninguém mais falou coisa alguma até saírem da água para o quentinho, na beira do fogão de lenha. Mundo em secas e racionamentos, chuva não há. Em Serra Grande o oposto, coragem nas corredeiras.




Sapos, águas rápidas ou nem tanto, em momentos formadores. Mata Atlântica para sempre dentro do que estes meninos são, e serão.




Para alertá-los quanto à ilusão de infinitude em meio a tanta abundancia residual, deixo aqui essa homenagem à CAÁ-ETÊ - a floresta brasileira - na esperança de que entendam os processos que levam ao fim, e ajudem a Amazônia a ser poupada de destino semelhante ao desse seu amado quintal http://www.reuters.com/article/2014/09/10/us-brazil-deforestation-rise-idUSKBN0H528V20140910 e http://infograficos.estadao.com.br/public/especiais/favela-amazonia/index.php

Ainda sobre a Amazônia, e para quem domina o inglês, um trabalho excepcional, definitivo e recente (2015) da National Geographic, aqui:

http://www.nationalgeographic.com/climate-change/explore-amazonia/#/Art/Intro/





Essa postagem não seria possível sem Warren Dean e a biblioteca completa de publicações dos Institutos Histórico e Geográfico Mineiro e Brasileiro (que meu pai tinha xerocada), sem comunicações pessoais com Bernardo Esteves, Rui e Amílcar Rocha, e Ana Luiza O. Cunha, sem depoimentos em vídeo de Niéde Guidon e Castor Cartelle, sem as provocações de Dr. João Luis Cardoso sobre a 'via Sul' de ocupação das Américas, sem as apostilas militares sobre navegação à sextante para o rigorosíssimo teste de Capitão Amador da Marinha do Brasil, sem Aníbal de Mattos sobre Lund, ou Caroline Alexander sobre Shackleton e as Expedições Polares, sem Boorstin e 'Os descobridores', sem Vanzolini e seu carinho tosco daqueles nossos primeiros anos de Lachesis, me ensinando que 'é muito mais importante reconhecer a queda que dar a volta por cima ...' Em 27 de dezembro de 2003 recebo dele uma carta antológica - na qual me ensinava a diferença entre as surucucus do Norte-Noroeste e a da Mata Atlântica - e da qual extraio o final, abaixo, julgando-me ter honrado sua confiança, iniciando a base de um plantel voltado à reprodução em cativeiro, e que perpetuará a especie quando todo o seu habitat estiver destruído (alguém aí conhece um grupo de Lachesis que se aproxime do retratado na foto abaixo, de 17/10/2014, em tamanho, beleza, tônus, saúde e calma ?)

'A meu ver é urgente proteger essa especie porque é um predador de grande porte confinado a uma área restrita (a Mata Atlântica, do Rio para o Norte) e sob duríssima pressão antrópica, è um bicho precioso e emblemático.

É o tipo de causa em que todos temos que nos engajar. Se eu puder ajudar no Ibama (duvido) estou às ordens.

Cordialmente, 

Paulo Emilio Vanzolini





























A historia florestal, é historia de exploração e destruição. São 10.000 anos de ocupação humana como veremos adiante, e 60% da atual população brasileira instalada nos limites da Mata Atlântica original.

Climas rigorosos desestimulam a novidade e o experimento evolutivo, florestas europeias e da América do Norte apresentam 'tímida uniformidade', inúmeras glaciações exemplificam os rigores a que foram submetidas. São florestas que podem ser repostas. A  complexidade da floresta tropical, ao contrario, é perda irreversível.

Como se não bastasse a variedade sem dominância, nos trópicos ocorrem complexas e frágeis interações entre os viventes, com coevolução, associações, polinização, dispersão de sementes. Há plantas que fornecem néctar para formigas, que podam ervas que concorrem com seus brotos.

A grosso modo, levam-se 100 anos para recomposição de clareiras. Em 30 anos já há copas de madeira branca, frágil. Em certos locais da Bahia, conta-se 270 especies de arvores em 1 hectare. Uma unica copa de arvore nos 35 metros de altura pode abrigar mil especies de insetos. Biodiversidade pouco conhecida, e em grande parte já perdida. Sistemas heterogêneos são mais resistentes ao trauma, mas de impossível recomposição plena em caso de intervenção externa.

A beleza da mata preservada oculta o caos, a luta feroz na entranhas. Trata-se na verdade de um dos ambientes 'mais perturbados' do mundo, onde exigências de adequação promovem e controlam mutações nos habitantes melhor adaptados.
























Pouca gente soube ver e amar essa variedade natural como Von Martius, sua 'Flora Braziliensis', publicada a 174 anos, permanece como a maior e mais completa obra sobre nossa flora, e ponto de partida para todos os botânicos atuais. Levou 66 anos para ser feita, e inclui todas as famílias, gêneros e especies conhecidas até então: http://florabrasiliensis.cria.org.br/project




Os seus 40 volumes, com 3811 estampas, foram ilustradas em bico-de-pena por Ender, Mary, Rugendas, Steinmann, Ackermann, Deppe, Hobe, Burchberger e o próprio Von Martius. São dessa obra os desenhos que ilustram essa postagem, à exemplo do complexo de restinga, acima, e florestal, abaixo ...























Luquinha, estuda agora 'placas tectônicas' e 'derivas continentais', e adora a ideia de que 'estamos todos surfando', moveis sobre uma placa de pedra. Não terá dificuldade para entender a resposta à sua própria pergunta: 'essa floresta também chegou aqui numa placa, papai ?'

Sim Luquinha, a mais de 400 milhões de anos plantas vasculares fotossintetizadoras e multicelulares encontravam-se aderidas à margem dos continentes unificados, como uma teia, cobrindo a costa rochosa e desacelerando o fluxo da água, formando solo e avançando para o interior. Há 40 milhões de anos estas plantas, que cresciam como uma teia plana, aderida ao solo, pararam de se bifurcar somente, surgindo uma adaptação vertical, o ramo, um tronquinho com vasos internos que levavam água para cima e nutrientes para baixo na planta. Nasciam as primeiras florestas como forma de sobreviver à competição, com as plantas saindo do chão raso e conseguindo nas alturas proteção extra contra predação.

Enquanto isso, nossa America do Sul, ainda estava colada à Africa, Antártida, Austrália e Índia, em um bloco longe dos climas tropicais. Girando em torno do polo Sul por 300 milhões de anos, esse supercontinente teve pelo menos duas invasões glaciais. Há 110 milhões de anos uma fissura entre a geomassa que compreendia America do Sul e Africa no tal supercontinente separou os blocos, e a America do Sul iniciou deriva rumo ao norte, rumo ao Equador, ficando mais quente e úmida. Nascia o Oceano Atlântico e uma terra diferente.

Arbustos daquelas falhas geológicas, bem adaptados a ambientes alterados e áridos no supercontinente, ao atingirem ambiente menos hostil - mais quente e úmido - desenvolveram flores (angiospermas) ao mesmo tempo em que insetos comedores de folhas desenvolviam asas e promoviam dispersão destas plantas com a polinização. A estratégia evolutiva resultou em dominância gradual sobre outras espécies já estabelecidas, as cicadáceas e coníferas. Esse teatro de adaptação e sobrevivência teve seu ápice à 65 milhões de anos, na transição do período Cretáceo para o Terciário, caracterizado pela extinção de muitas formas de vida, e origem de outras.

Por 50 milhões de anos as formas de vida da Mata Atlântica primitiva se desenvolveram localmente sem transtornos geológicos adicionais. A mata foi aos poucos sendo habitada por grupos de animais que enfrentavam pouca competição - marsupiais, ungulados e xenartros - e mais tarde por roedores, e primatas.

Nos próximos 2 a 4 milhões de anos, o continente Sul Americano assumiria sua forma moderna. Sua deriva e choque contra a placa do Pacifico eleva os Andes subitamente, promovendo inclinação do terreno para leste e bloqueado o mar interno, cuja drenagem criou a Bacia Amazônica. Ao norte formou-se um istmo, onde 'ilhas alpondras' - mais ou menos uma passarela sobre o mar baixo - permitiram migração de animais de outros grupos, que viriam a substituir as especies nativas: carnívoros do norte, como urso, cachorro, gato, guaxinim, bem como onívoros semelhantes aos caititus, e herbívoros como o veado, cavalo e mastodonte.

No período geológico atual, o Quaternário (o Holoceno se inicia ao termino da ultima glaciação, a 12 mil anos), houve de quatro a dezessete prolongadas estações de frio, as glaciações, tendo a ultima delas atingido seu ápice a 18 - 25 mil anos. No sul do continente uma camada de gelo mais espessa influenciou a formação de gelo perene nos picos dos Andes até Colômbia. No Quaternário, intervalos glaciais duravam mais que intervalos de calor, e assim, a Mata Atlântica se encolheu, perdendo contato direto com a Mata Amazônica.

A essa retração da Mata Atlântica seguiu-se uma expansão recente (12.000 anos), por  3.500 km ao longo da costa, e acima e por sobre a escarpa costeira, com a vegetação respondendo à estabilização climática, mais chuva, e temperaturas provavelmente superiores às atuais.

Costuma-se dizer que quando dessa ultima glaciação, hominídeos que manipulavam fogo e armas de pedra na planície africana, lançaram-se ao descobrimento da Asia e Europa, atingindo a condição de 'plenamente humanos' nesse período, 18 a 25 mil anos atrás. Mas há um problema aqui. Evidencias recentes atestam que a arte rupestre surgiu simultaneamente na Asia e Europa 40.000 anos atrás, e mais, certas temáticas, como animais sabidamente africanos e inexistentes em sítios franceses por exemplo, nos permite dizer que estes artistas pintavam memórias. Pintavam a 40.000 anos atrás experiencias vividas quando ? E mais, a qualidade dessas pinturas e a capacidade de abstração dos autores, nos permitiria falar em 'hominídeos' ? Em contraponto ao 'plenamente humano só na última glaciação', há gente respeitável posicionando o Homo sapiens na Africa (ou sul da China, ou ambos simultaneamente), a 200 mil anos atrás.






As pinturas rupestres acima são todas de Chauvet, na França, e datam de 36.000 anos. A entrada nessa caverna deixou experientes arqueólogos espiritualmente abalados, 'era como escutar o passado de nosso coração batendo ...'. Herzog teve uma das únicas e ultimas autorizações de entrada, e nos deu 'Cave forgotten dreams' ...



                                  https://www.youtube.com/watch?v=oZFP5HfJPTY


A retomada da expansão da Mata Atlântica - estabilização climática e retração das geleiras - coincidiu então com invasão da planície Sul Americana por de caçadores-coletores 'plenamente humanos' (não se sabe desde quando), a 10-20 mil anos. Não há consenso também sobre a origem e trajetória desses povos. Sobre sua entrada na America do Norte, evidencias biomoleculares apontam para o Homo sapiens asiático e o europeu encontrando-se em algum ponto na região da Sibéria, transpondo a região atualmente ocupada pelo estreito de Bering - onde o oceano se encontrava muito abaixo dos níveis atuais - e descendo pela avenida glacial que havia no atual Canadá, em busca da megafauna. Vestígios desse movimento humano especifico - artefatos típicos da cultura Clóvis - não ocorrem além do Panamá.

Poucos especialistas levam a sério a ideia de uma ocupação das Américas que não seja pelo estreito de Bering. As descobertas recentes em Hoyo Negro, vide link abaixo para a revista Science, reforçam a origem comum dos primeiros povos (norte) americanos. O DNA dessa menina de 13.000 anos (link abaixo, México) é o mesmo daqueles 'paleoamericanos' que migraram da Sibéria via estreito de Bering.

Confira: http://www.sciencemagazinedigital.org/sciencemagazine/16_may_2014?pg=16#pg16

DNA polinésio foi encontrado em crânios de índios brasileiros do século XIX , os botocudos (aimorés), não se podendo afirmar no momento se esse traço é recente, ou vindo das primeiras levas de homens pelo continente americano, por outra via que não a de Bering.

Confira: http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,indios-botocudos-de-minas-gerais-tem-dna-de-polinesios,1581622

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/07/1658455-historia-da-ocupacao-humana-das-americas-fica-cada-vez-mais-confusa.shtml

ATUALIZAÇÃO DE 07/06/2017, 'hominídeos há 300.000 anos' ??? ...
https://mobile.nytimes.com/2017/06/07/science/human-fossils-morocco.html

Por todo o continente Sul Americano, a presença de artefatos de características distintas daqueles observados mais ao norte, nos leva a crer que a chegada do homem por estas bandas pode ter acontecido em ondas sucessivas e independentes de ocupação, que não se limitaram ao episódio que deixou os rastros da cultura Clóvis. Controvérsias em torno de achados da arqueologia franco-brasileira no Piaui, com datações de até 26.000 anos para alguns sítios, começam a esmorecer. Para a brasileira Niede Guidon não há duvida de que a hipótese Clóvis como via unica de ocupação das Américas é ultrapassada, e que a chegada do Homo sapiens em terras hoje brasileiras se deu também via delta do Parnaíba, com africanos navegando incidentalmente rumo oeste, num mar 160 metros mais baixo que o atual, fugindo das secas que originaram os atuais desertos daquele continente, a 160 mil anos atrás.

Saiba mais: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/fim-da-controversia

Uma observação superficial da Dorsal Atlântica hoje (essa cordilheira submersa mais escura no mapa abaixo), nos leva a imaginar que uma navegação ou deriva como aquela aventada por Niede Guidon, tenha sido favorecida por mais ilhas alpondras na rota, com mais escalas e mais chances de sobrevivência. E mais: um pedaço de madeira lançado na Costa dos Esqueletos na Namíbia, se capturado pela corrente de Benguela, vai dar no Nordeste brasileiro em menos de 200 dias. Essa foi a grande sacada dos portugueses nas grandes navegações. Caravelas eram barcos que não orçavam, que não navegavam contra o vento. Só voltavam ao seu destino se fizessem rotas diferentes. O movimento circular das águas do Atlântico é o 'Grão Rodeio' dos 'Luziadas', de Camões, e foi a compreensão deste sistema que fazia os barcos voltarem à Europa, após cruzar o oceano.


Mas fato é que tanto na America do Norte quanto na América do Sul, o recuo das geleiras (12.000 anos) com a abertura para uma das mais importantes e consensuais levas da expansão humana pela última fronteira, as Américas, foi seguida por rápida extinção da megafauna, tanto nas Américas quanto na Austrália, e quase que simultaneamente.

Extinção tão rápida que parece até imprudente afirmar - excluindo-se fenômenos climáticos - que o que se deu foi mero 'overkill', matança, mas essa é a hipótese mais aceita: caçadores coletores experientes e 'plenamente humanos', acostumados com caça difícil no Norte, de repente se batem com 'dóceis gigantes', como o elefante sul americano ou Mastodonte, a preguiça gigante ou Megaterium, ou um tatu do tamanho de um fusca ou Gliptodonte, e deu no que deu.

Contudo, em Agosto de 2015 a revista Science publicou estudo definitivo contra a exclusão de fenômenos climáticos na extinção da megafauna. Picos de calor entre as glaciações teriam sido os principais atores no evento, confira:

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/08/1665114-homem-e-inocente-na-extincao-de-grandes-mamiferos-diz-estudo.shtml

Conheça os estranhíssimos 'ungulados', extintos na America do Sul à 10 -12 mil anos ...

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,pesquisa-desvenda-historia-evolutiva-de-mamiferos-inusitados,1653449




Travessia da Antártida sem qualquer tecnologia é algo impensável. Poderia aquele continente ter um dia apresentado outro clima, por estar posicionado de forma diferente da atual ? Schackleton, Scott e Nordensköld, informa Aníbal de Matos, 'acharam em suas explorações restos de carvão e de flora e fauna que provam que durante o terciário antigo se desfrutou aí de um clima sub-tropical, que apresentou afinidades com a America do Sul, sendo assim possível que no fim do Terciário e principio do Quaternário, pelo menos parte da Antártica fosse habitável ...' e em assim sendo, o transito entre australianos e a Patagônia / Terra do Fogo também seria viável, ainda mais com um nível de mar muito mais baixo que o atual, por ocasião da ultima glaciação.




Convém lembrar aqui que Austrália e Indonésia são áreas quase continuas, e mais ainda com nível de mar inferior ao atual, e que há nessa área (Indonésia), como já mencionamos acima, pinturas rupestres das mais antigas e refinadas que se conhece, datadas de pelo menos 39.900 anos, demonstrando que bem próximo da 'via Sul' / Patagônia, já havia gente (Homo sapiens) com aquela capacidade de abstração - e consequentemente de intelecto, e consequentemente de empreendedorismo - que nos define como humanos ....

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,arte-rupestre-surgiu-simultaneamente-na-asia-e-na-europa,1573700




Se há evidencia arqueológica confiável de progressão humana para America de Sul por essa via de acesso desconheço, contudo, a viabilidade teórica da 'via Sul' parece corroborar para a tese do 'overkill', dando substrato para se pensar no transito humano como fator preponderante para a extinção simultânea destes animais, em terras americanas e australianas.

Retornando ao Brasil central, pode-se dizer então com uma certa segurança, que entre 10 e 12 mil anos atrás, os primeiros homens que caminharam pelo cerrado brasileiro tiveram seu suprimento proteico drasticamente reduzido com a extinção da megafauna, e assim, por necessidade, houve progressivo avanço para o litoral através da floresta hostil, queimada em parte por técnicas de caça cujos vestígios podem ser datados em até 5800 anos, saldo de cerca de 400 gerações de manejadores do fogo.

O fogo abria o caminho para a captura da caça menor nas copas, e as cinzas ofereciam terra menos acida e mais fértil que aquela do planalto. Nesse enredo, o povo Guarani vindo do sul e costeiro, e o povo Tupi, vindo do planalto central, e outros menos numerosos, estabeleceram-se como sucessores, herança e herdeiros daqueles primeiros caçadores-coletores nômades que se espalharam da planície ao litoral Sul Americano, e ambos os povos, praticantes de um extrativismo de subsistência não conservacionista - a coivara* como simbolo - mas de baixa escala, tornam ilusória a noção de que as grandes navegações apresentaram aos europeus uma terra livre de intervenção, uma Mata Atlântica intocada.

* queima-se a mata, planta-se por dois ou três anos, queima-se nova área e segue-se adiante.













Um breve parenteses sobre uma tarde iluminada: finalmente consegui fotografar a caveira da criança que tanto impressionou meu filho Luca de 12 anos: um menino de 11.000 anos, 'Homem de Lagoa Santa', escavado por Castor Cartelle. Peguei um gancho durante a visitação provocando meu filho sobre como que este menino, como ele, também brincava e tinha sonhos, e na sequencia fomos ver fotos antigas dos primeiros alunos daquele colégio ... 'eram todos exatamente como você e Gabriel, mas já morreram, como o menino pré histórico', conversa calma e sem drama. Pedi então que Luquinha, se aproximasse das fotos e 'tentasse escutar' o que aqueles meninos falavam, nas fotos em preto e branco. Luca entrou na brincadeira, chegou perto do vidro e distraiu-se. Nesse momento cheguei por trás sorrateiro e sussurrei forte em seu ouvido:"CARPE DIEM". Ele se virou rápido com o susto, e sorrindo socou meu estômago. Havíamos assistido juntos "A sociedade dos poetas mortos" e ele se lembrava da cena antológica https://www.youtube.com/watch?v=veYR3ZC9wMQ  e o que veio a seguir foi sua conclusão espontânea sobre 'achar logo o que gosto de fazer na vida', e ser feliz, e só. Fomos então ver cenas de KOYAANISQATSI em exibição na biblioteca."Vida em desequilíbrio" ou "estado que pede mudança" http://www.youtube.com/watch?v=PirH8PADDgQ



Estendo-me um pouco mais aqui sobre as grandes navegações, em função da alta probabilidade de que o transito pela costa brasileira e o extrativismo europeu na Mata Atlântica tenham começado BEM ANTES de 1500.

À partir da incursão de Colombo no Caribe em 1492, toda a costa norte da America do Sul passou a ser explorada. Muito provavelmente Vespucio, Hojeda e Pinzon, da Espanha, aportaram no litoral Norte-Nordeste brasileiro por volta de 1496-1499. Antes de Cabral.

Indo ainda um pouco mais fundo, observa-se uma lei de D. Afonso V, de 1470 (Portugal) que incluía uma reserva de mercado de 'tintas brasil' no comercio com a costa da Africa. O pau brasil do litoral de Vera Cruz gerava a tintura vermelha mais cobiçada na época, a da nobreza, e baseado neste documento, entre outros, autores trazem o conhecimento da costa brasileira por parte de Portugal para por volta do ano de 1470.

Naquela época, navegar era segredo de estado. Nem espanhóis nem portugueses podiam abrir o jogo sobre o que conheciam, nem onde aportavam.

O tratado de Tordesilhas (1494) era uma 'bula papal', um meridiano da foz do Amazonas à foz do Prata, que dividia o mundo entre os dois países. Esquerda da linha (oeste), pertencente à Espanha, direita da linha (leste),  pertencente à Portugal: http://en.wikipedia.org/wiki/Treaty_of_Tordesillas


File:Spain and Portugal.png



Acontece que os navegadores daquelas épocas não conheciam LONGITUDE, só LATITUDE.

Latitude é o quanto se afasta da Linha do Equador, para norte ou sul, medida determinável com os recursos tecnológicos da época: a direção no mar era dada pela bussola ou marineta de forma imprecisa até o seculo XV, pois não se conhecia a declinação magnética, que é a variação em graus entre o norte geográfico ou verdadeiro, e o norte magnético. Com o 'quadrante', ancestral do sextante, podia-se medir a altura da passagem meridiana do sol, e com esse dado, chegava-se à latitude com precisão relativa. Longitude é o quanto em graus se afasta do meridiano de Greenwich, para leste ou oeste, e só pôde ser determinada com o cronometro marítimo, desenvolvido em 1782. Só se determinou o meridiano de Greenwich e as longitudes exatas a partir desta data. Ou seja, os navegadores não sabiam exatamente onde aportavam, e isto poderia custar-lhes a sua vida. Espanhol não pisava em reino português e vice versa. Então, muitos movimentos destes navegadores não eram explícitos.

Assim, estariam Vespúcio, Hojeda e Pinzon invadindo terra portuguesa quando aportaram na costa norte-nordeste do Brasil, bem antes de Cabral ? Muito provavelmente 'sim' na cabeça destes homens experientes, daí a pouca publicidade.

A longitude de Porto Seguro (Monte Pascoal) não era precisamente estimada. Creio que daí veio a cautela e malandragem de D. Manoel, de Portugal, ao dirigir-se aos "Reis Católicos" da Espanha, em 1501, em relato sobre a viagem do Cabral à Índias, logo após "achar" o Brasil. Nessa carta, D. Manoel cita "homens de quatro olhos" e "vacas com colares de ouro" no caminho da esquadra para Sofala e Calicute, e quase nada fala sobre a acidental descoberta do Brasil, aparentando intenção deliberada em desviar a atenção dos soberanos, provavelmente em função da incerteza quanto às coordenadas geográficas daquela Terra Brasilis.

Um dos piores trechos do mundo para a navegação, mesmo nos dias de  hoje e com barcos modernos, o Estreito de Magalhães, foi superado por Fernão de Magalhães em 1513. O estreito é uma estratégica passagem do Atlântico para o Pacífico, em águas argentinas e chilenas, evitando-se os perigos do Cabo Horn e do Mar de Drake, mais ao sul. Um dos sobreviventes da expedição de 1513, Pigafetta, anotou em seu diário que aquelas águas já tinham sido cartografadas por Martin Behaim, e que esta cartografia estava no "Tesouro do Rei de Portugal". Há estudos que apontam para a possibilidade de que Martin Behaim tenha navegado com Diôgo Cão pelo terrível Cabo das Tormentas, o atual "Cabo da Boa Esperança" no Sul da Africa, em 1484, ou seja, antes de Bartolomeu Dias, em 1488.

Pelo acima exposto, não resta dúvida de que o Atlântico era conhecido em detalhes pelos portugueses, sendo alvo de interesses estratégicos (como a via para o Pacífico), e não um mero entrave a se superar no caminho para as Índias. Nessa linha, o tal 'descobrimento' foi então mera formalidade, ou um ato de 'tomar posse', com um Portugal alarmado e respondendo aos espanhóis em sua exploração da região denominada 'Paria', atual Venezuela.

O fato é que do 'descobrimento' aos dias de hoje, 93% daquela cobertura original (de 8 a 28° de latitude sul) se perdeu. A mata que já não era 'original', à partir do seculo XVII passou por extrativismo escravista em larga escala - envolvendo índios inclusive - e assim, perdeu-se a possibilidade de entendimento daquele ambiente inóspito, que passou a representar não uma riqueza, mas um obstaculo à 'civilização'. A capoeira do Tupis acabou em solo arado, e em pasto. Vieram as capitanias hereditárias, a avidez pelo açúcar e a 'abertura de espaços' para a monocultura da cana. Outros espaços foram abertos para vilas e cidades, quando além da área de implantação em si, muita mata do entorno foi destruída por dificultar defesa de território. E veio a cultura do café, e a demanda do carvão para as forjas e de capim para os bois, as primeiras 'politicagens', como a Lei de Terras de 1850, que na pratica deserdava o pequeno proprietário e abria espaço para a onda de grilagem que viria à partir da Constituição de 1891. E veio o sistema de 'plantation', traduzido na Bahia como 'abertura de espaço' para o cacau.




À partir do inicio do seculo XX, crescia o conceito de insalubridade das matas, tidas como meros reservatórios de males, ou 'superabundância de supérfluos' e obstáculos à 'Ordem e Progresso' da onda industrialista. E veio a Aracruz e a industria da celulose, ávida por madeira de crescimento rápido, 'espaços foram abertos' para o eucalipto, e de repente o mangue já não era berçário, mas depósito de amônia, cloro, ácidos, morte. E quando em 1988 a Constituição declarou a Mata Atlântica como 'patrimônio nacional', já era tarde demais. Apesar dessa tragédia, remanescentes da mata no sul da Bahia ainda recebem empreendimentos imobiliários de porte, 'autorizados' - com qual autoridade moral não se sabe - em pleno 2014. Confira no exemplo abaixo, o possível sitio de implantação de um desse empreendimentos.

As coordenadas geográficas do Núcleo Serra Grande são: 14°24'59.47"S, e 39° 3'24.61"W. Estamos a 4 km exatos do mar, no rumo Leste. Entre o NSG e o mar, há mata primaria e secundaria antiga, e a foz do Rio Tijuípe, conhecida por Caranha. É um local onde cardumes enormes de robalos saem do mar e sobem o rio para desova. Impossível para mim pensar que esse local não contenha sambaquis, e isso por si só já seria motivo para sua preservação, mas algo impensável aconteceu recentemente.




























O que se vê acima é um casal de  mutuns-do-bico-vermelho, Crax blumenbachii, um dos animais mais ameaçados do planeta,  fotografados em 19 de abril deste ano  justo na área em questão. Estima-se em 250 (duzentos e cinquenta) o numero de indivíduos em vida livre na natureza.

Sequencia vertiginosa essa acima, e que me traz à mente Roberto Magalhães e o desconforto da sua tela "Baleias" ...





Quem são as "Baleias" ? Onde está mesmo o anormal, o estranho, o inusitado, o não humano em nós ?


Antes de seguir com a leitura, conheça em duas breves postagens um importantíssimo e pouco divulgado movimento expansionista brasileiro, a 'Marcha para Oeste', sob a ótica de todos os verdadeiros protagonistas: dos Jesuítas e o Marques de Pombal ao Anhanguera, dos Generais Gomes Carneiro e Couto Magalhães ao Marechal Rondon Rondon, e destes aos Irmãos Villas Boas e a Expedição Roncador-Xingu, nos links abaixo ...

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/03/marchando-para-oeste.html

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/surucucu-orlando-moral-e-misterios.html


O conceito de 'hotspot' é aquele de uma região unica em biodiversidade, mas devastada em 70% ou mais de sua vegetação original.  A Mata Atlântica é um dos 5 hotspots reconhecidos, que juntos, não cobrem mais que 1,4% da superfície terrestre. Isto posto, e considerando-se que 60% da população brasileira encontra-se abrigada na mesma área coberta por esta (s) floresta(s), fica a questão de como promover exploração sem devastação dos 7% que restaram.

Ilustro a seguir duas possibilidades de manejo sustentável - ambos em minha área de atuação, o sul da Bahia - homenageando simbolicamente dois precursores - Projeto ONÇA, de Carsten Bening, e Instituto Tibá, de Ernst Götsh - por tratarem-se de ações individuais, multiplicadoras e não oficiais.

Falar de Carsten e do Projeto Onça é falar dos 'Sistemas Agroflorestais' ou SAFs. O nome pomposo na verdade ilustra pratica ancestral entre agricultores familiares da região. Em meio à mata, e com a preocupação de alterar-se minimamente o solo, a água, o clima e a biodiversidade, o homem produz seu sustento.

'Corredor ecológico' é uma estrategia de manejo do remanescente de Mata Atlântica proposta pelo Ministério do Meio Ambiente em 2000, frente à tragedia que se configurava, a desertificação da área um dia ocupada pela floresta. Pega-se uma colcha de retalhos, e une-se as partes. Mapeiam-se ilhas verdes, e busca-se uni-las novamente. Um dos corredores em fase final de implementação é o Corredor Central da Mata Atlântica, que tem como seu limite norte o Vale do Jiquiriçá, Bahia, até o sul do Espirito Santo. O SAF é compatível com o esforço dos 'corredores ecológicos'.

Carsten, um jovem e idealista imigrante vindo da Alemanha, elegeu como area de sua atuação o Município de Taperoá - mais especificamente as comunidades rurais de Tanques, Santo Antonio, Rio Negro e Maribú - e em 1988 adquiriu uma fazenda na região. Como primeira providencia reativou a escola abandonada na propriedade - rebatizada Escola Rio Negro - e cujas primeiras turmas foram de adultos. Não era a escola rural que temos em mente, conhecedores que somos da realidade local, e do apreço do país como um todo pela educação. Mantida por um grupo articulado por Carsten, 'Amigos do Verde', foi possível trazer do Rio de Janeiro profissional para Coordenação Pedagógica, e formação continuada de professoras locais.

Em 19 de agosto de 1990 foi fundada a 'Associação de Moradores do Santo Antonio, Marimbu e Rio Negro', ou 'Organização Núcleo de Comunidades Agrícolas', de cujas iniciais surgiu o nome de fantasia ou sigla ONÇA, o 'Projeto Onça', que visitei em 1992, ocasião em que trabalhava como medico no Arquipélago de Tinharé. O objetivo dos associados, alunos e pais de alunos da Escola Rio Negro, era a promoção da condição de vida de cada um de seus membros: renda, saúde, segurança alimentar, moradia, saneamento básico. Paralelamente foi criada a 'Associação Mirim' - encarregada principalmente da manutenção da horta e da merenda escolar - com o objetivo de preparar sucessores para a direção da associação.

Essa famílias da associação, com grande grau de parentesco, iniciaram o povoamento da área em questão por volta de 1890. Praticava-se o extrativismo de subsistência e ao contrario do que se pode pensar - pelo fenômeno da 'aversão à floresta' - a vida era boa, ninguém passava fome, e com pouco dinheiro fazia-se muito. A privação gerava solidariedade, é o que informa 'os mais velhos', e por décadas e décadas assim foi.

Como que na esteira da herança dos primeiros habitantes, os Tupi, praticava-se tambem naqueles primórdios a 'coivara', abrindo espaço na mata a ferro e fogo para o plantio de mandioca. Cada área dessas produzia por não mais que 5 anos, e à sua exaustão era deixada 'capoeirando', ou rebrotando, por 10 ou mais anos, para posterior reutilização.

Devastação progressiva e insustentável sim, mas em nada comparada à implantação de certos projetos em áreas bem próximas, como a Sociedade Anonima Ituberá Comercio e Industria (SAIC), em 1950. Ligada ao Grupo Odebrecht, a SAIC foi responsável por gigantesca retirada de madeiras nobres da região: jacarandá, maçaranduba, aderno. louro-verdadeiro, sucupira e etc ... arvores e mais arvores centenárias serradas e escoadas por terra e mar, em escala industrial.

E assim, aos poucos, o caititu, a paca, o teiú, os vários tipos de tatu, o veado, a preguiça, o tamanduá, foram sumindo da mata e da mesa daqueles primeiros povoadores. O próprio plantio das lavouras temporárias (mandioca, arroz, feijão, milho, cana-de-açúcar, desde sempre) foi perdendo hegemonia com possibilidades outras de cultivo com a mata de pé, inspirados em parte pelos novos colonos japoneses do pós guerra e sua filosofia de plantio consorciado, ou seja, floresta com cacau (desde 1954), pimenta (desde 1970), cravo (década de 70), café (desde 1780), dendê, banana, seringa (desde 1954), piaçava (anos 40), urucum, pupunha, coco, acerola, graviola, cupuaçu, e entre 1971 e 1976, surge na área o GUARANÁ.

Foi no guaraná que Carsten enxergou a maior possibilidade de melhoria na vida daquelas pessoas, e em 1993 começou a incentivar sua produção orgânica (sem defensivos) nas propriedades, trazendo da Alemanha Burkhard Osterloh, que em reunião com os cooperados firmou compromisso de compra da produção. Somente 20 agricultores acreditaram nele, mas em 1994 ocorreu certificação pelo Instituto Biodinâmico, e realizada a primeira exportação. Em 10 de julho de 1994, com 21 agricultores, foi fundada a Cooperativa Agrícola Mista do Projeto Onça Ltda, com o objetivo de buscar melhor preço nessas exportações.

Lembro-me agora de "In cold  blood" (Truman Capote), quando o vizinho da família assassinada fala ao repórteres que "...sometimes a bad wind blows..."

Pondé, em "Contra um mundo melhor", fecha o texto 'Afrodite' da seguinte forma: "... não havia nenhuma razão especial para sua desgraça particular, a não ser a velha má sorte humana sobre a qual os gregos tão bem contam historias tristes. Simplesmente chegara a sua hora de ser sacrificado ao nada ..."

A vida de Carsten era Ana Luíza (abaixo, à esquerda) e a Mata Atlântica, quando do nada um vento ruim bateu.




Após abrir caminho de vida digna e futuro decente para toda uma geração, passou a ter alterações visuais e olfativas, uma convulsão e diagnostico de tumor cerebral. Faleceu em 1998.

Sua ausência levou o Projeto Onça a declínio, mas não ao fim. A cooperativa conta hoje com cerca de 50 associados, e as exportações seguem para França, Itália e Alemanha, atendendo também ao mercado interno http://www.sinfo-online.de/siegel.php#onca




Uma forma de manejo que não chega a ser contraponto ao SAF, mas distingue-se deste pela forma mais intima de inter-relacionamento dos cultivos com a floresta, são os 'Jardins Florestais' de Ernst Götsh

Suíço, autodidata, mudou-se para o Brasil em 1984 com o sonho de recuperar áreas degradadas, interagindo com a natureza de forma contraria à doma e ao utilitarismo tradicionais, onde sintonia e amor aos viventes ditariam as poucas regras. 'Praga' no contexto de Ernst é somente a ignorância. A expressão máxima da ignorância por sua vez é o uso do 'Round Up', herbicida consagrado no manejo nosso de cada dia. Pode parecer papo-cabeça anos 70, mas sua propriedade em Pirai do Norte é a prova viva da eficacia do discurso: “em vez de adaptar plantas às condições que oferecemos, tentar criar condições, ao cultivá-las, em que elas se sintam bem”.

Trata-se de propriedade de 600 hectares de terra inicialmente devastada, que foi deixada em repouso para recomposição natural, enquanto se incorporava à capoeira plantas nativas e exóticas, encorpando a vegetação - castanha do Pará, tomate, quiabo, cupuaçu, jaca, mandioca, palmito juçara, maçaranduba e varias outras especies - eram/são plantadas de forma consorciada, formando estratos agroflorestais em três níveis, o das grandes arvores (ex. massaranduba), aquele das plantas intermediárias (ex. palmito jussara), e o dos cultivos de solo (ex. quiabo).

Com a recuperação da mata, ocorreu o retorno da fauna, a formação de nascentes, o resfriamento local em até 5°C com relação à vizinhança. Fauna, ventos, pássaros, água, dispersores naturais de sementes. Pequenas mudas brotando por todo o lado, e sendo cuidadosamente replantadas por Ernst, pensando-se sempre na estratificação e na sucessão natural na floresta. Findos os ciclos fechados, arvores tombadas tem troncos cortados e dispostos bem junto ao chão, respeitando curvas de nível, retendo água, decompondo-se sob forma de biomassa. Nada jamais é queimado.

Ernst rejeita o titulo de SAF para sua pratica, por ver nele algo com ares de disciplina, ordenação, monotonia no  cultivo, que impediriam seu real 'casamento com a floresta'. Visto com louco no inicio, é hoje palestrante consagrado e disputado, inclusive na academia, onde formas menos agressivas de manejo em biomas ameaçados - como a Mata Atlântica - vem tomando o espaço nas discussões.

Mas para mim o mais impressionante aqui é o homem. Respeito e restauro meus próprios 4 hectares devastados pensando em seus métodos, mas quem povoa minha mente é a pessoa, que não tem vergonha de dizer que o caminho, na lavoura inclusive, é o amor incondicional. Que frente à grande onça preta próxima de comê-lo só conseguiu dizer 'como você é linda', para em seguida ser poupado por ela, identificado que foi como um vivente diferenciado, e sem medo.

Conheça Ernst, em breve introdução, abaixo







E mais aprofundadamente, em outros videos comentados, acompanhados de biografia e material técnico, em português e inglês: http://agendagotsch.com/about/

Essa é também uma postagem sobre Território de Lachesis. Frente à situação da Mata Atlântica fácil entender o risco de extinção da surucucu da Mata Atlântica, a 'pico-de-jaca'. Remeto-os à outra fala de Ernst, com e sem poesia: sim, por experiencia ele fala de botes saindo do chão e atingindo a altura do pescoço de um adulto, havendo contudo a possibilidade de coexistência pacifica, se usarmos nossa sensibilidade e bom senso.

 




Em terra de surucucu, quem anda na mata conversa pouco, e escuta muito. A detecção precoce do som registrado abaixo deve ser buscada nas incursões pela mata. 





Em terra de surucucu, olha-se para baixo e adiante, antes de se olhar para cima. Como curiosidade, teste-se dizendo rápido quantas surucucus há em seu caminho, abaixo ...






Quatro é a resposta, três bem visíveis, num ambiente limpo, e uma sob a bromélia...


                             


No ambiente preservado (se é que ainda existe fora das paginas de Von Martius), as dificuldades de visualização são ainda maiores - imobilidade confiando na camuflagem é o primeiro estágio defensivo de Lachesis - mas nada que não se resolva com mera concentração, visual e auditiva, à cada passo.  À noite, deve-se evitar território de Lachesis.

Von Martius, em 'Viagem pelo Brasil' Vol. 2, pg 72 da edição da Melhoramentos, relata o que se segue: "A noite desse dia, de tão tétricas impressões, ia ainda ser de mais horror. Apenas havíamos adormecido, fomos despertados por violentos estouros da fogueira e silvos singulares. Quando íamos saindo da cabana, com o fuzil na mão, o guia deteve-nos aterrado, e mostrou-nos uma enorme cobra, que, furiosa, dava pulos e voltas, procurando espalhar os tições acesos. Era uma 'surucucu', a mais possante entre as cobras venenosas do Brasil, e que, por essa particularidade, era duplamente temível à noite. Demos alguns tiros sobre o monstro; não ousamos, entretanto, ir atrás dele no escuro, depois que tudo sossegou"


Exagero ? Veja o relato do um nativo Joel, que provavelmente deu o azar de caminhar na direção de um 'combate de machos', na mata Atlântica do sul da Bahia, à noite, portando um 'candeeiro' caseiro (vi a peça) de grande porte, grande fonte térmica, que induziu comportamento defensivo de Lachesis, por desorientação termo-sensorial, que por muito pouco não terminou em tragédia.



                                



Hamilton (abaixo), também à noite na Mata Atlântica do sul da Bahia, foi derrubado de sua moto por uma surucucu, desorientada pela luz do veiculo.







Com Rosenvaldo e esposa, abaixo, tive a primeira advertência prática, real, dos ataques em sequencia de Lachesis, o 'ú ú ú' (ou 'bote bote bote') dos Tupi Gurani, que gerou o verbete 'surucucu' no dicionario Tupi Guarani/Português, de Silveira Bueno, traduzido por 'aquela que dá botes repetidos'







Confira também:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/07/apaga-fogo.html

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/surucucu-orlando-moral-e-misterios.html


























Relembrando, ao período geológico iniciado a 12 mil anos, com o final da última glaciação, dá-se o nome de Holoceno. Em 2000 Stoermer e Crutzen (Nobel de Química, 1995) sugeriram uma mudança: a ação humana no planeta à partir da Revolução Industrial, tendo como marco objetivo a invenção da maquina a vapor (1784), teve devastadora 'força geológica' no planeta criando uma paleontologia do capitalismo, e assim, estaríamos então vivendo num novo período, o Antropoceno, nome ainda não adotado oficialmente pela União Internacional de Ciências Geológicas, mas que está na pauta do encontro de 2016.

confira: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/12/1557775-antropoceno-a-escaldante-idade-do-homem.shtml

Em agosto deste ano, a agencia federal norte-americana NOOA divulgou que as ultimas temperaturas medias da superfície do planeta foram as mais altas desde o inicio da serie, em 1880.

O relatório 'Planeta Vivo' 2014 da WWF 2014, disponível para download gratuito aqui wwf.panda.org/lpr afirma, com metodologia cientifica impecável, que 'a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás' ...

Repetindo: 'a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás'


























Gostaria de concluir com o conceito Guarani da terra sem males: para esse povo o Tempo se apresentava em ciclos, dia/noite, plantar/colher, morrer/viver, mas havia também um outro Tempo, situado entre essa nossa vida do dia-a-dia, e uma 'vida original'. A esse Tempo divino davam o nome de 'arapyau onhemokandire'. A vida que levamos nessa Terra se renova com com o ciclo dos anos, mas somente se vivida numa ética apropriada, o 'mbyá reko', seria caminho para um 'futuro adiado' dos indivíduos numa 'terra sem males' fora do espaço-tempo, o Arapyau.

Mas pensar em mundos que não este nosso, aqui e agora, de repente perdeu todo e qualquer interesse. Só me interessa a 'terra sem males' que não deixaremos para nossos filhos e netos.

Confira: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/11/1551216-editorial-progresso-da-poluicao.shtml

Em um encontro recente no Rio (setembro de 2014), uma das palestrantes, Izabelle Stengers, falou da necessidade das ciências humanas se aliarem aos cientistas das mudanças climáticas, preparando a pessoa comum para compreender e 'resistir à barbárie que vem aí':

'... no futuro talvez sejamos confrontados por questionamentos similares aos dos jovens alemães nascidos no pós-guerra, quando descobriram os horrores do Holocausto: 'Vocês sabiam o que fizeram ?' ... 'Daqui a trinta ou quarenta anos seremos a geração mais odiada'

Bernardo Esteves (Revista Piauí, n° 97, outubro de 2014)






E como resistir à 'barbárie que vem por aí ?'  Educação para crianças num sentido amplo - ambiental e político inclusive - faz parte de qualquer começo.

Mas como falar a elas que o teórico das esquerdas contemporâneas, o comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937) prega a construção da “hegemonia”, que em ultima análise significa a substituição da sociedade por um partido, num movimento totalitário travestido de boas intenções humanistas ?

E seguir explicando que a guerra proposta por Gramsci é velada, valendo-se de atores insuspeitos, aparentemente apolíticos, que injetam aos poucos na mentalidade popular, e nelas, crianças, conceitos e palavras 'inocentes', que buscam mudar conceitos e condutas, e inibir dissidência. E quando se percebe, a liberdade está em risco.

Será que o cerco a "Caçadas de Pedrinho" e ao Houaiss - com acusações de racismo contra 'Tia Anastácia' e preconceito contra os ciganos -  poderia ajudar a apresentar à elas o Politicamente Correto, aquela parte do arsenal gramsciano que pretende delimitar quem é de um lado 'progressista', e de outro 'reacionário' ? E que esse Politicamente Correto delimita também quem é o 'nós', e quem é o 'eles', e que como o 'nós' (o partido dominante) está sempre na busca de 'uma sociedade mais justa e mais fraterna', os demais ou 'eles', representam as forças retrógradas, a serem identificadas, isoladas e eliminadas ?

E como explicar ao bom de coração que o 'sem terra' não é um sem terra, e que toda guerra é travada com soldados, e que no enredo em questão tropas fabulosas são obtidas nos 'movimentos sociais', financiados direta ou indiretamente com dinheiro publico, meros braços do partido hegemônico, podendo ser arregimentados, manipulados, mobilizados, de acordo com seus interesses ?

E como não subverter o que me é caro, como o principio da autoridade, ao tentar explicar-lhes uma outra vertente de soldados - fenômeno recente - certo Ministério Publico cuja atuação como 'agentes políticos' se baseia na livre interpretação da Constituição de 1988, em temas como 'função social social da terra', com consequente demonização institucional da propriedade, legal e produtiva inclusive ? Isso enquanto prevalece por toda parte o engodo da auto-declaração - quilombola, indígena, povo tradicional - sem uma validação isenta, mantidos com consequências trágicas dentro de áreas de preservação, ou expropriando com a ajuda oficial e a preço de nada terras trabalhadas por gerações, que hoje formam hordas de zumbis de mãos calejadas. Como explicar aos meus filhos autoridades plantando o caos ?






Uma mistura caótica pode resultar do choque da verdade histórica, com a verdade politicamente correta de um movimento social especifico. Como exemplo, não aceito premissas tidas como intocáveis pelo 'movimento negro' - como a tal dívida histórica - e desde muito cedo meus meninos sabem que somos humanos e só, e à partir do básico .... Sergio Pena:

"Há consenso entre antropologistas e geneticistas que do ponto de vista biológico, raças humanas não existem. Características físicas individuais, em especial cor da pele, cor do cabelo, textura do cabelo, forma dos lábios e nariz, são constantemente usados para categorização racial, contudo essas características são de baixíssimo peso genético, e surgiram como adaptação a fatores geográficos seletivos como radiação solar e calor, e como demarcação racial são um erro".

Passando pelo médico italiano Sforza, que ilustra abaixo esta 'adaptação a fatores geográficos seletivos' de que nos fala Dr. Sergio Pena:

"Os primeiros homens surgiram na África. Tinham a pele preta porque ela servia de proteção contra o sol equatorial. Os cabelos eram encarapinhados para reter o suor e esfriar a cabeça. Quando começamos a nos espalhar pelo mundo, 100 mil anos atrás, nossas características físicas foram se adaptando às novas condições climáticas. Quem se mudou para a Europa ficou com a pele branca para captar melhor os raios ultravioletas e suprir a carência de Vitamina D. Às narinas se estreitaram para aquecer o ar antes da chegada aos pulmões. Os que migraram para o Oriente ganharam dobras adiposas em volta dos olhos para se proteger dos gélidos ventos siberianos (o "olho puxado")..."

Quanto aos sempre duvidosos heróis, Leandro Narloch, a antítese da historiografia politicamente correta, comenta em 2009:

'Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo. Essa informação parece ofender algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou censurá-la, mas na verdade trata-se de um dado óbvio. É claro que Zumbi tinha escravos. Sabe-se muito pouco sobre ele - cogita-se até que o nome mais correto seja Zambi -, mas é certo que viveu no século 17. E quem viveu próximo do poder no século 17 tinha escravos, sobretudo quem liderava algum povo de influência africana' 

Olmos, em 2010 clarifica:

'Sociedades multiculturais onde os direitos são realmente iguais tendem a ser saudáveis, mas aquelas onde a questão étnica foi associada a direitos diferenciais caminham para o desastre e para conflitos fratricidas. Estes conflitos são alimentados pelos oportunistas de sempre e por aqueles que acham que os cidadãos de hoje lhes devem compensações por algo que aconteceu a seus ancestrais alguns séculos atrás, e para vender seu peixe seletivamente esquecem detalhes históricos inconvenientes atrás da cortina da retórica inflamada. Me sinto ofendido por aqueles que olham a cor da minha pele e a priori me consideram alguém que, se tem algo, foi porque explorou alguém que hoje está na miséria. Que convenientemente esquecem que a Palmares de Zumbi tinha escravos, que a campanha pela abolição da escravatura no Brasil mobilizou boa parcela da execrada população branca burguesa citadina, e que negros como Francisco “Chachá” Félix de Souza, os Dadás de Daomé, os Ogás de Benin e sem-número de microempresários de Gana a Angola enriqueceram vendendo seus “irmãos” aos portugueses (recomendo as obras magistrais de Alberto da Costa e Silva sobre o assunto). Variações de “meus ancestrais venderam os seus” são insultos não incomuns em partes da África. Há muito maniqueísmo e pouca fidelidade histórica na construção de mitos raciais que estamos vendo pipocar por aí. É melhor para a auto-estima ser descendente de quilombo do que descendente de senzala, mas isso não justifica torcer a História'


E MAIS, o escravismo do negro pelo negro como politica de estado e comercio exterior (1780-1820), documentalmente comprovada, pode ser acessada no link abaixo, com a correspondência entre Andadozan, Rei de Daome  e o príncipe regente D. João (chamado por Andadozan de 'meu mano'):

http://rhbn.com.br/secao/artigos/os-escravos-do-daome

http://www.scielo.br/pdf/afro/n47/a09n47.pdf

Diogo Mainardi, outro exponente 'deles', comenta o assunto da seguinte forma: "Quando se considera toda a historia da humanidade, os alemães são tão miscigenados quanto nós ... A luta contra o racismo não se dá glorificando a figura de Zumbi nos livros escolares, mas ensinando que os brancos são negros e os negros são brancos"

Laio monteiro Brandão, da Universidade Federal de Viçosa, resume:

'Neste ponto, a simples verdade ganha ares de politicamente incorreta, pois se convencionou conta-la de determinada maneira. Sem um mais fraco e um mais forte, opressor, o senso comum brasileiro perde sua sustentação. Perderia. Se dado maniqueísmo fosse rebatido e divulgado à altura - o que levaria demasiado tempo já que uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de poder ser mais breve do que a sua retificação. Ocorre que, como o volume dessa versão dos fatos predomina em relação a outra vertente, sua quase inocuidade acadêmica demandaria um esforço muito maior para que se equiparasse e desse ao debate histórico equidade em termos de discussão e relato dos fatos.

O fazer histórico convive hoje com o status de politicamente correto devido aos pequenos focos reparadores – como o citado - dos saltos e omissões cometidos ao longo dos tempos e à consulta às inúmeras fontes existentes solenemente ignoradas. Do contrário, seria apenas História.

Entretanto, há, sim, concepções opostas acerca do politicamente correto. Enquanto de um lado louva-se os esforços da inserção social, quebra de preconceitos e garantia de direitos, de outro vê-se a condenação das liberdades individuais, de um pastiche transmutado em luta de classes; da limitação do credo, da língua, da imposição semântica e empobrecimento da estética e até mesmo do fascismo social'


E assim 'o indivíduo verdadeiro sofre a perseguição mais descarada, porque ele sim vive a dureza de ter uma personalidade ativa e por isso mesmo acaba sendo um cético com relação às promessas de autonomia das massas' 

Pondé, 2012

Esqueceram de avisar aos amigos de fé, Luca e Ravena, Gabriel e 'Muskitu' ...





Educação passa por postura, por não dissimular, cabendo também ensinar às crianças o valor da linguagem, a correta aplicação das palavras. DUALIDADE É FATAL NA MENTE INFANTIL






Como já dito, a guerra gramsciana é velada, traiçoeira, e assim, o significado do que se diz é relativo no mundo Politicamente Correto. Fala-se por exemplo em 'afrodescendente' não para respeitar um negro, mas para jogar para a torcida, pois como sabemos afrodescendentes somos todos nós.

Do outro lado Graciliano Ramos, que nunca fez 'literatura engajada', e fica maior ainda em função disso. No mundo politicamente incorreto, onde as palavras não são dúbias e os sentidos não são ocultos, vale o seu manual:

'Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer'

Linhas Tortas, em 1962


Uma estrategia doméstica de resistência, seria então conduta reta, palavra reta, antecipando escolas aparelhadas, pondo em pauta qualquer coisa, qualquer deus, qualquer principio intocável, inadequado, politicamente incorreto, qualquer estimulo ao livre pensar.



               





Da 'resistência à barbárie' nasceu um lembrete para a posteridade http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/fundei-uma-religiao.html de tantas e saudosas rodadas politicamente incorretas, claro sempre esteve que no fundo, a escolha é sempre de cada um de nós, os cada vez mais raros, indivíduos humanos.












































Fotografia HANS SYLVESTER

 






28 comentários:

  1. Texto brilhante!
    Homenagens que emocionam...
    Perfeito.

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  2. Prezado sr Rodrigo , li algumas pastagens suas no blog e tenho algumas dúvidas quanto ao modo de vida das surucucus , se puder me esclarecer, agradeceria.
    Surucucu pode ser encontrada em árvores também ou só no solo?!
    O cuidado de escutar mais é para ouví-lá em caso de ataque?E se ela estiver silenciosa , pode atacar mesmo assim?
    Surucucu come bichos grandes ou os ataca só para defesa?Pode dar um bote de cima de uma árvore sem fazer ruídos?sensibilidade e bom senso são cuidados importantes , mas é se a cobra não estiver num bom dia , com fome ou outos problemas de surucucus, qual a medida correta de se fazer: correr?
    Não se mexer bruscamente?
    Obrigado p atenção

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    1. Grato pela visita, e vamos lá: surucucu, gênero Lachesis, não apresenta arborealidade em seu comportamento. O cuidado em escutar é porque quando ameaçada, que ela vibra a cauda contra o solo vigorosamente, fazendo barulho alto e tipico, para marcar presença. A cobra pode estar dormindo sobre o folhiço da mata e ser pisada sem ter acordado, e portanto sem tempo para promover o som que relato acima. Cobras venenosas em geral só atacam por defesa, ela não ganha nada perdendo seu veneno precioso num humano. Veneno serve para imobilizar, e digerir a presa. Surucucus não tem embocadura, e mesmo os maiores exemplares só comem bichos pequenos, como os ratos Oryzomis sp. de até 300 gramas. Ela não dá bote de cima da arvore, o bote no pescoço de uma adulto é saindo do chão, bote de mais de 1 1/2 de altura. Sensibilidade e bom senso é para estar atento na mata, e não chegar perto demais de um animal desses, para não despertar comportamentos defensivos. Bom senso pede que não se ande na floresta à noite, que se evite trilhas estreitas, que sempre se saiba onde está levando a mão e etc. No blog, na postagem 'Voce fala com cobra ?' no link abaixo http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2012/07/voce-fala-com-cobra.html voce escuta o tal som que ela emite para avisar de sua presença. Qualquer outra duvida, escreva. Abraço. R

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  3. José Geraldo do Couto10 de outubro de 2014 às 17:57

    Caro Rodrigo,
    Congratulou-o por texto bem escrito e com informações importantes sobre arqueologia dentre outros.
    O crânio de criança de 11.000 anos , faz parte do acervo de qual museu?!?
    Do Museu de Lagoa Santa em Minas Gerais?

    Como faço para conhecer este acervo ?
    Cordialmente ,
    José Geraldo

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    1. Caro José, o cranio da criança é doação de Castor Cartelle ao acervo do Colégio Loyola, em Belo Horizonte, onde ele lecionou por muitos anos. A peça está em exposição permanente na biblioteca. É ligar e agendar a visita.Também em Belo Horizonte, com acervo interessantíssimo em paleontologia e também organizado por Cartelle, existe o Museu de Historia Natural da Universidade Católica, em exposição permanente aberta ao publico. O museu de Lagoa Santa completa um belo final de semana. Grato pela visita. R

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  4. Texto complexo, perdi algo em algum momento.
    Cheguei agora no seu blog.
    Qual seria o Arapyau,conceito Guarani da Terra sem males ?

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    1. Grato pela visita Humberto. Para esse povo, a vida se alterna em ciclos, dia noite, claro escuro, morte vida, mas há um limbo com um tempo divino, fora do espço-tempo, o Arapyaú. Se vivida numa ética apropriada, nossa vida nos conduz a 'um destino adiado', numa 'terra sem males', no Arapyaú.

      Abraço,

      Rodrigo

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  5. ....clima e vegetação de desertos e savanas serão encontrados ao sul da Amazônia , as regiões de clima subtropical se transformarão em clima tropical.... " Carlos Nobre nas pág amarelas da Veja desta semana

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  6. Olá!
    Ótimo blog , informações pertinentes ,postagens elucidativas e relevantes.
    Seu texto flui bem circulando entre tão variados assuntos , mas no final todos estão interligados na Mata Atlântica o lar da Lachesis .
    Por falar nelas , aquelas 7 sadias , lindas, dóceis , fortes , são algumas das mesmas da foto do perfil do blog dentro de uma caixa saindo pelos seus braços?
    Quantas vocês possuem no plantel atualmente?!
    Estão se reproduzindo normalmente?!,
    Cordialmente ,
    Belizario Albuquerque -

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  7. Grato pela visita e pela força Belizario, e sim, 4 daquelas adultas de 'Caá-été' são filhotes de 2007, da pagina de abertura do blog, e que agora alcançam a maturidade plena de forma impressionante. Há nessa imagem a mais pesada Lachesis de que tenho noticia, 14 kg, e não é animal obeso. Reprodução deste gênero é sempre desafio, e não se pode dizer que esteja plenamente dominada. Abraço,

    R

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  8. Pela foto postada com várias (acho que 6 ) cobras juntas , foto de 17/10/2014, percebe-se tons diferentes nas peles das cobras.
    Umas mais alaranjadas outras mais perto do tom bege.
    O que produz está diferença de tonalidade ?!?
    Idade, sexo, época de troca de pele?!?

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    1. Grato pela visita, e veja que em 2011 já abordávamos esse tema da sua pergunta, a da dupla folidose no sul da Bahia, confira no link:

      http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/07/apaga-fogo.html

      existem sim DUAS surucucus no sul baiano, uma chamada de 'amarela', mais clara, e outra chamada 'apaga-fogo', mais avermelhada e de pior reputação (agressividade).

      Abraço,

      R

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    2. Quando você se refere a agressividade mais acentuada na " Cospe fogo" , tem a ver com a toxidade do veneno, com o número de casos de ataque , ou com a forma de ataque ?
      Agradeço a atenção .
      Sou um curioso à respeito de cobras e gosto muito de conversar com quem tem grande conhecimento sobre o assunto.
      Abraçao
      Paulo de Tarso - Sorocaba

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    3. Oi Paulo, grato pela visita, e a reputação da variedade mais escura é popular, pessoalmente não confirmo 'agressividade', mas aparentam sim um pouco mais de agilidade. Desconheço esse nome 'cospe-fogo', aqui e em outras localidades é mesmo 'apaga-fogo', numa alusão á real possibilidade destes animais se aproximarem de alguém portando fonte térmica (candeeiro), na mata, á noite, e eventualmente por desorientação termo-sensorial desferir botes contra esse objeto, apagando o candeeiro, 'apaga-fogo'.
      Abraço,
      R

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  9. A apaga fogo pelo q entendi, ataca focos de luz e calor e a amarela , tbm?

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  10. Oi Rodrigo ,
    O melhor dos posts.
    Relato do encontro com as surucucus , fotos show de bola(em off : gata a morena da foto )
    Mandou bem em tudo !
    Faça outros neste nível de qualidade.
    Abração
    Jeffito

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    1. Grato pela visita Jeffito, e desculpe o vacilo, era pra ser em off seu comentario mas escapou, e veja abaixo que 'a morena' gostou. E sim, vamos tentar sempre melhorar o nível das postagens, por necessidade interna minha, e pra que voce volte. Abraço, R

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  11. A Rede Globo está mostrando no programa Fantástico aos domingos " A fantástica viagem da vida" , tão bom quanto este seu link !
    Parece que o assunto inspirou muita gente competente a apresentar brilhantes textos e imagens idem .

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  12. Comecei por aqui e fui parar numa viagem alucinante entre cobras e graviolas nas trilhas do Caraça . Show , valew, gostei do blog

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  13. Muito grato pela visita, tenho ferramentas e pude acompanhar sua curiosa visita, Cancer, Toxicon, Vacas em Fuga, Caraça ... postagens que pessoalmente gosto muito, e pelo seu enorme respeito ao meu mundo, a vontade é de lapidar. Abração, Rodrigo

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  14. Não abre dois vídeos do Ernest , fica tela inicial a segunda com o nome da Fazenda Águas Claras e o primeiro o antes dessa...rs

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  15. testei agora, 17:21 e abriram, reveja ai por favor, são fundamentais, e estão tambem nas primeiras postagens de nosso facebook, grato pelo retorno

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  16. agora abriu. um quase Google de informações sobre a Mata Atlantica . Vou demorar para ler tudo.

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  17. textos grandes e complexos funcionam bem no facebook?

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    1. acho que não, mas pode ser util a uns poucos, adorei escrever, deu muito trabalho e abriu a cabeça

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  18. Se o Carsten ainda estivesse por aqui , com certeza seria seu admirador, no mínimo. Acho que seria seu novo velho amigo de mtos anos...
    Lembrancas que emocionam sempre.
    Adoro este texto , fotos lindíssimas , a Mata Atlântica desbravada desde tempos remotos .
    Completa viagem do início ao final
    Parabéns mais uma vez . Leio sempre que posso

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  19. Muito bom , reflorestar pelo método ERnest é mto bom sim.REFLORESTAR é o que vale
    R.L

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