Há quase sempre muita dificuldade em se definir, sem a tecnologia de testes como ELISA, o agente exato causador de acidentes ofídicos.
Acidentes laquéticos podem apresentar algumas peculiaridades ao exame físico, que auxiliarão no diagnóstico etiológico do acidente.
Lembrar já de inicio que se trata de bicho poderoso, segunda maior cobra venenosa do planeta, uma HIGH STRIKER ('bote alto'). Abaixo dois indivíduos ultrapassando os 2,80 metros, da região de Itacaré, Bahia.
Picadas acima da linha do joelho, e com espaçamento entre presas incomum, são a norma.
Espaçamento de 4 cm entre presas, em picada na cabeça, acima, e de 6 cm na face posterior do joelho (setas pretas), 6 cm em antebraço, abaixo...
A título de curiosidade, espaço entre presas de 3,5 cm em picada de cascavel indica animal raro e gigantesco, acima dos 1,60 metros.
Hemorragia profusa no local da picada de surucucu é comum e indica caso grave ...
No acidente laquético a dor local após inoculação é intensa e é grande parâmetro medico: se está doendo muito, repercussão cardiovascular na forma de hipotensão e bradicardia estão a caminho.
Socorristas devem se preparar antes de tudo para evitar queda da pressão (e estado de choque), ou bradicardia excessiva (e parada cardíaca), com infusão precoce de soro fisiológico e uso de atropina. Presenciei pressão arterial de 60 x 40 mm Hg em 20 minutos de evolução da picada, com frequência cardíaca de 50 bpm, e caindo.
Característica do acidente laquético grave no Brasil é a chamada 'tríade vagal': 1) hipotensão e bradicardia 2) vômitos e dor abdominal 3) diarreia. Contudo, estes sinais e sintomas podem estar ausentes e ainda assim o caso evoluir mal.
Pacientes também falam que 'não conseguem engolir', logo aos primeiros 10 minutos da picada, sendo esta possivelmente uma expressão de neuro-toxicidade direta, com bloqueio da musculatura laríngea. Incapacidade de engolir é portanto sinal de alerta para os socorristas: houve inoculação e o efeito do veneno está em curso no organismo.
Edema (inchaço) não é extremo no acidente laquético no Brasil, mas vai ocorrer, e em tratamentos tardios, comuns nas vastidões amazônicas, pode ser devastador. Vide imagem abaixo, evolução de 24 hs, soro na primeira hora do acidente.
Atenção para complicações tardias, como trombose mesentérica (abdome agudo) ou alterações na marcha, com vômito e cefaleia persistente, e progressivo rebaixamento do sensório (confusão mental), sintomas que podem indicar AVE (o 'derrame') em curso, como os das tomografias abaixo, atendidos pelo Neuro-Cirurgião Eric Jennings, em Santarém
AVE em acidente laquetico, 24 hs de evolução, fatal |
AVE em acidente laquético, quinto da de evolução, operado com sucesso |
Picadas em áreas de alta adiposidade, como abdome a nádegas podem ser especialmente enganadoras com sinais e sintomas surgindo tardiamente.
A gravidade do acidente laquético não é dose-dependente. Ao contrário do acidente botrópico, onde acidente com animal maior é igual à mais inoculação e acidentes mais graves, em relação às surucucus, acidentes com baixa inoculação, envolvendo filhotes, ou inoculação com uma só presa, ou 'raspadas' como a da foto abaixo podem, ainda assim, evoluir mal muito rapidamente.
PARA SABER MAIS, acompanhando um acidente laquético minuto a minuto, favor acessar:
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol42Num7pp105-115%282007%29.pdf
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/rmna.doc.pdf
Caso quase fatal de Dean Ripa:
http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/10/os-primeiros-10-minutos.html
Um caso envolvendo criança, com choque em 30 minutos, e morte em 90 minutos:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/sobre-o-tamanho-verdadeiro-de-lachesis.html
Acidentados que sobreviveram para contar, os casos Rosenvaldo e Tureba:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/03/a-surucucu-e-super-
companheira-eu-e-meu.html
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/05/matrix-sincronicidade-e-sorte-na-vida.html