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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobre os pecados da lida





Avalie o vídeo abaixo, com poucos segundos. Um homem de experiencia prática na mata, e maior reconstrutor de florestas da Bahia, Ernst Goetsch, fala sobre a altura do bote das surucucus, o que ilustra bem o que tenho dito sobre elas: é muito músculo para pouca estrutura osteo-tendinosa. Essa força pode se voltar contra o próprio animal em determinadas situações.






Tenho batido na tecla. A longevidade de plantéis do gênero Lachesis é diretamente relacionada ao quanto os mantenedores evitam a imobilização de sua porção cervical.

Meu manejo, que também não recomendo porque exige grande experiencia prática, nasceu como contraponto ao manejo com laço, que os papas da academia, antagonistas desde sempre do NSG, preconizavam como regra.

Avalie nos primeiros minutos do vídeo abaixo o porque dos planteis zerados em Lachesis no Butantã, naqueles idos de 2001-2007, apesar das centenas e centenas de recebimentos ao longo de todo o século XX até os dias de hoje.

Confira, é vídeo pesado, demora um pouco para carregar:

http://www.lachesisbrasil.com.br/documentario.html


Matavam seus animais com o laço e o foco exclusivo 'no veneno', e partiam para cima do Núcleo Serra Grande, sem sucesso, para zerar o déficit. Não buscaram construir pontes e parcerias.

Além do uso do laço, no vídeo acima ocorre outro pecado capital no manejo do gênero: a lida em área com pouco espaço. Se no momento em que se fecha a caixa plástica para a pesagem do animal ele se safa em fuga incontrolável, como já vi ocorrer em Serra Grande dezenas de vezes, alcançando o interior de um recinto minimo e repleto de gente, as consequências seriam imprevisíveis.

Confira aqui no blog e nas publicações de Serra Grande, 'a questão do espaço':

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2014/02/a-questao-do-espaco.html

http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol41Num4pp65-68%282006%29.pdf


Para sexagem e remoção de ectoparasitas, microchipagem e outros pequenos procedimentos pode-se conter o animal sem imobilizar a porção cervical. Não tínhamos ajudantes quando começamos, e em função da necessidade de executar procedimentos sozinho e sem imobilizar a região cervical do animal, criamos o Bushamp. Um aparelho barato, básico e fundamental à qualquer serviço que lide com o gênero.

Conheça o Bushamp aqui no blog:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/06/o-bushamp.html


Caso seja necessária a imobilização da porção cervical da surucucu, em procedimentos como extrações, alimentação forçada, e vermifugação, a técnica de contenção manual também tem especificidades, e ninguém melhor que Mestre Abade para ensinar. Confira com meu Professor como se evitar o 'giro da morte'.









Aqueles que contam com anestésicos para a lida, também terão a longevidade de seus plantéis comprometida, e assim, pensando no melhor interesse do animal, é prudente que se dominem as técnicas supra citadas, e também o 'manejo móvel', que é quando conduzimos as surucucus de um recinto a outro, sem tocar a porção cervical. É o sereno manejo livre de Abade, abaixo, num registro meu de 2006.






Se não observadas estas advertências quanto à fragilidade da porção cervical de Lachesis, mais cedo ou mais tarde o tratador enfrentará as consequências de seus atos sob a forma de lesões incapacitantes ou fatais, nem sempre muito claras aos pouco experientes.

Observe abaixo que essa surucucu 'arqueia-se' sobre o pote d'agua, e não é assim que as serpentes ingerem liquido ...






Observe também, abaixo, o giro da cabeça em relação à porção cervical, e a falsa posição de repouso, na verdade uma incapacitação aguda de se manter o tônus muscular.






E também ondulações atípicas nos primeiros 20 cm após a cabeça e ao longo da coluna cervical, no ponto onde foi encaixado o laço nesse animal claramente amazônico, com arabesco de cabeça muito menos demarcado que aquele dos animais da costa leste.






Lachesis saudáveis se 'encolhem' de forma tipica quando expostas á luz na abertura da caixa, ou ao sentir a proximidade da fonte térmica. Confira abaixo a posição natural de alerta, que o animal acima é incapaz de assumir.




























Ainda assim existe esperança de recuperação. Lesão medular completa, como as que ocorrem às centenas nestes resgates amazônicos, quando do alagamento de barragens e onde laço é norma, produz morte em 24-48 horas. O animal das fotos superou este período critico.

Lesões cervicais subtotais, aparentemente o caso retratado, podem responder ao tempo, deixando-se o animal calmo em ambiente espaçoso e sombreado, para que a própria movimentação atue como fisioterapia.

A partir da terceira semana do acidente, quando eventuais lesões ósseas já tenham se consolidado, pode-se iniciar a oferta de ratos abatidos, e avaliar se será ou não o caso de alimentação forçada.