Postagem em destaque

INDICE AO BLOG NSG E À BIBLIOTECA VIRTUAL LACHESISBRASIL BASEADO EM BUSCAS ESPECÍFICAS

OBSERVE POR FAVOR QUE A MAIORIA DOS LINKS SÃO AUTO EXPLICATIVOS, E CONTÉM INDICAÇÃO DE CONTEÚDO ANTES MESMO DE SUA ABERTURA: 1) SOBRE ...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Marcha para Oeste, precursores




À leitura do post sobre os Irmãos Villas Boas fica a impressão de que a "Marcha para Oeste" foi um evento único em nossa historia, e que os Villas Boas foram os precursores daquela rota, pensada à partir do "Estado Novo" de Vargas e sua politica integracionista.

Nas palavras do próprio Getúlio, em 1937*:

"A civilização brasileira mercê dos fatores geográficos, estendeu-se no sentido da longitude, ocupando o vasto litoral, onde se localizaram os centros principais de atividade, riqueza e vida. Mais do que uma simples imagem, é uma realidade urgente e necessária galgar a montanha, transpor os planaltos e expandir-nos no sentido das latitudes. Retomando a trilha dos pioneiros que plantaram no coração do Continente, em vigorosa e épica arrancada, os marcos das fronteiras territoriais, precisamos de novo suprimir obstáculos, encurtar distâncias, abrir caminhos e estender fronteiras econômicas, consolidando, definitivamente, os alicerces da Nação. O verdadeiro sentido de brasilidade é a Marcha para o Oeste*. No século XVIII, de lá jorrou o caudal de ouro que transbordou na Europa e fez da América o Continente das cobiças e tentativas aventurosas. E lá teremos de ir buscar: — dos vales férteis e vastos, o produto das culturas variadas e fartas; das entranhas da terra, o metal, com que forjar os instrumentos da nossa defesa e do nosso progresso industrial".

* em 1941, Bernardo Sayão aceita de Vargas o convite para comandar a Colonia Agrícola de Goiás 


Na verdade pode-se traçar as raízes da Marcha para Oeste aos jesuítas, co-artífices da colonização sul-americana, e ao Marques de Pombal (1699-1782), visto que ambos, jesuítas e marquês, sonhavam com a LIGAÇÃO DA BACIA DO PRATA COM A AMAZÔNICA, num grande e pioneiro insight de integração nacional.

Avançando na historia, impossível falar de "'Marcha para Oeste" sem citar COUTO DE MAGALHÃES (1837-1898).





Sujeito interessante o Sr. Couto. Tinha um mote existencial assumido: "Amar e pensar e viver com rapidez". E foi o que de fato ele fez com seu tempo de existência.

Em 1847, os 10 anos de idade ingressava no seminário do Caraça, Minas Gerais, para de lá sair com preparo suficiente e ofertas oficiais para assumir cargos que hoje corresponderiam ao de um Governador de Estado. Isso antes dos 25 anos de idade.

Couto quis o Oeste e sonhava com com a integração da Foz do Amazonas com a Foz do Prata, via Rio Araguaia, mas respeitando o índio, e parte de sua obra literária não deixa duvidas quanto a isso: "Relatórios dos negócios e navegação do Araguaia: 18 mil milhas no interior do Brasil" (1872), "Viagem ao Araguaia, Goiás" (1863), "Ensaio de Antropologia" (1876) e "Gramatica Tupi, família e religião entre os selvagens" (1874).

Este FITZCARRALDO - http://www.youtube.com/watch?v=F53yUsgVuL0 - nos idos de 1868, transportou um navio desmontado em 16 carros de boi, do Rio Paraguai até o Araguaia. Foram 400 km abrindo picadas em área habitada e pertencente a não menos que vinte tribos potencialmente hostis, com memória ancestral de escaramuças com os Bandeirantes, mas sob o pulso firme de Couto de Magalhães não houve confronto, e em 26 de maio de 1868 o primeiro navio flutuou no Araguaia.




O Marechal Rondon mereceria um capitulo à parte. O presidente Afonso Arinos (1905-1990) denominou-o "o precursor da Marcha para Oeste". Pelo acima exposto, discordo.

Em 1865 Solano Lópes invadiu o Mato Grosso. Iniciava-se a Guerra do Paraguai. Só para se ter uma ideia das dificuldades de terreno à época, as tropas que saíram de São Paulo para o revide, marchando para oeste, levaram hum ano para chegar a Nioaque, e metade do efetivo morreu pelo caminho.

O envio de tropas em si foi tardio, pois não haviam comunicações na região, a não ser por cartas pessoais, que poderiam levar seis meses ou mais para chegar ao destinatário nas regiões Sul-Sudeste, se chegassem.

Nesse contexto, das comunicações como segurança nacional, foi criada a 'Comissão de Construtores da Linha Telegráfica Cuiabá-Araguaia', liderada pelo Major Gomes Carneiro. Cândido Mariano da Silva Rondon foi nomeado membro em 23 de dezembro de 1889, como 'alferes-aluno'.

De 1890 a 91 a comissão instalou 583 km de linha telegráfica sobre os 600 km da via Anhanguera, dos Bandeirantes. 400 km deste trecho invadia território dos Bororos do Leste, hostis, mas que foram firmemente protegidos por Rondon, que aprendera com Gomes Carneiro, em suas próprias palavras, a 'ser soldado e amar o índio'.

Em 30 de abril de 1891 Gomes Carneiro volta ao Rio de Janeiro, passando a Rondon a chefia da comissão. A "Comissão Rondon" seguiu então com o trabalho de implantação da linha telegráfica  mas com a ideia fixa de não hostilizar os índios, considerados sem demagogia, como 'os verdadeiros donos da terra'.

A campanha durou 70 meses. De primeiro de Outubro de 1900, a primeiro de janeiro de 1906. 1746 km de linha telegráfica instaladas, com dezesseis estações e oito casas.






De prático, a fronteira do Paraguai estava ligada a Cuiabá, e esta ao Rio de Janeiro. A fronteira da Bolívia estava ligada a Corumbá. Foram feitos 4.000 km de reconhecimento, em 600 explorações.






O presidente Roosevelt cunhou a seguinte frase a respeito de Rondon: "A America pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte o Canal de Panamá, ao Sul, o trabalho de Rondon, cientifico, prático e humanitário".

Seu nome encontra-se cunhado em letras de ouro na New York Geographical Society, ao lado dos nomes de AMUNDSEN, PEARY, CHARCOT e BIRD, com a inscrição: "o explorador que mais avançou em terras tropicais".

Concluindo, dos jesuítas e Pombal ao Anhanguera*, de Couto Guimarães e Gomes Carneiro a Rondon, e destes aos Irmãos Villas Boas, ou seja, com múltiplos protagonistas, deu-se enfim a nossa "Marcha para Oeste": reconhecimento do inóspito Noroeste brasileiro, 100% território de Lachesis.

* "Coisa Ruim", em Tupi

A fonte primária da biografia de Rondon é ele mesmo, que perto da morte ditou "Rondon conta sua vida", a Ester Viveiros.


Sobre os Villas Boas e a Expedição Roncador-Xingu, confira:

http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/01/surucucu-orlando-moral-e-misterios.html







Um comentário: