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sábado, 20 de agosto de 2011

Leitor do blog comenta e pergunta sobre os "Sete Picos"



A postagem sobre o Inficcionado tem sido a mais lida dos últimos 30 dias, para minha grande surpresa. Este é um blog sobre cobras e coisas da vida, e pela primeira vez, as coisas da vida atraíram mais atenção que as cobras em sí. Mal postei hoje pela manhã o relato sobre o Pico do Canjerana, e já recebi um retorno interessante do Haroldo, que conhece o Caraça, e que comento a seguir.

Caro Haroldo, a subida destes picos não é excursão de CVC. Meus filhos sempre tem coleguinhas em suas atividades, mas nestas escaladas estes amiguinhos não são cogitados, pois há riscos concretos aos quais não posso expor filhos de terceiros. A beleza do que encontramos e vivenciamos gera leveza aos posts sobre os picos, mas não tenha ilusões, teve lágrima tanto no Inficcionado quanto no Canjerana.

A região dos Sete Picos na Serra do Espinhaço Caracence é território de cascavel, de onça, de possível queda livre de centenas de metros, de hipotermia, fraturas, torções, insolação, ataque de abelhas, colapso psicológico etc. Há vários casos de triste lembrança que prefiro não comentar. É OBRIGAÇÃO de quem planeja um incursão destas, PROTEGER sua família ou grupo, com TODOS os recursos possíveis para que a aventura seja realmente um passeio inesquecível, como foi este meu Dia dos Pais de 14/08/2011, dia da escalada do Canjerana: ninguém sequer se lembrou, literalmente, do ritual comercial jeca dos presentes e shoppings, dos votos disso e daquilo, do abraço forçado. Meu presentaço foi ver raça e superação do pequeno grupo formado por minha mulher e dois filhos de 8 e 11 anos, sob Mestre João.

Grande parte desta proteção a que me refiro vem do estudo da meteorologia local. Até fim de Outubro pretendemos fazer outros dois picos. De novembro em diante, pausa. Época de chuva, raio, escorregões de consequência imprevisível. Há um site hol andes que fornece dados precisos sobre o sistema barométrico sobre o Caraça, mas acima de qualquer ciência está a sabedoria de gente como João Júlio e Neneco. Se eles falam que a época tal não é boa, esqueça o programa. Se sentirem alguém do grupo como não apto (fisicamente) ao programa, adie ou mude a rota.

João Júlio é o Guia mais antigo no Caraça, com 43 anos de experiencia, Neneco vem logo na rabeira. São irmãos de fé e oficio. São amigos. Estão sempre se checando no rádio durante as incursões. Um é capaz de largar tudo para subir um penhasco levando uma bota nova para membro da equipe do outro. E sem esperar dinheiro por isso. Em caso de acidente grave então, mobilizam-se como feras, não largando da vitima e protegendo-a da desidratação e hipotermia, até que um helicóptero ou Bombeiros façam o resgate.

E assim pergunto-lhe caro Haroldo, no caso de uma perna quebrada, ou de uma picada de cascavel, com problemas de comunicação por celular ou radio (muito comum nas montanhas) você estaria apto a remover aquele do seu grupo que em tese estaria sob sua proteção ? Eu me considero experiente nas coisas da mata, da montanha e do mar, poderia remover sim qualquer um da minha família na base da força física, mas se fosse eu o acidentado, estaríamos ferrados. Não escalarei sem João Julio ou Neneco, e ponto final. Não só porque esta é a LEI naquela propriedade particular, mas porque fui convencido, na pratica, que meu ego-de-merda poderia complicar a minha vida, e pior, a de terceiros, caso a Lei de Murphy entre em ação.


Ana buscando fauna com binóculos no Canjerana, enquanto João Julio observa o penhasco

Avalie se não há em voce, como havia em mim, um certo orgulho, e também preconceito contra a figura do Guia. Orgulho naquele sentido de que "sou capaz de fazer sozinho sem babá". E preconceito por achar que Guia é sempre aquele sujeito insuportável, verborrágico, sem noção, que tira a intimidade e atrapalha na privacidade.

O grande segredo da estratégia do 'Sete Picos' com minha família, um grupo de força física limitada, é evitar correria. Um grupo forte pode sair 3-4 hs da madrugada, subir o Inficcionado e estar de volta ao escurecer. Não é nosso caso. Além de correria já ser o que vivenciamos na cidade, as limitações naturais do grupo exigem o pernoite. Na noite no Inficcionado nem ví João Julio, dormiu na caverninha, onde Bibo e Luca se encontram abaixo:






Na noite do Canjerana ficamos trocando idéias até as 20 hs e depois cada um foi para sua toca. Tenho um apito muito forte que aciono se houver um grande problema em curso, e temos os rádios, nem sempre confiáveis. Não há embolação, interferência na experiencia familiar, nos desejados silêncios. Tanto João Julio quanto Neneco tem classe e percepção. E assim, o preconceito do Guia inconveniente está eliminado da minha cabeça. João tornou-se um amigo e uma fonte inesgotável de sabedoria de campo, que anseio para escutar de novo.

RESUMINDO Haroldo, os riscos calculados aos quais exponho minha família sozinho na região do Caraça, resumem-se aos passeios noturnos (vários), que ninguém faz, diga-se de passagem. A suçuarana foi recente e lindamente fotografada nos Campos de Fora. Em função das onças, o maior conhecedor da Reserva e maior Naturalista em atividade do Caraça, Padre. Lauro Palú, não anda mais sozinho de dia, nem nas proximidades do Santuário. Já vi cascavel e jararacas nas trilhas, já estive muito perto dos lobos, sei o que estou fazendo nessas incursões noturnas e me garanto, sozinho ou em família, mas 'Sete Picos sozinho', não.

Confira:  http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/01/caminhadas-noturnas-suzuki-e-o-curral.html




Luquinha e Bibo com Bothrops neuwiied, no Tanque, Caraça. Abaixo, duas grandes cascavéis cruzando no segundo plateau do Inficcionado, num registro do amigo Leonardo.








Concluo com dois telefones que podem salvar sua vida: JOÃO JULIO celular 031 96798965 e casa 031 32321889, NENECO celular 031 99699607. Não importa seu talento, pensando no grupo, antecipe-se (com aliados) à cascata de problemas que podem facilmente nos sobrepujar.


LEIA TAMBÉM:


http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/11/os-sete-picos-do-caraca.html





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