Fim de junho no Brasil, a 2069 mts de altitude.
Às 17 hs no cume do Pico do Inficcionado, nosso termometro marcava sete graus Celcius. Quando escureceu lemos cinco graus. Quando o vento entrou forte às 3 da madrugada e saí para conferir as estacas da barraca, o termometro indicava três graus. Quando sai da barraca por volta das 6:30 da manhã havia orvalho congelado sobre parte do equipamento que dormiu ao relento, indicando que haviamos chegado ao zero grau, numa noite sem umidade.
Monitorei meus filhos a noite toda, nem um tremorzinho, não tomaram conhecimento da temperatura, que já tinhamos antecipado. Estavamos preparados.
O dificil aqui é fugir dos chavões, de todos os adjetivos e superlativos para definir o Inficcionado, da sua beleza ao preço fisico que é cobrado dos escaladores. Deixarei esta parte para as imagens em si.
Cume do Inficcionado coberto de nuvens na manhã da escalada. Vencido o trabalho vertical, Leões da Montanha na toca. Noite chegando gelada, junto com minha maior preocupação.
Foram sete horas até o cume. Montamos o acampamento rápido antevendo a noite dura. Água historicamente congela em canos do Santuário nesta época. O objeto em frente à barraca na foto com fogueira em primeiro plano é um aquecedor à gás Jackwall. Pe. Lauro Palú, o homem que mais conhece a região, previu possibilidade de hipotermia (morte) num pernoite naquela altitude em fins de junho, e assim, escalei com 35 kg de equipamento nas costas, aquecedor e bujão cheio inclusive. Na manhã seguinte Luquinha, acima, com seu caldo de feijão e bacon quentinho, enquanto Gabriel contempla seu feito, acima das nuvens. Com a credibilidade de seus 43 anos como guia no Caraça, João Julio confirma que estes meus dois heróis (8 e 11 anos) foram os mais jovens escaladores a vencer o paredão.
Explorando fendas e cavernas no topo, chega-se a locais como esse abaixo, maior caverna de quartzito do mundo. Chavões, adjetivos e superlativos tentam novamente saltar pela boca agora, mas não vou ceder. Melhor mostrar
Para uma visita mais completa à Gruta do Centenário, acesse http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/12/editando.html
Mais adiante avistamos a ação da verdadeira fera. O agricultor deve respeitar topo de morro. O construtor também. O fazendeiro não pode tocar na vegetação destas áreas. Os mineradores podem levar o pacote completo, a montanha inteira. Podem baixar o lençol freático dos vizinhos.
E foi assim que passamos dois dias gravitando o Inficcionado, o mundo da suçuarana. Irreversivelmente condenados ao retorno às altas montanhas.
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