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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pico do Inficcionado, Brasil



Fim de junho no Brasil, a 2069 mts de altitude.

Às 17 hs no cume do Pico do Inficcionado, nosso termometro marcava sete graus Celcius. Quando escureceu lemos cinco graus. Quando o vento entrou forte às 3 da madrugada e saí para conferir as estacas da barraca, o termometro indicava três graus. Quando sai da barraca por volta das 6:30 da manhã havia orvalho congelado sobre parte do equipamento que dormiu ao relento, indicando que haviamos chegado ao zero grau, numa noite sem umidade.

Monitorei meus filhos a noite toda, nem um tremorzinho, não tomaram conhecimento da temperatura, que já tinhamos antecipado. Estavamos preparados.

O dificil aqui é fugir dos chavões, de todos os adjetivos e superlativos para definir o Inficcionado, da sua beleza ao preço fisico que é cobrado dos escaladores.  Deixarei esta parte para as imagens em si.












Cume do Inficcionado coberto de nuvens na manhã da escalada. Vencido o trabalho vertical, Leões da Montanha na toca. Noite chegando gelada, junto com minha maior preocupação.









Foram sete horas até o cume. Montamos o acampamento rápido antevendo a noite dura. Água historicamente congela em canos do Santuário nesta época. O objeto em frente à barraca na foto com fogueira em primeiro plano é um aquecedor à gás Jackwall. Pe. Lauro Palú, o homem que mais conhece a região, previu possibilidade de hipotermia (morte) num pernoite naquela altitude em fins de junho, e assim, escalei com 35 kg de equipamento nas costas, aquecedor e bujão cheio inclusive. Na manhã seguinte Luquinha, acima, com seu caldo de feijão e bacon quentinho, enquanto Gabriel contempla seu feito, acima das nuvens. Com a credibilidade de seus 43 anos como guia no Caraça,  João Julio confirma que estes meus dois heróis (8 e 11 anos) foram os mais jovens escaladores a vencer o paredão.




O Inficcionado  não é lugar para inocente. A chance de algo dar errado (como já ocorreu) é grande. Minimiza-se essa chance tendo ao lado gente como João Júlio. Cavalheiro discreto, focado, versado nas Ciencias Naturais, na Filosofia e no Absoluto; enquanto escrevo, sinto saudades. Faremos os Sete Picos sob orientação de João e  Neneco - os únicos guias de todos picos -  Pico do Sol ( 2072m), o Pico do Inficionado (2068m), o Pico da Carapuça (1955m), o Pico da Canjerana (1890m), Pico da Conceição (1800m), Pico Três Irmãos (1675m)  e o Pico da Verruguinha (1650m).


Explorando fendas e cavernas no topo, chega-se a locais como esse abaixo, maior caverna de quartzito do mundo. Chavões, adjetivos e superlativos tentam novamente saltar pela boca agora, mas não vou ceder. Melhor mostrar


 


Entramos 100 metros pela Gruta do Centenario. Paramos quando a presença excessiva de guano poderia levar a problemas neurológicos posteriores. Sentimos alí o forte cheiro de café que antecede o avistamento da onça parda. Um pouco adiante coletei sua fezes para Pe. Lauro encaminhar aos pesquisadores. Saber que ela estava ali foi o mesmo de tê-la avistado.

Para uma visita mais completa à Gruta do Centenário, acesse http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/12/editando.html


Mais adiante avistamos a ação da verdadeira fera. O agricultor deve respeitar topo de morro. O construtor também. O fazendeiro não pode tocar na vegetação destas áreas. Os mineradores podem levar o pacote completo, a montanha inteira. Podem baixar o lençol freático dos vizinhos.


Luquinha observando a grande piada, uma mina denominada ALEGRIA pela Vale. Gabriel se declarou indignado e disposto, em suas palavras, a 'espalhar pelas redes sociais'  estas imagens, para buscar mais defensores pela preservação de areas do entorno do parque  da RPPN do Caraça. Neste ponto senti que a viagem valeu.


E foi assim que passamos dois dias gravitando o Inficcionado, o mundo da suçuarana. Irreversivelmente condenados ao retorno às altas montanhas.








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