Indo ainda um pouco mais fundo, observa-se uma lei de D. Afonso V, de 1470 (Porugal), que incluia uma reserva de mercado de 'tintas brasil' no comercio com a costa da Africa. O pau brasil do litoral de Vera Cruz gerava a tintura vermelha mais cobiçada na época, a da nobreza, e baseado neste documento, entre outros, autores trazem o conhecimento da costa brasileira por parte de Portugal para por volta do ano de 1470.
Naquela época, navegar era segredo de estado. Nem espanhóis nem portugueses podiam abrir o jogo sobre o que conheciam, nem onde aportavam.
O tratado de Tordesilhas (1494) era uma 'bula papal', um meridiano da foz do Amazonas à foz do Prata, que dividia o mundo entre os dois paises. Esquerda da linha (oeste) Espanha, direita da linha (leste) Portugal. Confira o mapa Gabriel: http://en.wikipedia.org/wiki/Treaty_of_Tordesillas

Acontece que os navegadores daquelas épocas não conheciam LONGITUDE, só LATITUDE. Latitude é o quanto se afasta da Linha do Equador, para norte ou sul, medida determinavel com os recursos tecnológicos da época: a direção no mar era dada pela bussola ou marineta de forma imprecisa até o seculo XV, pois não se conhecia a declinaçao magnétia, que é a variação em graus entre o norte geografio ou verdadeiro, e o norte magnético. Com o 'quadrante', ancestral do sextante, podia-se medir a altura da passagem meridiana do sol, e com esse dado, chegava-se à latitude com precisão relativa. Longitude é o quanto em graus se afasta do meridiano de Greenwich, para leste ou oeste, e só pôde ser determinada com o cronometro maritimo, em 1782. Só se determinou o meridiano de Greenwich e as longitudes exatas a partir desta data. OU SEJA, OS NAVEGADORES NÃO SABIAM EXATAMENTE ONDE PISAVAM, e isto poderia custar sua vida. Espanhol não pisava em reino portugues, e vice versa. Então, muitos movimentos destes navegadores não eram explicitos.
Assim, estariam Vespucio, Hojeda e Pinzon invadindo terra portuguesa quando supostamente aportaram na costa norte-nordeste do Brasil, bem antes de Cabral ? Muito provavelmente na cabeça destes homens experientes sim, e portanto a pouca publicidade.
A longitude de Porto Seguro (Monte Pascoal) não era precisamente estimada. Creio que daí veio a cautela e malandragem de D. Manoel de Portugal ao falar com os "Reis Católicos" da Espanha, em 1501, sobre a viagem do Cabral à Indias, logo após "achar" o Brasil. Em uma carta, D. Manoel lhes fala de "homens de quatro olhos", "vacas com colares de ouro" e etc no caminho da esquadra para Sofala e Calicute, e quase nada sobre a tal acidental descoberta do Brasil, aparentemente com intenção deliberada de desviar a atenção dos "Reis Catolicos" para o lado oposto, presumivelmente dada à incerteza das coordenadas da terra brasilis.
Mas os mistérios desta época são maiores que as revelações. Por exemplo: a pior parte do mundo para a navegação, mesmo nos dias de hoje e com barcos modernos, o Estreito de Magalhães, foi vencida por Fernão de Magalhães em 1513. Um dos sobreviventes desta expedição, Pigafetta, anotou em seu diario que aquelas aguas já tinham sido cartografadas por Martin Behaim, e que esta cartografia estava no "Tesouro do Rei de Portugal".
Estamos falando do portal da Antártida, de mares e ventos furiosos, e esta turma já tinha andado por lá antes de 1513. Então é dificil para mim Filhinho, acreditar em "acaso no descobrimento do Brasil por Cabral". Acho que já se andava por estas bandas, o Atlantico Sul, a muito tempo, e o tal descobrimento foi uma formalização, um ato de tomar posse, com um Portugal alarmado e respondendo aos espanhóis em sua exploração de Paria (Venezuela).
Esse tal Martin Behaim ainda vai dar muito o que falar, há estudos que apontam para a possibilidade de que ele tenha navegado com DIÔGO CÃO pelo terrivel Cabo das Tormentas, o atual "Cabo da Boa Esperança" no Sul da Africa, em 1484, ou seja, antes de Bartolomeu Dias, em 1488.
Resumindo e concluindo Filhinho, Espanha e Portugal de bôbos não tinham nada, brincavam de gato e rato com mapas imprecisos, mas com navegadores de uma capacidade técnica, força fisica e mental IMPOSSÌVEIS de medir. Pela sua tenacidade, considero-os UMA OUTRA ESPECIE DE HOMENS. Assim, não vejo acaso, mas estrategia, no 'descobrimento' do Brasil, e não sei nem mesmo se os portugueses foram os primeiros a aportar aqui. No fundo, acho que ninguem sabe.
"Na falta de fatos a historia é forçada às vezes a adivinhar os fatos. Nem sempre acerta"
"Assim parti, no alto mar aberto,
Só com uma nau e com a companhia
Pouca dos que jamais me desertaram"
Dante, " A viagem de Ulisses", L'Inferno, canto XXVI
A situação era a seguinte, meu irmão Amilcar, rezando dizia: "se eu escapar desta nunca mais ponho o pé num barco". Lá fora, o leme amarrado dando proa para as ondas, e o barco se virando sozinho. O mastro de 11 metros de altura muitas vezes varrido por ondas. Isso numa tempestade á noite no Atlantico, na metade do caminho entre Africa e Brasil, num barco a vela de fibra de vidro, de 11 metros de comprimento. É em condições como essas, que TODOS os marinheiros pedem aos céus para ter Shackleton ao seu lado e liderando: quando o fim parece próximo. Aos ingleses que tem se interessado pelo nosso trabalho, um abraço nessa homenagem ao Capitão.
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Sir Ernest Shakleton, explorador polar |
Shackleton não era da terra. Fora dos barcos e longe dos camaradas, acho que devia se sentir como eu me sinto no Minas Tenis Club, onde a meta existencial parece ser uma barrriga tanquinho, e atração de olhares.
Seu sonho, seu foco, sua atração era o grande Sul, as altas latitudes polares, a Antartida. Mares e terrenos mais duros do planeta. E como disse no post da holandezinha, independentemente do preparo e do equipamento, se quizer, o mar nos engole. E foi o que aconteceu, mas nenhum homem se perdeu, porque Shackleton estava lá.
A historia do "fracasso" foi infinitamente mais gloriosa que do eventual "sucesso" na expedição. Impossivel tentar descrever o sentido real da palavra SOBREVIVER no limite extremo:
http://www.youtube.com/watch?v=qj0fAYiY09A
Melhor indicar a leitura de "Endurance", tambem em portugues (Companhia das Letras) com fotos originais de Frank Hurley:

'Endurance' ou 'resistencia', me inspirou a escrever o artigo abaixo, em que falo da persistencia necessária para chegar ao ponto de merecer os comentários de Mark O'Shea e Dean Ripa, no post anterior a este:
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol44Num6pp85-86%282009%29.pdf
Só que comigo não teve a experiencia mistica do terceiro companheiro, que até inspirou Eliot, em "The waste land":
Who is the third who walks always beside you?
When I count, there are only you and I together
But when I look ahead up the white road
There is always another one walking beside you
ou
Quem é o outro que sempre anda a teu lado ?
Quando somo, somos dois apenas, lado a lado,
Mas quando ergo os olhos e diviso a branca estrada
Há sempre um outro que a teu lado vaga
(Em tradução de Ivan Junqueira, "A terra desolada" Poesia, T.S Eliot Ed. Nova Fronteira, terceira edição, de 1981)
A existencia do Nucleo Serra Grande tem sido uma experiencia solitaria, onde amigos entram e saem, ajudam e se afastam, mas eu permaneço, pela resistencia:
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