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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Sobre o Verde e as Verdinhas




A longo prazo, o cenário sempre será de terra arrasada.
Marcos Cassara



Numa capa de vinil muito querido, a evanescência, ciclo das mutações, impermanência, coisas preocupantes nessa vida, também se aplicadas à questão ambiental.






Neste último final de semana estaria em Morungaba (SP) ajudando a planejar o futuro da Mata Atlântica no sul da Bahia, com cerca de 30 outros indivíduos historicamente envolvidos na questão. Mas o convite honroso me pegou vendido numa promessa a meus filhos de aventuras no Caraça, agendada à três meses. Abaixo Luquinha mostra que não somos de improviso.






Quanto ao encontro em Morungaba, de cujo desfecho não tenho ainda um relato preciso, devo confessar que por mais que se diga e debata, para mim o que conta mesmo, nesse momento, é a força do dinheiro.

Quem como eu vive na colcha de retalhos em que se transformou a Mata Atlântica no sul da Bahia, sabe que somente a aquisição sistemática de ilhas verdes, e formação de corredores ecológicos entre áreas com mais e menos densidade verde, representa garantia minima ao bioma.






O sujeito que pretende colocar um condomínio entre duas RPPNs só pode ser barrado pelo dinheiro, comprando-se e abandonando seu projeto. É o dinheiro que deterá a autorização ambiental duvidosa. Não há duvida quanto à eficiência do Ministério Publico Ambiental lotado em Ilhéus BA, mas a carga de trabalho ali alocada é sobre humana, o que implica muitas vezes num tramite para embargos bem mais lento que os tratores de esteira.






Aquisição de terras com perspectivas de contiguidade, monitoramento das mesmas e limitação de acesso humano geral, são as grandes medidas redentoras para um bioma destruído em 93%, no mínimo, e que ainda assim apresenta espantosa biodiversidade.Terra protegida pela iniciativa privada é o que nos permite sonhar. Em tempos de crise econômica, falar é fácil.

Mas é também na crise que surgem mais oportunidades, e portanto, que se deve falar mais. Todos se recordam do efeito imediato da epidemia de 'vassoura de bruxa' na região: aceleração do devastador'desmatamento formiguinha', que é aquela modalidade multifocal, em pequena escala, de difícil detecção. A mata sombreava o cacau, e por isso estava de pé. Não havendo cacau para sombrear em função da 'vassoura', a mata retorna à sua condição essencial: a de poupança.






Depois da intervenção paquidérmica do dinheiro, aproveitando a crise e garantindo 'barato' grandes extensões de verde em continuidade crescente, entram literalmente em campo, biólogos, botânicos, agrônomos, cientistas, conservacionistas, permaculturistas e sonhadores de toda espécie - invariavelmente 'duros' - para a gestão do território, levantamento e manejo das especies, e promoção do homem no entorno, contratados pela iniciativa privada, dona das terras. É o que penso depois de uma década de aprendizado sobre a inoperância do poder publico em questões ambientais, onde o cidadão - como eu - pode ter que esperar 12 anos por um sim ou um não às suas pretensões.






Já no Caraça, mas pensando também nos trabalhos em Morungaba, seguia com o coração miúdo: evanescência, ciclo das mutações, impermanência e janelas de tempo. Todos mortos. Mortas agora todas estas flores (acima) que fotografei no jardim do Adro.







Naqueles 11.000 hectares de transição entre Mata Atlântica e Campos de Altitude, cercados por mineradoras por todos os lados, fragilidade como em Serra Grande.







Existem coisas que só devem sofrer mudanças numa escala de tempo diferente da nossa, a dos milhões de anos. Na capa de um outro meu vinil essencial, lembrança do que deve mudar já.






Um relato de vida e morte da Mata Atlântica pode ser visto aqui:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2014/09/caa-ete.html


Na área de transição que é o Caraça, a força da Mata Atlântica permanentemente surpreende. Aconteceu da anta quase entrar na igreja ?






As cobras sempre foram respeitadas por aqui, à despeito do pesado simbolismo à elas associado.







Mas espanto mesmo é a beleza sem afetação do Gabriel ...































Gabriel acorda e este Irmão certamente lida com Bothrops, em 1800 e alguma coisa. Já o Irmão Célio, na década de 70, conhecia e protegia a muçurana, que se alimenta dessas jararacas.





Fotógrafos excepcionais como Roberto Murta também tiveram olhos para elas por aqui. Na sequencia: Waglerophis merremii, Philodrias olfersii e Chironius exoletus.







Se aqui nessa ilha sem possibilidade de expansão a natureza protegida responde dessa forma, o que pensar do potencial de grandes áreas florestais interligadas, com gestão técnica e ágil da iniciativa privada, no sul da Bahia ?

Aqui no Caraça a força do dinheiro foi essencial. É uma área grande para se manter naquela outra escala do tempo, e proteção tem custos. Pode parecer absurdo, mas só em 2011 se conseguiu finalizar a pretensão de mineradoras de lavrarem dentro da RPPN.






Embates jurídicos diversos fazem parte da formatação e manutenção de uma grande unidade de conservação particular, a um alto custo.

Com o tempo o investimento se paga. Em missão de vida e retorno financeiro. Efervescência cientifica e o turismo que soma: o fugaz, nós, sempre em busca do 'permanente', a floresta, porque está em nossos genes nos acalmarmos por aqui.









4 comentários:

  1. Tenho muita de vontade de conhecer o Caraça, mas pelas perneiras e cobras nas fotos me apavoro um pouco , será seguro ir com crianças pequenas (4 e 6 anos) podemos fazer todos as trilhas com segurança,viram o lobo ?
    A onça pintada foi morta no Parque do Caraça?
    Tem onça lá também ?

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  2. Êta saudade do Caraça .
    Discão bão esse do George Harisson.
    A anta da foto tá parecendo um espectro, aushaush

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  3. Nossa Senhora das Graças é a santa que tem imagem pisando na serpente .
    Simbolizando o fim da escravidão dos homens diante do mal ....
    Em tempo , sou ateu .
    Abração
    B.V.

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  4. Grato pela visitas e pela força, e vamos lá: a indumentaria de meus filhos se deve aos programas que fazemos e que ninguém faz, como circular à noite pelos campos. Confira aqui no blog também 'Os sete picos do Caraça', que eles escalaram muito jovens.. Quem não faz estes programas e fica nas trilhas largas e tradicionais (cascatinha e etc), não precisa de se preocupar. Existem pelo menos 11 onças pardas no Caraça, bicho tímido e recluso, que também não deve preocupar a quem não se atreve tão longe e à noite, como eu e meus filhos. RECOMENDO PROFUNDAMENTE uma visita sua ao Caraça. O lobo deixa de aparecer nas escadas do Santuário de 10-15 vezes a cada ano. A maior chance é de que seus filhos o vejam chegando, maravilhoso, e nunca m,ais em suas vidas se esqueçam daquele momento. Aquele felino é uma grande jaguatirica, atropelada na entrada de uma das minerações da vizinhança. Não há registro confiável de onças pintadas no Caraça, nos últimos 40 anos. Abração Bernardo ! me fez sentir menos jurássico reconhecendo o vinil ... Abração 'anonima': e aguardo noticias do passeio inesquecível ...

    Rodrigo

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