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domingo, 2 de janeiro de 2011

Sobre o tamanho (verdadeiro) de Lachesis



Recebo um email de leitor do blog perguntando sobre a questão do comprimento das maiores surucucus.

Na nossa experiencia, e falando do animal das 'Matas Atlânticas' (Ab'Saber), qualquer animal ultrapassando 2,90 metros é raridade.

A algum tempo atrás eu ajudava o autor em herpetologia, Dr. Marco Antonio de Freitas, nesta tentativa de determinação estimada do maior comprimento total para o gênero Lachesis na Mata Atlântica, chegando a desenterrar a carcaça de um animal abatido em Taboquinhas, BA, e que diziam chegar aos 3 metros.

O estado adiantado da decomposição deste animal impediu correta avaliação, e assim, falo pelo que tenho em mãos. Num levantamento dos últimos 10 anos, o maior animal que já pudemos medir tinha 2,87 mts (vide foto) e já estava gravemente ferido quando chegamos para o resgate. Para efeito de comparação, meu auxiliar Claudio, na foto, tem 1,76 metros de altura.

Assim, desconheço de onde vem a comprovação da afirmação em posteres do Butantã de que o gênero atinge '4, 50 metros'. Sei que Ditmars identificou uma Lachesis stenophrys com 3,62 metros, isso no inicio do seculo passado, e esse para mim permanece com o maior animal já medido.



Fêmeas pagam um enorme preço reprodutivo. Nunca identifiquei uma superando os 2 mts. Ambos os animais da foto,  2,83 e 2,87 mts eram machos, e chegaram em condições criticas ao NSG.


O tamanho do bicho a coloca no hall das 'high strikers', com botes superando o metro em altura. Tenho 1,82 e já fui alcançado (no macacão, e sem inoculação) na altura do umbigo: um bote com 1,14 metros de altura.

Vejam o relato dramático de uma picada fatal na linha divisória entre o abdome/tórax de uma criança. Choque em 30 minutos. Morte em menos de 90 minutos. Fato ocorrido em Cotriguaçu, Mato Grosso, e testemunhado pelo amigo e colaborador, Enfermeiro Matheus Morais.

Em suas próprias palavras:

"Por meados de março de 2005, na cidade de Cotriguaçú (Noroeste de Mato Grosso), numa localidade chamada Nova União, onde eu trabalhava como enf. de PSF, ao final da tarde, fui solicitado apos horário de atendimento na unidade de saudê. Um homem com uma criança de aproximadamente 5 anos nos braços, com referencia a picada de cobra. A avaliação primaria a criança apresentava-se pálida, hiporresponsiva e evidente orifício duplo na altura do abdome que apresentava discreto sangramento. SIC do padrasto q acompanhava a criança, a mesma fazia companhia a este enquanto aparava a grama de um campo de futebol. Talvez em razão do barulho do aparador de grama, o padrasto viu a criança já ao solo e a cobra próxima. Juntamente a populares a cobra fora morta. Cronologicamente, penso que o tempo decorrido entre a picada e o primeiro atendimento não foi superior a 30 min. Ja na unidade de saúde a criança fora atendida por mim e pelo medico que se encontrava na localidade apresentando sinais óbvios de choque (pele fria, sudorese, taquicardia, obnubilação). Providenciado AV calibroso e infusão de SF em grande volume. Durante os preparativos para remoção do paciente (máximo 30 min) o mesmo evoluía mal (aumento da FR, FC e sudorese), sendo observado aumento do sangramento no local da picada e epistaxe. Logo nos primeiros kms rumo ao hospital mais próximo (Colniza-MT) a vitima já não apresentava sinais vitais. Ja de volta a unidade de saúde o corpo sem vida da criança mostrou perda de fluidos sanguinolentos através de anus, nariz , boca e local da picada. A cobra morta trazida a unidade de saúde tratava-se com certeza de uma Pico de Jaca. Por mera curiosidade, medi o exemplar (2,3 m). Penso q entre a picada da cobra e o óbito desta criança transcorreu-se no máximo 1h e 30 min."


Em território de Lachesis  mais valem olhos e ouvidos atentos, do que propriamente a botinha com perneira tradicional. Bote acima do joelho é quase norma. Ouvido atento em território de Lachesis nos remete a Lineu (Linnaeus), e seu 'Crotalus mutus' ('chocalhador mudo', o chocalhador sem um chocalho como o das cascavéis), que foi como ele primeiro nomeou as surucucus.

Mesmo sem o aparato das cascavéis, Lachesis faz muito barulho vibrando a cauda contra o folhiço do solo da floresta, como se nos dissesse: 'não pise em mim, não se aproxime mais'.

Aumente o som e confira: http://www.youtube.com/watch?v=-QXgxB81yAA

CONHECER E MEMORIZAR ESTE SOM PODE SALVAR SUA VIDA

Aprofundamento no acidente laquético  pode ser visto aqui: http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/05/acidente-laquetico-na-pratica.html

E sobre como as grandes Bothrops já rivalizam em tamanho com Lachesis, confira: http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/07/supremacia-lachesis-em-cheque.html




Um comentário:

  1. Prezado Rodrigo,

    Um 2011 maravilhoso, com prosperidade, saúde e "rodeado de Lachesis".
    Aproveito para dizer que olhei o seu blog. Muito legal!!!
    Interessante e esclarecedora sua informação sobre o tamanho das Lachesis.
    Estou no Butantan desde o tempo de colégio. Aprendi uma série de coisas, principalmente dos "velhos" funcionários. Uma delas sobre o tamanho que as Lachesis poderiam alcançar. Confesso que ouvi vários valores. Nas minhas aulas uso aproximadamente 3 metros.
    A partir de agora vou usar a sua informação, visto que é baseada em experiência e medidas realizadas.
    Mais uma vez meus cumprimentos e admiração pelo trabalho realizado no Núcleo Serra Grande com as Lachesis.

    Abraço,
    Giuseppe

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