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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Surucucu e o Coração



Dr. Rogério, Cardiologista, manda Email comentando a postagem "Primeiros socorros aos acidentados por animais peçonhentos no Brasil ...", e confirmando em sua experiencia clinica, a hipótese da cardiotoxicidade direta no escorpionismo envolvendo Tityus serrulatus:

 '... fizemos de tudo, e rápido, inclusive soroterapia especifica nas duas primeiras horas de evolução, mas a fração de ejeção estava em 12, nunca vi uma evolução tão rápida num adulto jovem, e previamente hígido...'

'Fração de ejeção' (FEVE) é a força com que o ventrículo esquerdo injeta sangue em nosso organismo, e num jovem adulto saudável deverá ser superior a 55%. 40% já é diagnóstico de 'disfunção sistólica'. 12% é insuficiência cardíaca severa com risco eminente de morte.




Também já vivi isso Dr. Rogério, também com Tityus serrulatus, em Araçuaí, MG. Eu e minha esposa Ana Paula perdemos um paciente de 10 anos de idade, acidentado à pouco, e que recebeu soroterapia especifica em tempo hábil e dose adequada, e mesmo assim evoluiu para insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, não respondendo a ventilação mecânica e aminas vasoativas. Morreu nas minhas mãos.

Há um excepcional Cirurgião Geral mineiro, José Renan da Cunha Melo, professor de Cirurgia do Aparelho Digestivo do H.C da UFMG, nascido em Araçuaí, que tem outros relatos semelhantes à este acima ocorridos no Vale do Jequitinhonha; outro grande cirurgião do Vale, meu mentor Jansen Cherfani Tanure (CAD HC UFMG), também teve a infeliz oportunidade de vivenciar o escorpionismo fulminante num primo com 16 anos de idade. É fato: alguns casos cursam com uma especie de impregnação irreversível no aparelho cardiovascular, em adultos inclusive. A GRANDE MAIORIA DOS MÉDICOS NÃO SABE DISSO, E TENDE A SUBESTIMAR O ESCORPIONISMO.

Mas retornando ao texto de Dr. Rogério, ''... gostaria de saber se com a surucucu ocorre alguma lesão cardíaca direta, lí seu relato de hipotensão e bradicardia, mas como eventos de instalação praticamente imediata, não creio que devam a cardiotoxicidade direta ..."

OK Dr. Rogério, e vamos lá: falando de Viperídeos, existem varias alterações cardíacas no acidentados. Alterações de frequência e ritmo (bradicardia e taquicardia sinusais). Padrões de isquemia miocárdica e mesmo infarto. E finalmente arritmias por bloqueio.

Parenteses para os não médicos: o termo 'sinusal' acima significa que apesar da frequência cardíaca estar aumentada (taquicardia) ou diminuída (bradicardia), o ritmo é constante. Não tem aquela de 'bate uma e falha duas'. O termo 'bloqueio' acima significa obstaculo à condução elétrica que move o coração.

Um soldado de 23 anos, saudável, foi picado por surucucu na Colômbia em 1991 e desenvolveu um tipo de lesão cardíaca permanente seis semanas após o acidente, que pediu implantação de marca-passo definitivo. O caso foi publicado por Orjuela e cols em 1992, na Revista Colombiana de Cardiologia (RCC, 2002 ; 9:361-364).

Dr. Rogério, o distúrbio supra citado foi um BAV de segundo grau, do tipo Mobitz I, sintomático (sincope, náusea), ilustrado abaixo. Mesmo o leigo pode ver que o coração do rapaz não é mais um reloginho, e que as ondas do traçado não tem mais um padrão regular. O intervalo P-R vai aumentando, aumentando, e então temos um bloqueio na condução, com P-P sem QRS.




É isso então, veneno surucucu pode sim lesar diretamente o coração. Grato pela visita, e à disposição.






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