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sábado, 14 de setembro de 2013

Surucucu e os Rins



Novamente valho-me de Bernardo Esteves (Revista Piauí n° 83, agosto de 2013), testemunha ocular de uma das muitas entrevistas que conduzo à anos com gente picada por surucucu, tentando entender a clinica dos acidentes, em especial indícios de neurotoxicidade direta - paralisias, alterações sensoriais - mas, nessa entrevista especifica, fui lembrado da potencia do veneno de Lachesis no nosso sistema gênito-urinário, em nossos rins, tópico dessa postagem.




"Souza guiava rumo a Serra Grande, distrito do município de Uruçuca, no sul do litoral baiano. Naquela noite de outono, tinha marcado um encontro com Francisco Santana da Conceição, um homem parrudo de 35 anos, que os amigos chamam de Tureba. Levou-o a uma pizzaria para ouvir e filmar seu depoimento. Queria que Tureba contasse o que aconteceu no dia em que foi picado por uma surucucu.

Alguns anos atrás, o trabalhador rural passava por uma trilha quando uma serpente de mais de 2 metros avançou sobre ele. "Foi uma porrada na perna que quase me jogou do outro lado do caminho", recordou, impressionado com a potencia do bote. Apesar da dor intensa, que se irradiou logo pelo corpo, conseguiu andar até encontrar uma mulher a quem pediu socorro. Minutos após o ataque, já não tinha forças para se mexer. A caminho do hospital, a vista escureceu. "Na ambulância eu reconhecia a voz da minha mãe e do meu tio, mas, por mais que abrisse o olho, eu não conseguia enxergar". Teve hemorragia digestiva e vomitou muito.

Tureba foi levado para Ilhéus e recebeu a tempo o soro que anula a ação do veneno. Ficou oito dias na Unidade de Terapia Intensiva. Em decorrência do acidente, teve insuficiência renal e precisou fazer hemodialise. "Só fiquei bom pra valer seis meses depois", contou. Rodrigo Souza queria saber se ele tinha sentido a garganta travada, como aconteceu com outras vitimas da surucucu. "Você não consegue engolir nem a própria saliva', confirmou Tureba"

O acidente laquético é inequivocamente nefrotóxico. Além da ação direta do veneno, a hipoperfusão por hipotensão e bradicardia podem agravar em muito o quadro, o que nos remete à necessidade de infusão vigorosa de volume nos acidentados.

Alves C.D (2010), Mestre em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará, conduziu excelente ensaio sobre o tema. Abaixo seu Abstract, que dispensa comentários:

'O acidente causado pela serpente Lachesis muta muta é grave e o seu veneno é responsável por uma série de alterações sistêmicas, como a hipotensão arterial. Neste trabalho, foram investigados os efeitos renais do veneno total desta serpente em sistema de perfusão renal e em cultura de células tubulares renais do tipo MDCK (Madin-Darby Canine Kidney). Foram utilizados ratos Wistar machos pesando entre 250 e 300g, cujos rins foram isolados e perfundidos com Solução de Krebs-Hanseleit contendo 6%p/v de albumina bovina previamente dialisada. Foram investigados os efeitos do veneno (10 µg/mL; n=6) sobre a Pressão de Perfusão (PP), Resistência Vascular Renal (RVR), Fluxo Urinário (FU), Ritmo de Filtração Glomerular (RFG), Percentual de Transporte Tubular de Sódio (%TNa+), de Potássio (%TK+) e de Cloreto (%TCl-). O veneno da Lachesis muta muta foi adicionado após 30 minutos de controle interno. As células MDCK foram cultivadas em meio de cultura RPMI 1640 suplementado com 10% v/v de Soro Bovino Fetal e então avaliadas na presença do veneno total da serpente Lachesis muta muta nas concentrações 1µg/mL, 10µg/mL e 100µg/mL. Após 24 horas de experimento, foram realizados ensaios de viabilidade e citotoxicidade celular. O veneno total, na dose de 10µg/mL, causou redução transitória na pressão de perfusão (C60= 108,27 ± 4,88 mmHg; VT L. m. muta60= 88,17 ± 5,27# mmHg; C90= 108,69 ± 5,08 mmHg; VT L. m. muta90= 78,71 ± 6,94#* mmHg) e na resistência vascular renal (C60= 5,57 ± 0,49 mmHg/mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 3,50 ± 0,22# mmHg/mL.g-1.min-1; C90= 5,32 ± 0,57 mmHg/mL.g-1.min-1; VT L. m. muta90= 3,11 ± 0,26#* mmHg/mL.g-1.min-1) além de aumento do fluxo urinário (C60= 0,158 ± 0,015 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 0,100 ± 0,012# mL.g-1. min-1; C120= 0,160 ± 0,020 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta120= 0,777± 0,157#*) e do ritmo de filtração glomerular (C60= 0,707 ± 0,051 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 0,232 ± 0,042# mL.g-1.min-1; C120= 0,697 ± 0,084 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta120= 1,478 ± 0,278#* mL.g-1.min-1). A dose estudada também promoveu redução significativa do percentual de transporte tubular de sódio (%TNa+), potássio (%TK+) e cloreto (%TCl-) nos três períodos analisados (30, 60 e 90 minutos), com conseqüente aumento do clearence osmótico(Cosm) (C90= 0,141 ± 0,011; VT L. m. muta90= 0,309 ± 0,090; C120= 0,125 ± 0,016; VT L. m. muta120= 0,839 ± 0,184#*). A avaliação histopatológica revelou a presença de áreas focais com células com núcleos picnóticos nos túbulos renais dos rins perfundidos com veneno. O veneno também apresentou efeito citotóxico sobre as células MDCK apenas nas concentrações de 10µg/mL e 100µg/mL reduzindo a viabilidade destas células a 38,60 ± 17,9% e 10,62 ± 2,9%, respectivamente. Estes resultados demonstram que o veneno total da Lachesis muta muta alterou todos os parâmetros renais avaliados na perfusão renal, induzindo hipotensão transitória e intensa diurese. O veneno também possui ação citotóxica sobre as células MDCK após 24 horas de incubação.'




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