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sexta-feira, 8 de abril de 2011

O mito da cobra verde e da coral verdadeira no Brasil




Corre no Brasil um mito de que 'cobra verde, tudo bem': a tal sabedoria popular, voz do povo voz de Deus.

Negativo




Acima um bicho verde de 35 cm, responsável por um acidente grave, fotografado na forma como me foi trazida pelo paciente.






O caso completo está aqui:

http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol42Num10pp161-163%282007%29.pdf

Esse animal acima é Bothriopsis bilineata (Wied-Neuwied, 1821). É conhecida por "pingo de ouro', 'ouricana' ou 'surucucu de ouricana' no Sul da Bahia. De certa forma é tão temida quanto Lachesis, porque arborícola, morde na cara, estraga o rosto com forte ação proteolítica, deixando marcas e lembranças

Ao observar os trabalhadores do cacau, pelo menos os tradicionais, em sua lida diaria na cabruca, entende-se com o tempo que o uso de chapéus e bonés em área tão sombreada é sabedoria pura. E memória ancestral. Deraldo me contou em detalhes o bote 'vindo do nada' e parado pela aba do boné. Recuperado do susto e após inspeção cuidadosa, viu que o ataque tinha vindo "de uma bolachinha, uma rudilhaziha de nada, no galho do cacau".

O diâmetro deste animal enrodilhado em posição defensiva pode ficar nos 8 cm, a 'bolachinha' invisível: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/09/sobre-surucucu-que-nao-e.html


Com a Philodryas olfersii a mesma coisa, cobra verde com jeitão de bicho bobo, mas é uma mambinha tupiniquim. Falo isso porque há relatos de sua 'agressividade', andando rápido de cabeça alta, e porque mesmo sendo um colubrídeo opistóglifo, parece ter sido responsável por uma morte humana. Luquinha, abaixo, vai nos apresentar a um exemplar bem jovem...






Não acredito em 'agressividade' em cobra nenhuma, e sim em comportamentos defensivos dada á impossibilidade da fuga. Mas quanto à potencia do veneno não tenho dúvidas, acidente por Philodryas olfersii pode se assemelhar à acidente botrópico.

Já fui picado por uma delas, e passei muito mal.

Enquanto limpava meu 'serpentário' (box de chuveiro abandonado) agachado e distraído, quando meu 'amigo' Mario Amaro colocou o bicho nas minhas costas com um gancho longo, e ao tentar removê-la fui pego no polegar direito. O animal era grande, segurou e injetou bastante. O edema foi até o cotovelo, com muita dôr. Não procurei ajuda médica. Tinha 12 anos e criava o bicho escondido da família  Inventei que estava numa barreira de futebol de salão e fui atingido em cheio no braço. Poderia ter morrido.

Dois casos bem documentados abaixo:

 ARAUJO, Maria Elisabeth de and SANTOS, Ana Cristina M.C.A. dos. Cases of human envenoming caused by Philodryas olfersii and Philodryas patagoniensis (serpentes: Colubridae). Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Nov./Dec. 1997, vol.30, no.6, p.517-519. ISSN 0037-8682.

Na foto que se segue Gabriel, maravilhado, mostra a carinha dessa joia verde. Ele estava numa lagoa em Itauna, como Luca relata no vídeo acima, quando a cobra veio nadando em sua direção. Como não nasceu ontem na herpetologia, não meteu a mão. Acertou na mosca na classificação, 'uma Philodryas olfersii, papai', e com toda a segurança a trouxe neste galinho para o registro e posterior soltura.





























Já com a coral, as pessoas tendem a dizer que se o anel colorido passa pela barriga, dando volta completa no corpo do animal, a coral é verdadeira, gênero Micrurus. Negativo também, mas pelo menos aqui o erro não causa dano, além do tradicional abate desnecessário. Há duas falsas corais em que o anel colorido fecha o circulo no corpo da cobra: Erytrolamprus asculapii e Oxyrophus trigeminus, esta ultima na foto abaixo, com Luca hoje na FUNED.





O conselho é que se você não estiver sendo guiado por um grande especialista, não toque em coral, ou em qualquer cobra com anéis pretos e vermelhos, mais brancos e amarelos, em varias combinações.

Micrurus é proteróglifa, não pica aos botes, morde e inocula. Extração de veneno, só pipeta de Pasteur. O acidente é sempre o mesmo: um curioso classificando errado, passando o bicho de mão em mão até que alguem se dá mal,. Ou um tratador que se descuida. Ou um bicho com coluna quebrada na estrada, aparentemente morto, mas que dá o último golpe ao ser tocado. Ou o caso dos casos: um bebê com um único dente agarra a Micrurus que entra em seu berço, morde e mata a cobra com seu único dentinho, e leva uma mordida no queixo, sendo salvo pela Toxicologia do João XXIII, de BH:

http://www.youtube.com/watch?v=u27vVZDYY-Y&NR=1

O envenenamento é sempre gravíssimo, risco real de morte rápida por paralisia respiratória, com soro na maioria das vezes inacessível longe dos grandes centros. E para piorar, em função da diversidade do gênero  com 09 especies, nem sempre o soro é garantia de salvação:

http://www.plosntds.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pntd.0000622

Mais sobre corais, acidente e classificação, nos links abaixo:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/05/o-dilema-das-corais.html

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/10/breno-e-o-inferno.html


Fui à FUNED hoje obter soro anti laquético, para a segurança dos trabalhos em  Serra Grande. Gabriel infelizmente na aula, Luca comigo. Foi uma visita de três horas, cobrindo tudo o que se possa imaginar que envolva animais peçonhentos.

Ao fim do dia, antes de apagar no carro no caminho de volta, Luquinha me revela que aquela tinha sido 'uma das cinco melhores tardes de sua vida", arrematando antes de apagar de vez: "meus colegas bilionários nunca viveram uma aventura de verdade". E relaxou.



Nem montanha russa, nem Disneylandia, nem shopping. Custo da tarde, 3 litros de gasolina, nem Visa nem Mastercard. Memorias para sempre, como a primeira cascavel, 'não tem preço'



Mais sobre Philodryas e Corais, aqui:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/08/primeiros-socorros-aos-acidentados-por.html






 

10 comentários:

  1. Muito bacana teu blog...hoje levei um susto. Sou estudante de biologia, na FURG no Rio Grande do Sul. Estou no 2° ano mas minha paixão por répteis é imensa. Hoje a tarde meu filho começou a gritar de que tinha uma cobra dentro de casa. Primeiro achei que fosse uma minhoca grande e ele estivesse exagerando. Quando fui ver era realmente uma cobra. Tem aproximadamente 30cm. O que sei sobre elas não foi o suficiente para que eu a pegasse com a mão e colocasse para longe de meu filho, então com um garfo de churrasco e sem machucá-la coloquei em um pote com tela. Não acredito que seja peçonhenta mas por via das duvidas vou devolve-la a natureza em um local onde não possam machucá-la.

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  2. Rodrigo, noto que nem sempre um brinquedo caro irá fazer tanta alegria de uma criança como aprendizado ao lado de um pai. Lembro-me de varias passagens no mata, na pedra e na Caatinga com meu pai. Meus filhos não esquecem os resgates que já fizemos de inúmeras jiboias, Corallos e Oxybelys aeneus e a subida mata adentro pra nova soltura...
    Nada paga!

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  3. Observei que o link acima "O dilema das corais" não abriu clicando aqui no texto.
    Será um problema no meu computador ou no blog?

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  4. Muito obrigado pelo retorno, acho que estava travado aqui, confira aí por favor novamente. É link pesado, com 4 videos curtinhos. Aguardo noticias.

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  5. E acho que voce vai gostar deste video tambem, 'tudo sobre o escorpião amarelo em sessenta segundos', com Luquinha:
    https://www.youtube.com/watch?v=WHUvqGpGer4&feature=youtu.be

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  6. Não tem preço .
    O grande amor entre pai e filho(s)

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  7. Oi boa noite estou interessado conhecer seu sedentário como faço

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