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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

'Nada de novo sob o sol'




O Eclesiastes, um dos poucos livros que escaparam da fogueira da minha Santa Inquisição pessoal. Tenho edição antiga, que pertenceu a meu pai, repleta de frases sublinhadas e pontos de exclamação à lápis em trechos que lhe chamaram a atenção - e que também me tocam de forma especial - indicando que ao contrário do que supunha, foram provavelmente nossas semelhanças que nos afastaram em vida.

'Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga sob o sol ?' (1,3). Segundo o texto, em sendo viver intensamente o momento presente a verdadeira realização humana, e em sendo essa vida no 'aqui e agora' necessariamente bancada pelo próprio trabalho, em tempos de exploração quase escravista do homem pelo homem, ocorre que a vida passa sem proveito.

O Eclesiastes, talvez do século III A.C, é então atualíssima critica social a um sistema que rouba vidas. Ironiza e desconstrói dinheiro, poder, status, o próprio trabalho, a produção cientifica, como se tudo isso fosse fruto de roubo. No sistema, alguém sempre banca com sua vida a expansão do outro.

Assim, antes de pavonear-se, o 'bem sucedido' deveria estar ciente de que 'não há nada de novo sob o sol' e que tudo em volta não passa de 'vaidade', e que o juízo 'chegará a tudo o que seja encoberto, quer seja bom, quer seja mau' (12:13-14). Abaixo Salomão, improvável autor do texto.




Contrariando o Eclesiastes, encontrei 'algo de novo sob o sol': uma provável Nobel sem vaidades. Em 26 de janeiro de 2006 escrevi diretamente a Polly Matzinger - diziam para eu não fazê-lo, pelo tamanho acadêmico da pessoa - buscando ajuda para entender porque a necrose progride em alguns casos envolvendo animais peçonhentos, mesmo com soroterapia especifica adequada e na ausência de infecção.

Ela me respondeu rapidamente, dizendo que não era hora de procuramos por respostas, mas por uma boa pergunta para testar no laboratório. Me tratou como a um igual seu que não sou. A conversa durou anos e desaguou num convite para trabalhar a ideia nos Estados Unidos. Não fui, não sei viver longe de meus filhos, mas foi amor à primeira 'vista'.

Polly vem balançando o mundo da Imunologia dizendo que tudo aquilo que aprendemos na escola de medicina, sobre 'self e non-self ' deixa a desejar. Segundo ela, o sistema imunológico não se preocupa com aquilo que nos é ou não inato, mas com o que nos causa dano. A essa sua revolucionaria teoria dá-se o nome de Danger Model, e seu arcabouço teórico foi publicado na Science de 12 de abril de 2002, volume 296 n° 2255 paginas 301-305.

Talvez mais interessante que a vanguarda na ciência de ponta seja a trajetória pessoal dessa mulher, considerada na juventude 'fracasso certo na vida' pelo grupo mais próximo: interesses demais e nenhum interesse objetivo, abertura demais, falta de foco em demasia. Candidata a ser engolida pelo abismo das possibilidades. É o que pensavam.

Abandonou a universidade, dedicou-se ao jazz (piano) e ao treinamento de cães problemáticos, foi coelhinha da Playboy e optou por ser garçonete (1972) como forma de bancar com mais liberdade seus múltiplos interesses. Nesse seu oficio, atenta às conversas de um grupo de clientes habituais da Universidade da Califórnia (at Davis), dirigiu-lhes perguntas que não passaram desapercebidas ao experiente professor Robert Schwab, que a convenceu de que a ciência abrigaria sua inquietação, e assim, entre 74 e 79 a garçonete gostosa chegou ao Ph.D, e vem desde então fazendo o grand monde médico repensar suas certezas, sem desprezar brazucas confusos. Abaixo Polly nos dias de hoje, e entre amigos ...




Voltei a Polly recentemente, com mais 'algo de novo sob o sol': há no veneno da surucucu uma proteína (LMVp) com propriedades imunossupressoras.

Dra. Denise Tambourgi (Imunologia, Butantã) clonou essa proteína (em Lr23 e Lr100) e me disse hoje (30/12/2014) que ela 'não é toxica', mas impediu que alguns cavalos produtores dos anticorpos que fazem o soro que atende aos acidentados, reconhecessem o veneno de Lachesis em sua circulação como algo que lhes causaria dano (!!!), não formando anticorpos. É das mais traiçoeiras (e porque não sutis) ações de veneno de que tenho noticia.

O insight pioneiro dessa atividade deu-se em 2001, através do aluno de farmacologia da UNICAMP, Marco Antonio Stéfan.

Retorno ao tema, surgindo algo novo sob o sol.


 

2 comentários:

  1. Desculpa minha limitação , mas , não entendi p raciocínio , o organismo dos cavalos que produzem os anticorpos q produzirão o soro não reconhecem a proteína do veneno de Lachesis como algo nocivo ao organismo deles, portanto à essa proteína eles não profuzem anticorpos , é isso ?!?
    Mas o soro é eficiente contra o veneno de Lachesis exceto em alguns casos em que pode ocorrer necrose mesmo com uso de soro .
    Misturei tudo ?!?!??
    Dá aí um help para os leigos , pode desenhar se quiser ....rsrs

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  2. A proteína descrita impede o organismo de reagir a um ataque. O sistema imunológico não reage. É como receber golpes de guarda baixa.

    R

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