Melhor seria perguntar: "cobra fala ?"
A resposta é sim, e abordaremos aqui um pouco da linguagem corporal ("fala") em Lachesis.
Começo por onde o problema é certo (clique sobre a imagem): o animal abaixo é da Paraíba, e foi fotogrado pelo Wilianilson Pessoa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O que a cobra fala aqui é: "SAI FORA, AGORA, NEM UM MILIMETRO MAIS PERTO"
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Batimentos de língua lentos, muito lentos, 30 ou menos por minuto, significam eminencia de bote. Com a língua, o animal está captando partículas no ar e levando-as ao órgão de Jacobson no céu da boca, uma via direta para o cérebro do animal, onde ocorrerá o processando dos odores. Juntamente com a fosseta loreal, sensível a variações de temperatura de até 0,04 °C, temos aqui dois equipamentos que permitem à surucucu caçar ratinhos, à noite, no solo alagado da Mata Atlântica, ou desfazer este duplo S em fração de segundos naquele que invade seu espaço de conforto. Quem é do mato sabe: 'surucucu não erra nem desperdiça bote'
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O comportamento na foto inicial pode seguir-se desta demonstração acima, quando o animal, numa tentativa final (antes do bote) de afastar o perigo, aciona o 'efeito gular', que é inflar o papo com respiração ruidosa, como se dissesse: "DAQUI PARA FRENTE FECHOU O TEMPO" |
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Esta imagem pode vir a ser a sequencia das duas primeiras (foto minha, Itacaré, BA), só que com o animal já se levantado do solo, em 40, 60, 80 cm. É daqui que surgiu o mito popular que 'surucucu fica em pé na ponta do rabo'. É o pior cenário para quem encurralar este animal. Surucucu em Tupi Guarani significa 'aquela que dá botes sucessivos', o que de fato pode vir a ocorrer, se a fonte térmica mante-se além no perímetro de conforto do animal. Assim, o que a cobra fala aqui é: "VOU TE AFASTAR AGORA, CUSTE O QUE CUSTAR" (1,2, 3 botes em sequencia rápida).
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Na sequencia das 'falas' de Lachesis, uma que realmente chega aos ouvidos. Há uma escama adaptada na ponta da cauda de Lachesis, que quando vibrada contra o folhiço da Mata, emite o ruidoso alerta, em alto e bom tom: "Estou aqui, não me pise....".
Daí as primeiras nomenclaturas de Lachesis... o Crotalus mutus de Linnaeus. Confira abaixo...
Resta apenas agora aquele momento em que a cobra não está 'falando', mas 'pensando': "DEIXA EU FICAR QUIETA AQUI QUE QUEM SABE ESTE BICHO GRANDE NÃO ME VÊ... " É a imobilidade confiando na camuflagem, confira abaixo.
É assim portanto que um réptil, ao contrario dos humanos, expressa claramente seus sentimentos, e os movimentos por vir.
Enfim, fala !!!!
ResponderExcluirFala claramente . É só estar atento à linguagem .
Postura claras para quem entende a linguagem.
ResponderExcluirBem didático , se der tempo de ler a "fala" , e o medo não deixar a gente sem ação ou cego de pavor, pode ser que passamos bem por um encontro .
Frases fortes e de efeito dessas surucucus...rs
ResponderExcluirGostei demais das 'falas' das surucucus .
ResponderExcluirAdOOOro as falas !
ResponderExcluirA surucucu que te picou, enrodilhou e fez o levantamento do solo antes do ataque , ou nada está enfraquecida pra tanto ... O instinto dela fez que atacasse o algo estranho invadindo o espaço dela...
ResponderExcluirOu vc nem viu , focado q estava em salvá-las com urgência da intoxicação ?!
caminhava entre varias, em diversos procedimentos, quando uma delas, por desorientação termo sensorial pela minha proximidade desferiu um bote violento sem enrodilhar-se, com corpo alinhado; poucos dias depois, no mesmo recinto, vi uma das cenas que mais me assustou nestes anos todos, um outro animal, tambem em recuperação, muito fraco e provavelmente muito irritado pelo mal estar e excesso de manipulação, e tambem com o corpo alinhado, elevou do solo toda a porção cervical, uns 40-50 cm, e fez menção de vir para cima, mas sem forças desabou, contudo, a intenção estava lá, o que me assustou foi 'a raça'
ResponderExcluirBom .
ResponderExcluirÓtima análise e observação.
Essas surucucus são excepcionais mesmo.
Energia e defesa até o fim. Que não foi o fim mas passou perto
há uma postagem nova baseada nessa sua indagação, obrigado pela força
ResponderExcluirEu que me divirto e aprendo com seus links .
ResponderExcluirObrigado você.
Ainda hoje você é chamado para fazer resgates de cobras?
ResponderExcluirE os filhotes que nascem no cativeiro, em algum momento poderão ser devolvidos à Mata?
Seu plantel é para pesquisa e com planos de futuramente ( com maior número de animais no plantel ) serem relocados à natureza ?
Eles saberiam sobreviver fora do cativeiro ,
Já tiveram alguma experiência em readaptar algm à Mata ?
Sim, somos chamados a todo momento, para resgates de todo o tipo de animal. Reintrodução em areas protegidas é uma de nossas metas futuras, após garantirmos um banco genetico estavel e confiavel, no momento é plantel minimo e fragilissimo. Relocamos dezenas de surucucus selvagens, mas tivemos problemas com donos de terra, e não se pode ameaçar populações estabelecidas com abrupto aumento de invididuos. Reintrodução bem sucedida é tarefa complexa e multidisciplinar. Temos grandes viveiros para testar aptidão de caça, mas é via telemetria que poderemos avaliar sobrevida e adaptação de animais nascidos em cativeiro e liberados em areas protegidas.
ExcluirTelemetria?!
ResponderExcluirsim, necessariamente, Greene e santana já fizeram na decada de 80; muito dificil captar um animal que vive quase que de forma fossorial, mas é necessario localizar quem foi liberado, dominar os conceitos de territorio e etc, processo complexo e multidisciplinar
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