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INDICE AO BLOG NSG E À BIBLIOTECA VIRTUAL LACHESISBRASIL BASEADO EM BUSCAS ESPECÍFICAS
OBSERVE POR FAVOR QUE A MAIORIA DOS LINKS SÃO AUTO EXPLICATIVOS, E CONTÉM INDICAÇÃO DE CONTEÚDO ANTES MESMO DE SUA ABERTURA: 1) SOBRE ...
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Proposta de padronização
Em gente e em animais, a hemorragia digestiva alta e baixa tem sido prevalente nos acidentes laquéticos no Sul da Bahia.
Considere o envenenamento clássico (no Sul da Bahia):
O paciente já está hipotenso pelas ações do tipo cininogenase e dos peptídeos potenciadores da bradicinina, induzidas pela peçonha laquética.
Há lesão vascular direta pelas hemorraginas, e perda para o terceiro espaço.
Há diarreia e vomito, reduzindo o volume liquido circulante.
Hemorragia digestiva, muitas vezes ultrapassando 1 litro de perda sanguínea por episódio de hematêmese (vômito sanguinolento), pode vir a ser 'a pá de cal' que lançará o paciente no choque hipovolêmico (PAM < 60 mmHg), baixa perfusão, insuficiência renal e toda a série de complicações que a acompanham.
Assim sendo, melhor não dar chance à intercorrências, sendo prudente o uso de omeprazol e ranitidina venosos na prevenção de complicações decorrentes de hemorragia digestiva alta e baixa no acidente laquético no Sul da Bahia, e muito possivelmente em todo o sul do rio Amazonas.
Para adultos com hemorragia volumosa já vigente, eu prescreveria:
1) Omeprazol 40 mg, 02 frascos (80 mg), em 50 ml de SF 0,9%, EV, 12/12 hs.
2) Ranitidina 50 mg, 02 ampolas (100 mg), em 20 ml de ABD, EV, 8/8 hs.
Para adultos com hemorragia moderada, ou como forma de prevenção, eu prescreveria:
1) Omeprazol 40 mg, 01 frasco, diluir em 20 ml de ABD e fazer EV, 12/12 hs.
2) Ranitidina 50 mg, 01 ampola, diluir em 20 ml de ABD e fazer EV, 8/8 hs
A foto acima ilustra um episódio moderado de hematêmese (< 200 ml, em coágulos), que atendi á poucos minutos (15/10, 16 hs).
Quanto à doses pediátricas, não gosto nem de pensar. Vejo morte em 15 minutos, como ocorreu com o pequeno Jacques do Amor Divino, no entorno de Itacaré, BA. Quando entrevistei os familiares, a mãe me disse: "não deu tempo de tomar nem um comprimido Doutor". Foi um acidente laquético com múltiplas picadas, quando a criança saiu de casa à noite para urinar, pisando numa surucucu. Na hipótese deste paciente chegar à unidade hospitalar, a prevenção e tratamento das hemorragias digestivas se daria da seguinte forma:
1) Ranitidina, 2 mg/Kg/dose, EV em ABD, 12/12 hs
2) Omeprazol, 0,7 mg por Kg de peso/dia, EV em ABD.
Manifestações de hemorragia digestiva baixa são mais tardias. Fezes em cor de 'borra de café', escurecidas, tecnicamente chamadas de 'melena', indicam sangue abaixo do estomago, extravasando e sendo digerido. Presenciei melena de cerca de 2 litros, na decima sexta hora de evolução de acidente laquético, com paciente em hipotensão severa.
sábado, 12 de outubro de 2013
Sobre o o extrativismo de colarinho branco, as 400 lachesis mortas, e outros causos medonhos
Já fui acusado de 'venda de veneno' por um grande da herpetologia nacional, mas a verdade é outra
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/os-essenciais-6-argolo-anibal-marcelo-e.html
Sexta feira, 30/10/2009. Hotel Casablanca, Itabuna, Bahia. Na mesa do café da manhã, e ao lado da minha fonte insuspeita, dois figurões e uma figurona, do Instituto Butantã, discutem alegremente como conseguir guias de transporte animal falsas, para a esquentar a carga ilegal que rumava para São Paulo e que os aguardava no quarto: veneno de surucucu (extração não autorizada pelo Ibama / ICM Bio, realizada na antiga Mãe Joana, a CEPLAC*), sapos e girinos, talvez cobra viva. Extrativismo ilegal do colarinho branco.
*Dras Aline e Samanta, do Núcleo de Fauna do Ibama, Rio Vermelho, Salvador, e Dr. Djalma N. Ferreira (Ibama PNUD) botaram fim à farra. Menos munição para os inimigos, que procuram desde sempre associar-me a todo o veneno de surucucu que surge 'do nada' no sul da Bahia.
Há outras formas de extrativismo na região, como o extrativismo de sobrevivência, legal e ilegal. Na ida para o trabalho em Serra Grande hoje, dei carona para Sinho. Pescador, forte, vinte e poucos anos. tem um irmão que parece seu gêmeo. "O senhor que gosta dessas coisas escute só ...". Sinho sabia de coisa que eu gosto de escutar (?), e prosseguiu (os parenteses com explicações são meus):
'Estávamos lá fora (pescando em alto mar com a jangada da Bahia, toras de madeira unidas, sem acabamento) quando ele (o irmão) deu de assoviar e eu disse: 'pare com isso'. Nessa época tem baleia e eu vi que estavam no pesqueiro. Assovio atrai elas. E ele não parava com aquilo. Só parou quando a primeira chegou junto. Aí ele parou e já chorando. E eu disse: 'não te falei, e agora ?' A jubarte vei chegando e eu ví o olhão desse tamanho assim, me encarando de lado. Depois passou por baixo e veio se coçar. Pensei: 'agora morro', mas piorou. Botou uma mão dentro da embarcação, que ficou de pé assim (explica que a jubarte repousou a beirada da nadadeira dianteira direita sobre a borda da jangada, elevando a outra extremidade, onde os irmãos estavam empoleirados, em quase 90° em relação à superfície do oceano). E aí foi só reza Doutor. Peguei com Deus e ela foi embora. Não sei se volto mais para o mar. Por mim nem ia, mas tem os meninos, o Senhor sabe ..." Sinho acertou, isso é coisa que eu gosto de escutar, viajei.
Sinho e irmão representam o extrativismo legal de sobrevivência, duríssimo. Gilmar representa o extrativismo ilegal de sobrevivência. Voltava de Serra Grande hoje, quando o vi com essa Irara (Eira barbara) ou 'Papa-mel': uma fêmea amamentando. Pedi a foto, conversamos um pouco. 'Tem carne aqui' ele me disse feliz, rumando para casa. Eu, de barriga cheia, é que não vou fazer discurso. Mas posso empregá-lo se tudo der certo. Se Gilmar fosse pego nessa situação era cadeia. Se os figurões fossem interceptados no aeroporto, não tenho tanta certeza.
O extrativismo no NSG ainda não começou. Há a trilha da legalidade a percorrer. Por enquanto só aprendemos e ensinamos outros grupos a entender a surucucu, dentro e fora do Brasil, com frutos.
Nosso trabalho tem ajudado outros serviços, no Pará, Costa Rica, Venezuela e Colômbia, e por questão de segurança, é norma uma reciclagem contínua nos princípios básicos da lida com Lachesis.
Hoje abordaremos imobilização manual de Lachesis, o básico do básico. Essa reciclagem fica à cargo de quem mais entende do tema, professor José Abade. Para os videos abaixo fui escutá-lo, na quinta feira última, foi quando ouvi das '400 (quatrocentas) lachesis' ...
A imobilização manual de Lachesis não é simples, e é necessária no manejo, laço jamais. Já fiz o procedimento às centenas mas vou ver e rever esses videos por muito tempo.
Lachesis não sobrevive ao manuseio amador do traficante médio, desabastecendo a ponta. Esse e um dos motivos da sofisticação do trafico de Lachesis no Brasil; tem traficante capaz de produzir filhotes.
Enquanto finalizava esse texto recebi algumas imagens do Marcelo, que finalmente consegue viver de mergulho, e de uns poucos peixes, como essa garoupa excepcional, arpoada a 40 metros, em apneia e igualdade de condições. Extrativismo legal em estado de arte.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Réquiem para mim mesmo
Meus filhos se sairão melhor na vida do que eu. Ontem foi aniversário de Luquinha, 11 anos, e foi ele quem me presenteou com seu pragmatismo precoce.
É que a BBC de Londres iniciou uma divulgação de nosso trabalho em Serra Grande. O programa de radio atinge 180 milhões de pessoas. O texto escrito não menos que 100 mil. E junto com o trabalho em Serra Grande, a BBC menciona a critica que faço ao projeto Porto Sul, o que levou tanto Luquinha quanto Gabriel à arrepios: "O que você ganha com isso papai ? Esses caras vão te fuder ..."
O texto da BBC está aqui: http://www.bbc.co.uk/news/magazine-24396013
Após ser eleita, Dilma Rousseff foi descansar na casa de meu amigo João Paiva, perto do Núcleo Serra Grande. É a casa mais bonita que conheço. Foi o ultimo trabalho de Claudio Bernardes, 'gênio sem diploma, psicólogo de seus clientes' http://www.bernardesarq.com.br/pt-br/escritorio A beleza maior da casa é o dialogo que ela faz com o ambiente. A chuva corre dentro da sala, com força. Os quartos são plataformas como que lançadas à copa da mata atlântica. O mar e o horizonte emolduram o conjunto de onde se avistam as jubartes.
Todo esse cenário desaparecerá - salvo veto superior - cedendo espaço para gigantes cinzas em manobras, vazando suas excrecências no entorno, como em todos os mega portos de que se tem noticia. Antes do porto em si os trilhos do trem numa área de proteção ambiental, 'Patrimônio da Humanidade' pela UNESCO. E bastaria um acordo com a Vale do Rio Doce, dona de trilhos prontos que seguem para Aratu, para que a região permanecesse pura para sua vocação original de encantar pelo que já é.
Tive um sonho, falava a um grupo de umas 20 pessoas serenas, gente próxima dos 60 anos. Estávamos em volta de uma grande mesa dessas de reuniões empresariais, mas era uma mesa rústica. Eu expunha que meus laços de família eram meio à Clarisse Lispector. Uma mulher, representante do grupo, de pé e em postura respeitosa, avaliou em voz alta um diagrama que representava minhas atitudes internas, e sentenciou uma especie de absolvição: 'o que vale é sua alma'. Acordei nessa frase.
Esse sonho tão absurdamente nítido nas nuances, me lembrou de quando eu ainda era místico e comprei um baralho de Tarô, estudei o sistema e joguei cartas para mim mesmo. A carta 'do futuro' deu corretamente em 'O Louco'. Um sujeito de poucas posses, alegremente caminhando com um cachorrinho na beira de um abismo. Não sei de onde vem meu otimismo, talvez da esperança de que o que valha seja de fato a alma.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Breno e o Inferno
"O verdadeiro local do nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos" (Marguerite Yourcernar, em "Memorias de Adriano"), e assim sendo, Breno nasceu aos 18 anos de idade num CTI no Pará. Picada de coral verdadeira, insuficiência respiratória, ventilação mecânica, um calvário de complicações, dezesseis cirurgias para correção de problemas relacionados à entubação oro-traqueal e traqueostomia.
Foi tempo o suficiente para o menino repensar sua trajetória de precocidades e falta de limites internos, e lançar sobre si mesmo o tal olhar inteligente, renascendo. Confira aqui http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0036-46652010000600009&script=sci_arttext o acidente supra citado, em detalhes.
Conheci Breno através do blog. Escreveu comentado postagens sobre o efeito do veneno de Lachesis nos rins e coração. Biólogo, profissional de campo competente e dedicado, coordenador de difíceis resgates de fauna no Pará, foi também vitima de acidente laquético, e de fato desenvolveu problemas cardíacos e renais crônicos. Em suas palavras: ' ... tive um acidente com Lachesis ... (e posteriormente) o exame cardiológico mostrou batidas descompassadas e o próprio médico falou que não era normal ... e o endócrino falou que tenho os rins de um senhor de 50 a 60 anos ..."
Breno e sua mãe me confirmam a presença de sintomatologia claramente neurotóxica neste acidente: a total impossibilidade de deglutir (nem a própria saliva) já nos primeiros minutos do acidente, cegueira, 'cara de bêbado' (fascies neurotóxica'), além da clássica dor abdominal e sinais de hemorragia digestiva ('diarreia muito escura').
Aqui o acidente em detalhes http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-59072007000100007&lng=en novamente em trabalho de Pardal e colaboradores.
No link abaixo nossa posição sobre a neurotoxicidade em Lachesis:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/05/neurotoxicidade-em-lachesis.html
O braço picado voltou ao 'normal' em oito meses, 'não segurava nem 1 kg' até então. Aos socorristas, chamamos novamente a atenção para o espaçamento entre presas: 5 cm é bicho monstruoso, que nos leva a considerar o acidente laquético já ao primeiro contato com o paciente. Confira abaixo:
Escrevi recentemente sobre o orgulho de 'inspirar a moçada', referindo-me ao fato de que universitários do Brasil, America do Sul e Central nos procuram para estágios em Serra Grande. Aqui deu-se o contrário, 'a moçada' me inspirou.
'Deixai toda a esperança, ó vós que entrai', são os dizeres no portal do Inferno de Dante (1265-1321). Não foi esse o caso de Breno, que em algum lugar de si guardou o desejo de retorno à luz e à sobriedade, e assim procedeu, guiado por uma pequena joia viva, cheia de anéis vermelhos e pretos.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Sobre a surucucu que não é
Já escrevi sobre elas: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/04/o-mito-da-cobra-verde-e-da-coral.html
Gente experiente, com uma vida inteira nas cabrucas do cacau - um ambiente sombreado - costuma usar chapéus de aba larga no trabalho aqui no sul da Bahia. Deraldo, que já levou bote na cara, me disse que é pra proteger da 'ouricana', ou 'surucucu-de-ouricana', ou 'pingo de ouro': 'a bocada bateu aqui na pontinha do boné, doutor, foi por pouco ..."
Sigo com Deraldo: " ... é uma rudilhazinha assim de nada, aquele verde nas fôia, quem vê ? ..." Confira um acidentado, abaixo:
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol42Num10pp161-163%282007%29.pdf
O pai de Roque, técnico do biotério do NSG, tem retração cicatricial brutal no cotovelo com limitação funcional permanente, pela ação proteolítica do veneno da 'ouricana'. Animal mais que respeitável.
Há quem se alegre ao vê-las, Paulo Bernarde um deles, eu outro. O problema normalmente é não vê-las. Em incursões em matas Atlântica e Amazônia, não é prudente olhar só para o chão.
Há alguns dias Paulo avistou três delas. Onde, não conto nem sob tortura. Há pelo menos um mega traficante de répteis que acompanha o blog. É bicho de interesse dessa turma.
Os bichos de Paulo estavam a 3, 6 e 10 metros em relação ao chão. Acabo de receber autorização dele para mostrar as imagens:
A título de comparação, confira abaixo 'o mesmo' animal, em bioma de Mata Atlântica, em registro de Marco Antonio de Freitas. O dimorfismo é claro:
Paulo observou que uma das 'ouricanas' fazia o engôdo caudal, movimentando a cauda de forma a atrair batráquios:
Obrigado por tudo Paulo, em especial por uma vida inteira de dedicação ao estudo e preservação destes habitantes da noite.
sábado, 14 de setembro de 2013
Surucucu e o Cérebro
Dra. Fátima Furtado, em comunicação pessoal:
'O veneno das serpentes é uma mistura altamente complexa, capaz de causar vários danos quando injetado em seres vivos. A ação hemorrágica é causada por ações nos vasos sanguíneos levando ao rompimento da parede do vaso e causando a saída do sangue para os tecidos. Também apresentam ações sobre o sistema de coagulação do sangue, tornando o sangue incoagulável. Estas duas ações atuam juntamente, agravando o quadro de envenenamento, pois o sangue incoagulável saiu com maior facilidade pelos vasos sanguíneos rompidos'
A tomografia acima é cortesia do Neurocirurgião Eric Jennings, que à época atuava em Santarém. Mostra uma hemorragia volumosa na região temporal direita do cérebro, após picada de surucucu, e que teve desfecho fatal.
Conheci caso semelhante na localidade de João Alfredo, Maraú, Bahia, quando um paciente picado por surucucu recebeu alta hospitalar com quarenta e oito horas de internação, erro médico. Morreu em casa no terceiro dia, após súbita perda de consciência, convulsão e parada cardíaca. Testemunhas me falaram dos 'olhos virados' (desvio conjugado), e convulsão, típicos dos AVEs agudos.
Surucucu e os Rins
Novamente valho-me de Bernardo Esteves (Revista Piauí n° 83, agosto de 2013), testemunha ocular de uma das muitas entrevistas que conduzo à anos com gente picada por surucucu, tentando entender a clinica dos acidentes, em especial indícios de neurotoxicidade direta - paralisias, alterações sensoriais - mas, nessa entrevista especifica, fui lembrado da potencia do veneno de Lachesis no nosso sistema gênito-urinário, em nossos rins, tópico dessa postagem.
"Souza guiava rumo a Serra Grande, distrito do município de Uruçuca, no sul do litoral baiano. Naquela noite de outono, tinha marcado um encontro com Francisco Santana da Conceição, um homem parrudo de 35 anos, que os amigos chamam de Tureba. Levou-o a uma pizzaria para ouvir e filmar seu depoimento. Queria que Tureba contasse o que aconteceu no dia em que foi picado por uma surucucu.
Alguns anos atrás, o trabalhador rural passava por uma trilha quando uma serpente de mais de 2 metros avançou sobre ele. "Foi uma porrada na perna que quase me jogou do outro lado do caminho", recordou, impressionado com a potencia do bote. Apesar da dor intensa, que se irradiou logo pelo corpo, conseguiu andar até encontrar uma mulher a quem pediu socorro. Minutos após o ataque, já não tinha forças para se mexer. A caminho do hospital, a vista escureceu. "Na ambulância eu reconhecia a voz da minha mãe e do meu tio, mas, por mais que abrisse o olho, eu não conseguia enxergar". Teve hemorragia digestiva e vomitou muito.
Tureba foi levado para Ilhéus e recebeu a tempo o soro que anula a ação do veneno. Ficou oito dias na Unidade de Terapia Intensiva. Em decorrência do acidente, teve insuficiência renal e precisou fazer hemodialise. "Só fiquei bom pra valer seis meses depois", contou. Rodrigo Souza queria saber se ele tinha sentido a garganta travada, como aconteceu com outras vitimas da surucucu. "Você não consegue engolir nem a própria saliva', confirmou Tureba"
O acidente laquético é inequivocamente nefrotóxico. Além da ação direta do veneno, a hipoperfusão por hipotensão e bradicardia podem agravar em muito o quadro, o que nos remete à necessidade de infusão vigorosa de volume nos acidentados.
Alves C.D (2010), Mestre em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará, conduziu excelente ensaio sobre o tema. Abaixo seu Abstract, que dispensa comentários:
'O acidente causado pela serpente Lachesis muta muta é grave e o seu veneno é responsável por uma série de alterações sistêmicas, como a hipotensão arterial. Neste trabalho, foram investigados os efeitos renais do veneno total desta serpente em sistema de perfusão renal e em cultura de células tubulares renais do tipo MDCK (Madin-Darby Canine Kidney). Foram utilizados ratos Wistar machos pesando entre 250 e 300g, cujos rins foram isolados e perfundidos com Solução de Krebs-Hanseleit contendo 6%p/v de albumina bovina previamente dialisada. Foram investigados os efeitos do veneno (10 µg/mL; n=6) sobre a Pressão de Perfusão (PP), Resistência Vascular Renal (RVR), Fluxo Urinário (FU), Ritmo de Filtração Glomerular (RFG), Percentual de Transporte Tubular de Sódio (%TNa+), de Potássio (%TK+) e de Cloreto (%TCl-). O veneno da Lachesis muta muta foi adicionado após 30 minutos de controle interno. As células MDCK foram cultivadas em meio de cultura RPMI 1640 suplementado com 10% v/v de Soro Bovino Fetal e então avaliadas na presença do veneno total da serpente Lachesis muta muta nas concentrações 1µg/mL, 10µg/mL e 100µg/mL. Após 24 horas de experimento, foram realizados ensaios de viabilidade e citotoxicidade celular. O veneno total, na dose de 10µg/mL, causou redução transitória na pressão de perfusão (C60= 108,27 ± 4,88 mmHg; VT L. m. muta60= 88,17 ± 5,27# mmHg; C90= 108,69 ± 5,08 mmHg; VT L. m. muta90= 78,71 ± 6,94#* mmHg) e na resistência vascular renal (C60= 5,57 ± 0,49 mmHg/mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 3,50 ± 0,22# mmHg/mL.g-1.min-1; C90= 5,32 ± 0,57 mmHg/mL.g-1.min-1; VT L. m. muta90= 3,11 ± 0,26#* mmHg/mL.g-1.min-1) além de aumento do fluxo urinário (C60= 0,158 ± 0,015 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 0,100 ± 0,012# mL.g-1. min-1; C120= 0,160 ± 0,020 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta120= 0,777± 0,157#*) e do ritmo de filtração glomerular (C60= 0,707 ± 0,051 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta60= 0,232 ± 0,042# mL.g-1.min-1; C120= 0,697 ± 0,084 mL.g-1.min-1; VT L. m. muta120= 1,478 ± 0,278#* mL.g-1.min-1). A dose estudada também promoveu redução significativa do percentual de transporte tubular de sódio (%TNa+), potássio (%TK+) e cloreto (%TCl-) nos três períodos analisados (30, 60 e 90 minutos), com conseqüente aumento do clearence osmótico(Cosm) (C90= 0,141 ± 0,011; VT L. m. muta90= 0,309 ± 0,090; C120= 0,125 ± 0,016; VT L. m. muta120= 0,839 ± 0,184#*). A avaliação histopatológica revelou a presença de áreas focais com células com núcleos picnóticos nos túbulos renais dos rins perfundidos com veneno. O veneno também apresentou efeito citotóxico sobre as células MDCK apenas nas concentrações de 10µg/mL e 100µg/mL reduzindo a viabilidade destas células a 38,60 ± 17,9% e 10,62 ± 2,9%, respectivamente. Estes resultados demonstram que o veneno total da Lachesis muta muta alterou todos os parâmetros renais avaliados na perfusão renal, induzindo hipotensão transitória e intensa diurese. O veneno também possui ação citotóxica sobre as células MDCK após 24 horas de incubação.'
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Surucucu e o Coração
Dr. Rogério, Cardiologista, manda Email comentando a postagem "Primeiros socorros aos acidentados por animais peçonhentos no Brasil ...", e confirmando em sua experiencia clinica, a hipótese da cardiotoxicidade direta no escorpionismo envolvendo Tityus serrulatus:
'... fizemos de tudo, e rápido, inclusive soroterapia especifica nas duas primeiras horas de evolução, mas a fração de ejeção estava em 12, nunca vi uma evolução tão rápida num adulto jovem, e previamente hígido...'
'Fração de ejeção' (FEVE) é a força com que o ventrículo esquerdo injeta sangue em nosso organismo, e num jovem adulto saudável deverá ser superior a 55%. 40% já é diagnóstico de 'disfunção sistólica'. 12% é insuficiência cardíaca severa com risco eminente de morte.
Há um excepcional Cirurgião Geral mineiro, José Renan da Cunha Melo, professor de Cirurgia do Aparelho Digestivo do H.C da UFMG, nascido em Araçuaí, que tem outros relatos semelhantes à este acima ocorridos no Vale do Jequitinhonha; outro grande cirurgião do Vale, meu mentor Jansen Cherfani Tanure (CAD HC UFMG), também teve a infeliz oportunidade de vivenciar o escorpionismo fulminante num primo com 16 anos de idade. É fato: alguns casos cursam com uma especie de impregnação irreversível no aparelho cardiovascular, em adultos inclusive. A GRANDE MAIORIA DOS MÉDICOS NÃO SABE DISSO, E TENDE A SUBESTIMAR O ESCORPIONISMO.
Mas retornando ao texto de Dr. Rogério, ''... gostaria de saber se com a surucucu ocorre alguma lesão cardíaca direta, lí seu relato de hipotensão e bradicardia, mas como eventos de instalação praticamente imediata, não creio que devam a cardiotoxicidade direta ..."
OK Dr. Rogério, e vamos lá: falando de Viperídeos, existem varias alterações cardíacas no acidentados. Alterações de frequência e ritmo (bradicardia e taquicardia sinusais). Padrões de isquemia miocárdica e mesmo infarto. E finalmente arritmias por bloqueio.
Parenteses para os não médicos: o termo 'sinusal' acima significa que apesar da frequência cardíaca estar aumentada (taquicardia) ou diminuída (bradicardia), o ritmo é constante. Não tem aquela de 'bate uma e falha duas'. O termo 'bloqueio' acima significa obstaculo à condução elétrica que move o coração.
Um soldado de 23 anos, saudável, foi picado por surucucu na Colômbia em 1991 e desenvolveu um tipo de lesão cardíaca permanente seis semanas após o acidente, que pediu implantação de marca-passo definitivo. O caso foi publicado por Orjuela e cols em 1992, na Revista Colombiana de Cardiologia (RCC, 2002 ; 9:361-364).
Dr. Rogério, o distúrbio supra citado foi um BAV de segundo grau, do tipo Mobitz I, sintomático (sincope, náusea), ilustrado abaixo. Mesmo o leigo pode ver que o coração do rapaz não é mais um reloginho, e que as ondas do traçado não tem mais um padrão regular. O intervalo P-R vai aumentando, aumentando, e então temos um bloqueio na condução, com P-P sem QRS.
É isso então, veneno surucucu pode sim lesar diretamente o coração. Grato pela visita, e à disposição.
domingo, 8 de setembro de 2013
Subcão
Um leitor da Piauí pergunta: 'Qual a razão para o otimismo ?' Referindo-se ao fato de que sigo adiante em meio a tantas ameaças, 'como um azarão, um underdog, um subcão ...'
Há vários motivos para seguir em frente, a começar pela causa em si e pela possibilidade que tenho de fazer a diferença no futuro de Lachesis muta rhombeata. Mas é de dentro do próprio Ibama que retiro esperanças concretas.
Após quatro anos de exaustiva analise das questões envolvendo o Núcleo Serra Grande, foi gerada a informação técnica NUBIO n° 180/08, pelo Núcleo de Biodiversidade da Superintendência do Ibama Bahia, Dra. Aline Borges do Carmo, cuja integra inicia-se na folha 370 do volume II do processo, e cuja conclusão transcrevo em parte, abaixo:
"As documentações exigidas pela NUBIO para emissão de Licença de implantação de um criadouro comercial foram atendidas pelo interessado. Entretanto, o interessado tem pendência em seu nome relacionada a um auto de infração, conforme processo n° 02006.005689/04-76.
(Nota minha: recorri desta autuação, tive indeferido meu recurso, e a multa foi paga. O processo criminal que é aberto junto ao administrativo foi dado por proscrito pelo Juiz de Itacaré, Dr. Alexandre Valadares Passos, em 31/08/2008, n° SAIPRO 2167345-7/2008).
Considerando a complexidade desta situação; considerando-se que o interessado tenta regularizar suas atividades desde 2004, não obtendo sucesso até então; considerando a dificuldade de manutenção da espécie Lachesis muta em cativeiro por instituições legalmente aptas para tal; considerando-se a área onde o criadouro estar localizado ser de ocorrência natural abundante da espécie em questão e estar em processo de expansão urbana desordenada devido ao apelo turístico, sendo natural o encontro da serpente, de alta periculosidade, por cidadãos; considerando-se a dificuldade de deslocamento do EsReg Ilhéus do IBAMA e do CRA para atender a demandas especificas relacionadas ao resgate desta espécie no município de Itacaré, tendo a própria Secretaria De Meio Ambiente, responsável pelo resgate neste caso, declarando-se inapta a realizar tal procedimento, havendo recorrido diversas vezes ao interessado para que ele resgatasse serpentes, tendo citado um acordo informal entre o poder publico e o interessado (fls 196 a 201 processo n° 02006.005689/04-76)"
E também, no memorando NUBIO n° 074/2008 de 05 de junho de 2008, a mesma Dra. Aline (Núcleo de Fauna IBAMA, de Salvador), cuja integra encontra-se na folha 376 do processo, pronuncia-se da seguinte maneira:
"A analise técnica do processo já foi finalizada e as documentações exigidas já foram apresentadas pelo interessado. Entretanto, como corre paralelamente um processo relacionado a Auto de Infração ( proc. n° 02006.005689/04-76), este Núcleo optou por aguardar uma posição desta PFE antes de conceder a referida licença. Há algumas peculiaridades referentes ao processo que devem ser consideradas com bastante cautela em sua analise, conforme expomos a seguir:
- O interessado vem tentando regularizar sua situação desde o anos de 2004, não tendo conseguido até então, devido à falta de documentação necessária, já sanada atualmente, e posteriormente à pendência relacionada ao Auto de Infração em seu nome;
- A apreensão e destinação dos animais em posse do interessado é uma ação delicada e perigosa. A espécie em questão é a maior serpente peçonhenta brasileira, sendo poucos os técnicos habilitados a manejá-la. Não temos, no IBAMA de nosso estado, técnicos com tal capacitação. Alem disso há apenas três instituições no Brasil habilitadas pelo Ibama a receber esta espécie, e tais instituições tem dificuldades de manter vivos seus exemplares por se situarem em locais distantes na área de ocorrência do animal e pela espécie ser exigente em relação ao clima;
- A região onde o criadouro está instalado (município de Itacare dista cerca de 60 Km da Unidade do IBAMA mais próxima, o EsReg de Ilhéus, que não tem tido condições de atender demandas relacionadas a resgate de serpentes no local. A Secretaria de Meio Ambiente de Itacaré relatou em correspondência anexada ao processo Auto de Infração, que etm uma 'parceria informal com o interessado', na qual ele realizaria o resgate de animais naquele município pela falta de atuação do IBAMA, CRA e Corpo de Bombeiros nestes casos.
Por todas estas motivações, este NUBIO acredita que a melhor ação a ser tomada, neste caso, seja concessão de Autorização de Instalação do referido empreendimento, até como forma de melhor acompanhar, através de vistorias anuais, as atividades do interessado, tomando providencias cabíveis quando as mesmas forem consideradas ilegais"
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
A mais
"Qual é a cobra mais venenosa do mundo ? Qual é a cobra mais venenosa do Brasil" Perguntas frequentes no blog.
É questionamento aparentemente simples, mas de resposta complexa: tem veneno que é fraco no laboratório, mas devastador quando inoculado num ser humano.
Durante a coleta de informações para a matéria da revista Piauí, Bernardo Esteves me fez essa pergunta fatídica, sobre 'a mais', e para respondê-lo, indiquei um paragrafo de Hardy e Haad, publicado pela Chicago Herpetological Society, em 1998*, e que alude ao fato de que uma coisa é teste de potencia de veneno em ratos, outra coisa é a clinica dos envenenamentos em humanos.
* Bull. Chicago Herp. Soc. 33(6):113-123, 1998. "A Review of Venom Toxinology and Epidemiology of Envenoming of the Bushmaster (Lachesis) with Report of a Fatal Bite"
Valendo-me da habilidade um profissional da palavra, e sua incrível capacidade de transformar matéria complexa em algo palatável, transcrevo Bernardo Esteves:
"A toxicidade do veneno de uma serpente é convencionalmente medida por uma unidade que os especialistas chamam de DL 50, que corresponde à dose letal suficiente para matar 50% dos camundongos injetados com a substancia. Mensurada por este método, a peçonha da surucucu não impressiona. Tome-se o exemplo da cascavel, uma das serpentes mais letais para cobaias. 'São necessários 1,5 ou 2 microgramas desse veneno para matar um camundongo' afirmou Aníbal Melgarejo. 'Já com a surucucu, você precisa de uma quantidade 150 a 300 vezes maior'
A baixa letalidade do veneno de Lachesis em cobaias não reflete os efeitos devastadores descritos nos poucos relatos de picadas em humanos descritos na literatura. O americano David Hardy e o colombiano Juan José da Silva Haad discutiram essa discrepância num artigo de 1998. Concluíram que extrapolar os dados de DL 50 de uma especie para outra era uma futilidade.'A lição que fica é que camundongos não são seres humanos', escreveram. 'As dez cobras mais venenosas do mundo não são necessariamente as listadas nos documentários de TV a cabo - amenos que você seja um rato ou porquinho-da-índia'
O herpetólogo americano Dean Ripa mantem em Wilmington, a cidade onde nasceu, na Carolina do Norte, um serpentário aberto ao publico que abriga mais de quarenta espécies venenosas de cobras, trazidas por ele de vários cantos do globo. Sua coleção inclui as serpentes mais temidas do mundo, como a naja-real, a mamba-negra, e a víbora-do-gabão. Ripa tem um fascínio especial pelas Lachesis, sobre as quais escreveu um elogiado livro de referencia. Em seu site, ele diz ter sido mordido catorze vezes por cobras venenosas, das quais sete por Lachesis. Quando lhe pedi que comparasse o envenenamento por surucucus e outras especies, recebi dele o seguinte relato por email:
Entrei em colapso físico em quatro minutos após ter o veneno inoculado numa ocasião, em sete minutos em outra, e em vinte e cinco na terceira. a mordida é muito diferente da de outros viperídeos por provocar incapacitação e morte de forma muito, muito rápida Por outro lado a destruição de tecido é comparativamente baixa, se você sobreviver (e, claro, tiver soro antiofídico . Das outras sete mordidas de viperídeos que levei, a surucucu foi de longe a que apresentou o pior quadro sistêmico, mas causou o menor estrago local"
Em 2007 publiquei na Chicago Herpetological Society, o primeiro caso de acidente laquético com evolução minuto a minuto e não tenho duvidas: é picada que pode matar adulto saudável em menos de uma hora. O veneno de cobra mais potente que se conhece, no laboratório, é o da taipan do interior australiano (existe a taipan costeira), ou Oxyuranus microlepidotus. Mata pouco em função da perfeição do sistema medico e de resgates australiano. O sujeito fica bem mal em seis horas, morre entre oito e 24 horas depois da inoculação. Picadas de coral verdadeira no Brasil também podem matar nesse intervalo de tempo, ou menos.
Assim, cabe-me aqui não fechar questão sobre essa ou aquela cobra como sendo 'a mais'. Há bichos no Brasil que exigem prevenção, pois em caso de acidente, o desfecho para nossas vidas é incerto. Essa é a mensagem.
Em tempo, o nome Lachesis vem da mitologia grega, deusa do destino, aquela que tece o fio com o tamanho do nosso tempo de vida.
Para acidente laquético minuto a minuto, em acidente ocorrido no Núcleo Serra Grande, confira:
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol42Num7pp105-115%282007%29.pdf
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Mole, Ditmars, Amaral, e o enigma dos ovos
Ao final da postagem "Os essenciais 6", afirmo que não há especialistas no gênero Lachesis e que somos todos aprendizes, pois tudo envolvendo as surucucus é muito recente.
Um exemplo disso é o artigo de 1925 de Afrânio Amaral onde se lê:
"... se a suposição levantada por Ditmars, a respeito da oviparidade de Lachesis muta fosse futuramente confirmada, nós teríamos mais um argumento para separar esta especie das de um outro gênero neotrópico, Bothrops, porque estas ultimas são todas reconhecidamente ovo-vivíparas ..."
R.R. Mole, de Port of Spain, Trinidad, parece ter sido o primeiro a levantar a hipótese da oviparidade em Lachesis. No livro de Ditmars, 'Reptiles of the World', de 1910, há uma foto de Mole onde uma Lachesis repousa sobre ovos, 'que foram considerados como seus'.
No artigo de Amaral, lemos que desejoso de que 'suas observações fossem confirmadas', Mole chegou a enviar uma surucucu viva e supostamente gravida para Ditmars, então curador de répteis do NY Zoo, na esperança de que houvesse postura de ovos e encubação dos mesmos num ambiente mais controlado. A cobra morreu durante a viagem, e a duvida permaneceu.
Amaral então nos relata que em 6 de dezembro de 1921, o Professor Pirajá da Silva, em Maraú, Bahia, recebeu do Sr. José D'Almeida Sobrinho uma surucucu viva, que rapidamente faleceu na caixa onde havia sido guardada, e que a mesma havia depositado 'onze grandes ovos' naquele recinto.
Cobra e ovos foram enviados para o Butantã, onde Amaral os estudou, concluindo então pela oviparidade em Lachesis, em 1925. Abaixo a prancha original do artigo de Amaral, bem como a tabela por ele elaborada para a diferenciação Lachesis x Bothrops, agora incluindo a oviparidade das surucucus.
O titulo original do artigo de Amaral é 'Sobre Lachesis muta DAUDIN, 1803, especie ovípara', Revista do Museu Paulista, março de 1925.
sábado, 31 de agosto de 2013
Mea culpa
Em maio de 2013 publiquei a postagem "Matrix, sincronicidade e sorte na vida":
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/05/matrix-sincronicidade-e-sorte-na-vida.html
Naquele texto relato um bote de surucucu no meu rosto, e do qual escapei por pouco com uma técnica pouco ortodoxa. Mas vindo da minha boca, sei que pareceria exagero, ou mentira mesmo. Esperei então que uma testemunha ocular, Bernardo Esteves, publicasse sua visão do ocorrido na revista Piauí numero 83, de agosto de 2013:
"No fim da manhã em que visitamos o serpentário, Rodrigo Souza trouxe duas surucucus e deixou-as soltas no chão, numa área aberta. Eram dois machos. Um deles, de 1,90 metro, estava enrolado, imóvel. O outro tinha 2,20 metros e estava mais irrequieto, explorando o ambiente, com batimento de língua em alta frequência. "Ela está mostrando claramente que está tranquila, mas muito alerta", avaliou Souza.
O médico sentou-se sobre a terra coberta de folhas, com as pernas dobradas para o lado, a pouco mais de 1 metro das cobras. Segurava um pedaço de pau com a ponta dobrada que estava usando para manejá-las. O animal mais agitado aproximou-se da serpente imóvel e fuçou o chão, num ponto em que ela havia colocado a cloaca. As duas surucucus ergueram a cabeça e se encararam, batendo a língua uma na outra. "Está havendo uma interação meio maluca entre elas", disse Souza."Não estou entendendo exatamente o que está acontecendo, vamos acompanhar."
A surucucu mais inquieta havia contornado o animal enrolado e agora rastejava na direção de Souza, que evitou sua aproximação com o pedaço de pau. Ela parecia ter identificado uma fonte térmica à sua frente. A cobra ergueu-se então até a altura do peito do médico e recuou ligeiramente a porção do corpo que estava acima do chão. Não vibrou a cauda sobre a folhagem para anunciar o voo preciso em que se lançou em direção ao rosto de Souza. O médico encontrou tempo de se jogar para trás numa cambalhota cinematográfica, aterrizando a 2 metros do animal.
"Agora acabou !", exclamou Souza, enquanto brandia o gancho na direção da cobra que acabara de atacá-lo, ainda armada com um duplo S. A serenidade de alguns instantes atrás dera lugar a um semblante de tensão e alerta. Souza escapou do bote certeiro por muito pouco, executando um rolamento para trás que ele pratica semanalmente nas aulas de Krav Magá, a defesa pessoal do exército israelense."
Meu filho Luca, de 10 anos, viu assim a situação. O olho arregalado é mais que preciso ...
Meu momento de aposentadoria na lida com Lachesis pelos métodos do Núcleo Serra Grande - quase zero de manipulação na região cervical, laço nunca, em hipótese alguma - será aquele em que eu não possa mais contar com vigor físico que me permita explosões musculares reflexas, como esta descrita por Bernardo Esteves, acima. Outros botes virão, isso é certo.
A lição maior no episódio foi o ataque atípico, queimando etapas defensivas: imobilidade, batimento de cauda no chão, formação do duplo S, e então o bote. Também não houve a clássica redução nos batimentos de língua, o que indica que o animal está tenso, analisando a química do ar, planejando os próximos movimentos. Não, a cobra se movimentou decidida em direção à fonte térmica, e sem hesitação lançou-se rumo ao meu rosto. Somente depois, na foto abaixo, vi que meu macacão com isolante térmico estava aberto, mais uma razão para a desorientação termo-sensorial da pico-de-jaca. Mea culpa.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
VENENO
Tem pergunta que chega que dá até medo de ler, ainda mais vinda de universitários: 'o que é o veneno', 'qual a constituição do veneno da surucucu da Mata Atlântica ?'. É que aqui não cabem simplificações. É bioquímica pesada mesmo, que tentaremos transmitir de forma o menos tediosa possível.
O veneno de Lachesis muta rhombeata (LMR) apresenta componentes não tóxicos, destinados a facilitar a difusão dos componentes tóxicos no organismo da vitima/presa, e também os tóxicos, originados de algumas poucas famílias proteicas como metaloproteases, serinoproteases, fosfolipases A2, BPPs e lectinas tipo-C, que em conjunto são responsaveis pelos distúrbios sanguíneos e choque hipotensivo nos envenenamentos por Lachesis muta rhombeata.
A analise do proteoma da surucucu da Mata Atlântica (Santos, 2013), por espectrometria de massas e eletroforese bidimensional (EFB+EM), evidenciou as seguintes famílias proteicas: fosfolipases A2 (PLA2) na proporção de 37.93%; inibidores de proteases 22.41%, proteínas de sinalização intracelular 13.79%, NGFs 5,17%, metaloproteases 3,45%, fatores associados á DDB1 e CUL4 3,45%, oxirredutores 3,45%, proteínas de transdução de sinal 1,72%, componentes do complemento 1,72%, proteínas NipSnap 1,72%, proteínas lin-7 1,72% e 3,35% de outras proteínas, não classificadas.
As fosfolipases A2, na proporção de 37.93%, estão envolvidas na caça/busca alimentar de Lachesis muta rhombeata: estas proteínas induzem paralisação e hemorragias (inibição de agregação plaquetária) nos roedores caçados, e posteriormente sua digestão. 37,39% é valor mais que surpreendente: as fosfolipases corresponderam a 13,4%, 14,1%, 2,3& e 8,7% dos proteomas de peçonha de L. melanocephala (Costa Rica), L. stenophris (Costa Rica), L. acrochorda (Colômbia) e L. m. muta (Bolívia) respectivamente (Madrigal, 2012). Outros 3,45% do proteoma é representado por metaloproteases (atragina), relacionadas à alterações na coagulação sanguínea nas presas.
Em proporção de 22,41% aparece a família proteica das 'inibidoras de proteases', representada pela cistatina na peçonha de LMR. A cistatina como dito 'inibe proteases', em especial as metaloproteases P III que contem cisteína, inibindo crescimento, invasão e metástase de células tumorais in vitro e in vivo, e parece proteger a serpente de danos teciduais, ao envenenar-se a sí mesma (com suas próprias proteases).
Outras 13,79% das proteínas do veneno também não estão relacionadas à toxicidade direta, segundo o método EFB+EM, exemplos: os NGFs (fatores de crescimento neuronal) por exemplo, na proporção de 5,17% do proteoma da peçonha de LMR, atuam dentre outras formas, aumentando a suscetibilidade da região da picada a outros componentes do veneno, facilitando sua infiltração. 3,45% do proteoma da peçonha de LMR está relacionado às proteínas DDB1 e CUL4, relacionada à regulação de ciclo celular. Outros 3,45% deste proteoma engloba a família das 'oxirredutases' e se relaciona a processos de transferência de elétrons e oxirredução. 1,72% do proteoma é representado pelas 'proteínas de transdução de sinal', responsáveis por angiogênese e migração celular. Outros 1,72% do proteoma é representado pelos 'componentes do complemento', relacionados á processos inflamatórios e morte celular. Outros 1,72% do proteoma engloba as proteínas Nip Snap, que participam da curiosa função de 'ensacar' alguns componentes do veneno, formando vesículas, para que estes atinjam a circulação sanguínea do alvo da inoculação. Outros 1,72 do proteoma são representados pelas proteínas lin-7, envolvidas no transporte de componentes tóxicos do veneno aos tecidos da presa/vitima.
Com base na analise proteômica (EFB+EM) os principais processos biológicos desencadeados pela peçonha de LMR são inflamação, com 15,13% de proteínas da peçonha envolvidas diretamente nesse processo; miotoxicidade (14,47%) e degradação lipídica (14,47%) dos tecidos e membrana das presas, facilitando disseminação de veneno.E finalmente o processo biológico de'inibição plaquetária', também com 14,47% de proteínas do proteoma de LMR diretamente envolvidas, e responsáveis por hemorragias na presa. Todos estes processos são interligados, nas palavras de Santos (2013): "... as proteínas responsáveis pela degradação lipídica estão relacionadas com a produção de miotoxicidade local e sistêmica, que tem ação direta e especifica sobre musculatura esquelética, podendo levar a degeneração e morte celular (mionecrose). Por sua vez, essa lesão celular e tecidual pode desencadear respostas inflamatórias, levando ao aumento da permeabilidade vascular e da migração de neutrófilos, produzindo abscesso na região da picada. O interessante é que a inflamação também é causada por substancias provenientes do plasma e de plaquetas, e a inibição da agregação plaquetária por componentes da peçonha interfere na ação de mediadores inflamatórios, como o fator de ativação plaquetária que tem papel contrario ao ativar a agregação plaquetária..."
Outros processos biológicos desencadeados pelas famílias proteicas do proteoma peçonha de LMR, e a proporção de proteínas encontradas no veneno e diretamente relacionadas a esse processo são, segundo EFB+EM: migração celular (10,53%), inibição de proteases (8,55%), regulação da transcrição de DNA e RNA (5,92%), sinalização celular (2,63%), diferenciação neuronal (1,97%), ligação ao DNA (1,97%), angiogênese (1,97%), processamento de RNA (1,32%), regulação do ciclo celular (1,32%), danos endoteliais (1,32%), oxirredução (1,32%), transporte proteico/vesicular (1,32%), desenvolvimento celular (0,66%) e morte celular (0,66%).
Pelo método FPLC (Fast protein liquid chromatography) e sequenciamento N-terminal (FPLC+SNT), a peçonha de LMR evidenciou as seguintes famílias proteicas: serinoproteases (30,03%), metaloproteases (24,17%), BPPs (19,64%), PLA2s (14,95%), lectinas tipo C (1,94%), LAAOs (1,40%) e metaloendopeptidases (0,73%). Também segundo esse método (FPLC), os principais processos biológicos ocasionados pelas proteínas encontradas foram: fibrinólise (14,29%), interferência na agregação plaquetária (11,90%), hipotensão )9,52%), hemólise (9,52%), inflamação (9,52%), interferência na homeostase (7,14%), vasoativação (7,14%), angiogênese (7,14%), danos endoteliais (7,14%), inibição da migração celular (7,14%), degradação lipídica (2,38%), miotoxicidade (2,38%), proteólise (1,19%), atividade de hemaglutinação (1,19%), ligação à glicoproteínas da superfície celular (1,19%), e apoptose celular (1,19%).
A comparação dos resultados dos dois métodos, eletroforese bidimensional e espectrometria de massas (EB+ EM) de um lado, e de outro a FPLC e sequenciamento N-terminal (FPLC+SNT), demonstra que os dois primeiros métodos ressaltaram a presença de componentes proteicos relacionados ao metabolismo da peçonha (não tóxicos) de LMR, enquanto as duas ultimas técnicas ressaltaram a presença de seus componentes tóxicos, ficando evidente a complexidade do armamento da surucucu da Mata Atlântica. As duas técnicas mostraram que essa toxicidade se deve à presença de poucas famílias proteicas, como metaloproteases, serinoproteases, fosfolipases A2, BPPs, e lectinas tipo C, que juntas, são responsáveis pelos distúrbios de coagulação e choque hipotensivo característico dos envenenamentos por Lachesis.
Com relação à taxonomia, Santos (2013) observa: 'a presença de proteínas CRISPs e svVEGFs, na peçonha da subespécie Lachesis muta muta (Sanz 2008, e Madrigal 2012, ambos Bolívia), e sua ausência na peçonha da subespécie L. m. rhombeata pode ser um indicio da conservação destas serpentes em diferentes subespécies. A presença de metaloendopeptidases somente no proteoma em estudo também auxilia na corroboração deste fato'
http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/05/neurotoxicidade-em-lachesis.html
Bola dividida
Recebi algumas perguntas sobre o texto da Piauí, vou respondendo aos poucos, e inicio falando sobre o momento em que tenho que apartar duas Lachesis adultas, que disputavam um mesmo rato.
Não é a primeira vez que isso ocorre e não há desculpas, é erro de manejo, mas acontece.
À exceção talvez do momento da retirada dos ovos da fêmea, esse é o momento mais perigoso da lida, para os animais, e o tratador em especial.
Lachesis não morre com picada de Lachesis, possivelmente em função da cistatina na peçonha de Lachesis muta rhombeata. Trata-se de proteína do grupo 'inibidores de proteases' e tudo indica que participam da proteção da serpente da atividade proteolítica desregulada de seu próprio veneno.
Mas há aqui também o evento mecânico de uma presa de 5 cm sendo cravada na cabeça da outra serpente, algo que Bernardo Esteves classifica corretamente como um trauma análogo a uma 'punhalada no cérebro', e isso normalmente deixa sequelas.
Confira o relato de Bernardo http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/cobra-mordida e confira também, abaixo, presas de Lachesis ...
Já tivemos um caso que resultou em cegueira. O animal descrito por Bernardo Esteves, passados 60 dias do incidente, emagreceu e está recebendo alimentação forçada. Seu crânio está visivelmente perfurado e permanecerá no regime intensivo de criação - nosso CTI - por período indefinido.
Não temos problemas de alimentação no Núcleo Serra Grande. Custou muito, mas acertamos as dimensões dos ratos oferecidos, a temperatura correta do criatório para que não ocorram regurgitações, o ritmo alimentar propriamente dito. Aprendemos a separar animais em 1 metro um do outro ao alimentá-los, mas volta e meia somos surpreendidos por uma voracidade atípica, que pode resultar em 'bola dividida', e risco de vida tanto para os animais, quanto para quem pretende apartar a emergência.
A situação tipica é essa abaixo: ou se intercepta AGORA o animal que se aproxima, ou sérios problemas ocorrerão.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Deu no blog da Piauí
Só hoje soube dessa generosidade de Bernardo Esteves ...
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/surucucu-cativa
E de mais essa, em 04/09 ....
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/cobra-mordida
domingo, 25 de agosto de 2013
O melhor do Núcleo Serra Grande
O melhor do NSG tem nomes: Claudio, Roque e Macarrão. O melhor do NSG é oportunidade, emprego e educação.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
BBC, surucucu e o tapa na cara
180 milhões de ouvintes, é o alcance de uma transmissão de radio da BBC, observem o brasão de armas da poderosa, falando de paz, que não é a palavra do momento. Fico pensando se nesse universo de ouvintes não há gente que financia a ENRC, a mineradora britânica que pretende bancar o projeto Porto Sul, e que seja capaz de deter a barbárie ambiental sobre um bioma já destruido em 94%, e ainda assim "Patrimônio da Humanidade" pela UNESCO.
Abaixo o texto veiculado pela radio BBC, de autoria na jornalista Kirsty Lang, que nos visitou em Serra Grande.
Carnival
was in full swing in the small Brazilian coastal town of Itacare when a giant
snake measuring six metres long, slithered down the streets sending hundreds of
revellers screaming into the roadside bars. Until recently the snake would have
been killed. The police were standing by with twelve guage shotguns. But
instead the local doctor was summoned. Dr Rodrigo Souza (SO-za) moved to the
North Eastern state of Bahia12 years ago and developed a fascination with the
rainforest and it’s wildlife. Now whenever a strange creature ventures into a
built up area, the Doctor is called in. He was even asked to rescue a group of confused
penguins that had been swept up from the Falkland Islands by the mighty South
Atlantic current.
Rodrigo identifies
the carnival incident as a turning point in his battle to save endangered
species in this dwindling patch of Atlantic rainforest in which he has made his
home. When Rodrigo first moved to North Eastern Brazil it was common to see
people illegally selling birds, snakes and monkeys on the side of the road.
That rarely happens now. The authorities have clamped down and the local people
have become more aware of the importance of saving their unique ecosystem. On
the day I drove to visit Rodrigo, someone stopped the traffic in the middle of
the road to allow a snake to cross
But Rodrigo’s real passion is the Atlantic
Bushmaster, one of the most poisonous snakes in the Western Hemisphere. Thick
bodied and measuring up to three metres long, these majestic creatures have
distinctive orange and black markings and heat seeking sensors under the eyes
that allows them to lock on to warm blooded mammals. A human can die within an
hour of being bitten unless they receive the right anti-venom injection.
There are 35 Bushmasters living in Rodrigo’s
private snake sanctuary which has a NO ENTRY sign on the door with a large
skull and crossbones. He’s been compared by the Brazilian media to Grizzly Man, the American environmentalist
who lived among the Grizzly bears of Alaska until one of them killed him. Grizzlyman’s
life and death was the subject of an excellent documentary by the German
filmmaker, Werner Herzog. But Rodrigo resents the comparisons: “I’m under no illusion about my snakes.” he
says “They have no idea who I am and I know they will not hesitate to kill me”.
I admit to feeling absolutely terrified when he
invites me inside the sanctuary to watch him casually lifting up a two metre
snake with an instrument resembling a giant metal tuning fork. Before handling
them he zips into an insulated body suit that stops him from giving off too
much heat. Meanwhile I’m standing a safe distance away – trembling with fear -
in shorts and a T-shirt.
The Bushmaster has an almost mythological status
amongst the indigenous people of the rainforest. Because of its attraction to
heat they called it the “fire extinguisher” and have warned Rodrigo never to
sit near an open fire in Bushmaster territory because the snakes can leap a
distance of several metres towards a heat source and at very high speed. He was
once called to a road traffic accident where a Bushmaster had attacked the
headlamp of a passing motorbike.
Dr Rodrigo Souza is the first and probably only
person ever to successfully breed the Atlantic Bushmaster in captivity. He
milks his snakes for venom which is then used to make an antidote for snake
bite victims. The Bushmaster venom also contains unique medical properties of
interest to cancer researchers.
However this majestic serpent is now under threat
of extinction as its habitat disappears. Along with lion tamarins, cougars and
woolly spider monkeys, Bushmaster snakes are one of many endangered species
unique to Brazil’s Atlantic Rainforest.
Not to be confused with the mighty Amazon, the Atlantic rainforest once
covered the entire coastal region from the North East to the Argentine border
in the South. But now only 6 per cent of it remains, a few tiny islands of
green, most of in the state of Bahia and even these are under threat.
There
are now plans by ENRC, a British Kazak mining company to build a railway right
through one of the few remaining areas of virgin Atlantic rainforest. ENRC’s aim
is to transport iron ore from a mine inland to the port of Iheus despite this
area being named by UNESCO as a priority region for conservation. For Rodrigo who has been battling for years to
preserve this unique ecosystem, it’s a slap in the face. For him the railway would
be an ecological disaster for the rainforest and his
beloved snakes
À pedido da Kirsty, mandei hoje imagens para um blog da própria BBC, cujo link divulgo em breve, e onde teremos (espero) a chance de elaborar melhor a questão ENRC versus proteção ambiental.
Confira motivos para preocupação:
http://www.standard.co.uk/business/business-news/scandalhit-miner-enrc-delivers-a-profits-blow-8761304.html
À pedido da Kirsty, mandei hoje imagens para um blog da própria BBC, cujo link divulgo em breve, e onde teremos (espero) a chance de elaborar melhor a questão ENRC versus proteção ambiental.
Confira motivos para preocupação:
http://www.standard.co.uk/business/business-news/scandalhit-miner-enrc-delivers-a-profits-blow-8761304.html
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Primeiros socorros aos acidentados por alguns dos animais peçonhentos (venenosos/urticantes) mais comuns no Brasil: ofidismo, escorpionismo, araneísmo, abelhas e vespas, formigas Solenopsis, lagartas (gênero Lonomia), lacraias e um certo besouro, com rápida pincelada sobre alguns animais aquáticos.
Quando criança morava próximo a um quartel do Corpo de Bombeiros. A coisa mais espantosa do mundo era uma 'Escada Magirus'. Varias vezes ao dia a sirene, o caminhão vermelho em alta velocidade, homens pendurados de forma temerária na viatura, e eu na janela acompanhando.
Essa postagem, na verdade um agradecimento meu a esses profissionais - que acredite, estarão ao seu lado quando tudo estiver perdido - nasceu de uma solicitação de um membro do 8° Grupamento de Bombeiros de São Paulo, o CB PM Ednei Fernando, frente à necessidade de elaboração de um manual de condutas e protocolos em primeiros socorros voltado especificamente para acidentes com animais peçonhentos (AAP). Impressionante o alto nível dos socorristas da corporação, confira:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2012/04/mais-um-motivo-para-confiar-no-corpo-de.html
Todas as imagens de cobras, aranhas e escorpiões abaixo, à exceção de Lachesis (minha) e Lonomia (Tiago Lima), são de autoria dos Dr. Marco Antonio de Freitas, Paulo Bernarde e Eduardo Maciel. As fotos dos acidentados com picadas de cobra e aranha são de Solange Magalhães e Fabio Tozzi.
ESSA É UMA POSTAGEM EM ABERTO, AGRADECEMOS A TODOS PELO ENVIO DE SUGESTÕES E IMAGENS PARA LACHESISBRASIL@HOTMAIL.COM
Introdução
A qualidade e velocidade dos primeiros socorros nos AAP é diretamente proporcional à taxa de sobrevida e incidência de complicações nos acidentados.
Apesar do tratamento a estas ocorrências ser eminentemente
hospitalar, podem fazer-se necessárias intervenções emergenciais
pré-hospitalares, nas reações de hipersensibilidade em especial, como veremos adiante.
Todo acidente perfurante, no campo ou na cidade, seguido de
reações locais nem sempre nítidas (dor, edema, inflamação), ou sintomas
sistêmicos evidentes (hemorragias, hipotensão, ptose palpebral, entre outros), deve ser investigado como acidente por animal peçonhento (AAP).
Lembramos para efeito didático que animais peçonhentos inoculam veneno, tem aparato anatômico para isso. Os animais venenosos não inoculam, mas produzem toxinas que podem entrar em contato com mucosas, ou com pele ferida, provocando absorção do veneno. Os urticantes são aqueles animais que provocam dermatites quando sua toxina entra em contato com pele sã.
Lembramos para efeito didático que animais peçonhentos inoculam veneno, tem aparato anatômico para isso. Os animais venenosos não inoculam, mas produzem toxinas que podem entrar em contato com mucosas, ou com pele ferida, provocando absorção do veneno. Os urticantes são aqueles animais que provocam dermatites quando sua toxina entra em contato com pele sã.
Ofidismo
Com relação ao ofidismo, ocorrem por volta de 20.000
casos / ano no Brasil, com cerca de 300 mortes. Existe a possibilidade de que estes
números sejam maiores, em função de sub-notificação.
Especula-se quanto ao
aumento no numero de casos de ofidismo no Brasil, mas o que ocorre de fato é
uma mudança no perfil do paciente, trazendo maior visibilidade ao AAP: à quinze
anos atrás, o acidentado era o homem do campo, hoje temos os moradores dos
condomínios na periferia das grandes cidades, os praticantes dos ditos esportes
radicais e ecoturismo, alem do homem do campo. Mas o total da casuística
permanece estável.
Os principais gêneros causadores de acidentes ofídicos no
Brasil são Bothrops (ou ‘jararacas’, com 24 espécies), respondendo por cerca de
90% dos casos; Crotalus (ou ‘cascavéis’, com uma única espécie), com 7 a 8 %
dos casos; Lachesis (ou ‘surucucus’, correntemente em revisão taxonômica e
respondendo por até 3% dos acidentes) e Gêneros Micrurus (e Leptomicrurus) que
englobam as 29 ‘corais verdadeiras’ do Brasil, responsáveis por 1% ou menos dos
acidentes. Importante contextualizar as estatísticas, exemplo: o acidente laquético responde por aproximadamente 3% do total de casos no Brasil; filtrando-se para a casuística da região Norte, por exemplo, este acidente ocorre em 10 % ou pouco mais dos casos. No município de Itacaré, Bahia, em 2009, até o mês de outubro, os três casos de ofidismo foram acidentes laquéticos (100%).
O gênero Bothrops ocorre em todo o Brasil. O gênero Crotalus
ocorre em cerrados e campos abertos, áreas secas, arenosas, pedregosas. É raro na porção litorânea, não povoa florestas nem o Pantanal. Na Amazônia, é
encontrado em algumas regiões do Pará, Ilha de Marajó, Amapá e Roraima. O
gênero Lachesis ocorre em áreas de Mata Atlântica e Amazônia. O gênero Micrurus ocorre
em todo o Brasil.
Outras ‘jararacas’, dos gêneros Bothriopsis e Bothrocophias,
incidentes em Amazônia e Mata Atlântica, são responsáveis por pequeno numero de
acidentes. Cobras aparentemente inofensivas, como as do gênero Philodryas
(cobra verde, cobra cipó), com ampla distribuição em nosso território, já
causaram acidentes graves no Brasil.
A taxonomia das serpentes tem mudado com frequência. O nome
de um gênero pode mudar de hoje para amanhã, mas para o socorrista, essas
nuances não são relevantes. Com relação à estatísticas e distribuição
geográfica, nosso objetivo nesse texto é induzir os profissionais de primeiros
socorros à antecipação, respondendo à pergunta: ‘que tipo de acidente com cobra
posso enfrentar em minha área de atuação ?’, e filtrando ainda mais, ‘dentre os
diversos tipos de acidente que posso enfrentar em minha área de atuação, qual o
mais provável ?’
Sinais e Sintomas
Acidente botrópico:
dor local, edema local, sangramento local, bem como hemorragias sistêmicas
manifestas em gengivorragia e hematúria. Ter em mente que este tipo de veneno
lesa o interior dos vasos sanguíneos, e altera o tempo de coagulação,
simultaneamente. Assim, pode-se dizer que pode haver sangramento em qualquer
parte do organismo. Já houve morte em acidente botrópico por acidente vascular
encefálico ou cerebral (AVC/AVE), mas na média, o que mais chama a nossa atenção nestes acidentes é a brutal ação local da peçonha. Na imagem de cima acidente com jararaca, na de baixo, com jararacuçu (3 amputações, e óbito)
Num primeiro momento, o acidente botrópico causa elevação da
pressão arterial, pela dor e ansiedade, hipotensão precoce e choque (Pressão arterial média ou PAM menor
ou igual a 60 mmHg) indicam caso grave.
Necrose, bolhas, equimoses, abscessos são alterações locais (tardias) frequentes. Insuficiência renal aguda é complicação descrita.
De cima para baixo, a) Bothrops jararaca, responsável pela grande maioria dos acidentes botrópicos b) Bothrops moojeni, fotografada em Goiás c) Bothrops alternatus, a famosa 'urutú cruzeiro', 'que quando não mata, aleija' d) Bothrops jararacussu, responsável pelos acidentes mais graves envolvendo o gênero Bothrops (maior o animal, maior a inoculação, mais grave o acidente; raciocínio não valido para o gênero Lachesis, cuja gravidade do acidente não é necessariamente dose-dependente) e) Bothriopsis bilineatus, um alerta para quem pensa que 'cobra verde tudo bem'.
Acidente crotálico: nenhuma dor, ou dor local discreta. Edema discreto ou ausente, parestesias (perda de sensibilidade, ‘anestesiamento’ local) no local da picada ou membro acometido. ‘Fascies neurotóxica’ (ptose palpebral, flacidez na musculatura da face provocando boca semi-aberta, alterações visuais). Hematúria, ‘urina cor de ‘coca-cola’.
Casos graves podem cursar com insuficiência respiratória.
De cima para baixo, Crotalus durissus fotografada em Santarém, Pará. E logo abaixo, Crotalus durissus fotografada em Mineiros, Goiás.
Acidente laquético: muita dor local, com edema, equimose e sangramento no sitio da picada. Sintomatologia neurotóxica, com paralisação da musculatura da deglutição, paralisias motoras, alterações sensoriais (cegueira, surdez), bradicardia importante com queda rápida da pressão arterial. Dor abdominal, vômitos, diarreia. É um acidente que pode levar a óbito na primeira hora de evolução, por choque cardiogênico. Insuficiência renal aguda é complicação descrita.
Acidente laquético: muita dor local, com edema, equimose e sangramento no sitio da picada. Sintomatologia neurotóxica, com paralisação da musculatura da deglutição, paralisias motoras, alterações sensoriais (cegueira, surdez), bradicardia importante com queda rápida da pressão arterial. Dor abdominal, vômitos, diarreia. É um acidente que pode levar a óbito na primeira hora de evolução, por choque cardiogênico. Insuficiência renal aguda é complicação descrita.
Acima, 'surucucu', ou 'pico de jaca', ou 'apaga-fôgo', ou 'surucutinga, Lachesis muta rhombeata, fotografada em Itacaré, Bahia. Especial atenção às distancias anormais, em distancia e altura, e velocidade, alcançados pelos botes do gênero Lachesis http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/07/sobre-o-duplo-s.html
As surucucus são animais lendários, desde os exploradores do seculo XIX aos irmãos Villas Boas na Expedição Roncador-Xingú, ao gênero Lachesis são atribuídos comportamentos atípicos como 'ataques' a fogueiras e investidas contra seres humanos. Von Martius, em 'Viagem pelo Brasil' Vol. 2, pg 72 da edição da Melhoramentos, relata o que se segue: "A noite desse dia, de tão tétricas impressões, ia ainda ser de mais horror. Apenas havíamos adormecido, fomos despertados por violentos estouros da fogueira e silvos singulares. Quando íamos saindo da cabana, com o fuzil na mão, o guia deteve-nos aterrado, e mostrou-nos uma enorme cobra, que, furiosa, dava pulos e voltas, procurando espalhar os tições acesos. Era uma 'surucucu', a mais possante entre as cobras venenosas do Brasil, e que, por essa particularidade, era duplamente temível à noite. Demos alguns tiros sobre o monstro; não ousamos, entretanto, ir atrás dele no escuro, depois que tudo sossegou"
Confira vivencias praticas de encontros com o gênero:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/07/apaga-fogo.html
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/surucucu-orlando-moral-e-misterios.html
O acidente laquético tem poucas referencias na literatura médica, para ir mais fundo confira:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/05/acidente-laquetico-na-pratica.html
Conheça a última esperança para a surucucu da Mata Atlântica, antes da EXTINÇÃO:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2015/08/treze-anos-em-treze-minutos.html
Acidente elapídico: pode ou não haver dor local progressiva, sendo mais comum 'leve ardência local' (como me relata paciente, verbis), acompanhada de parestesias (perda de sensibilidade). Edema discreto ou ausente. Ausência de sangramentos ou equimoses, apesar de atividade hemorrágica descrita em corais amazônicas. Sialorreia (salivação abundante). Dificuldade de deglutição e mastigação. Dispneia progressiva podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda rapidamente.
As surucucus são animais lendários, desde os exploradores do seculo XIX aos irmãos Villas Boas na Expedição Roncador-Xingú, ao gênero Lachesis são atribuídos comportamentos atípicos como 'ataques' a fogueiras e investidas contra seres humanos. Von Martius, em 'Viagem pelo Brasil' Vol. 2, pg 72 da edição da Melhoramentos, relata o que se segue: "A noite desse dia, de tão tétricas impressões, ia ainda ser de mais horror. Apenas havíamos adormecido, fomos despertados por violentos estouros da fogueira e silvos singulares. Quando íamos saindo da cabana, com o fuzil na mão, o guia deteve-nos aterrado, e mostrou-nos uma enorme cobra, que, furiosa, dava pulos e voltas, procurando espalhar os tições acesos. Era uma 'surucucu', a mais possante entre as cobras venenosas do Brasil, e que, por essa particularidade, era duplamente temível à noite. Demos alguns tiros sobre o monstro; não ousamos, entretanto, ir atrás dele no escuro, depois que tudo sossegou"
Confira vivencias praticas de encontros com o gênero:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/07/apaga-fogo.html
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/01/surucucu-orlando-moral-e-misterios.html
O acidente laquético tem poucas referencias na literatura médica, para ir mais fundo confira:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/05/acidente-laquetico-na-pratica.html
Conheça a última esperança para a surucucu da Mata Atlântica, antes da EXTINÇÃO:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2015/08/treze-anos-em-treze-minutos.html
Acidente elapídico: pode ou não haver dor local progressiva, sendo mais comum 'leve ardência local' (como me relata paciente, verbis), acompanhada de parestesias (perda de sensibilidade). Edema discreto ou ausente. Ausência de sangramentos ou equimoses, apesar de atividade hemorrágica descrita em corais amazônicas. Sialorreia (salivação abundante). Dificuldade de deglutição e mastigação. Dispneia progressiva podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda rapidamente.
De cima para baixo Micrurus coralinus (RJ), Micrurus frontalis (Brasilia), Micrurus ibiboboca (BA) e duas Micrurus lemniscactus, fotografadas no Acre e Bahia.
Mais sobre corais e acidente elapídico:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/05/o-dilema-das-corais.html e
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/10/breno-e-o-inferno.html
Acidente por Philodryas olfersii (com e sem faixa na cabeça, abaixo): sintomatologia semelhante à do acidente botrópico, podendo ser tratado como tal (SAB) - http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0041010105003612 - em caso de graves alterações sistêmicas: dor, edema volumoso e progressivo, com equimoses e alteração do Tempo de Coagulação. Alguns autores relatam que não há de fato alterações de TC nestes envenenamentos, contudo, equimose difusa, extensa, acometendo todo o corpo já foi observada num acidente 'em que o paciente ficou preto' segundo Romulo Righi, Chefe do Laboratório de Animais Peçonhentos na FUNED, em comunicação pessoal (2014).
Correia e cols em 2010, relatam caso com melhora clinica pós administração de SAB:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0037-86822010000300025&script=sci_arttext
Saiba mais sobre as similitudes entre os venenos de Philodryas e Bothrops:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81752007000200019
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/zoo/article/viewFile/8468/5871
Há relato de morte de criança por Philodryas, no seguinte trabalho: Salomão, E. L. & Di-Bernardo, M. 1995. Philodryas olfersii: uma cobra comum que mata: caso registrado na área da 8a delegacia regional de saúde. Arq. Soc. Zool. Br., l 14-16:21.Trata-se de caso de difícil investigação, que autores como Warrel desqualificam como evidencia confiável.
Mais sobre Philodryas: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/04/o-mito-da-cobra-verde-e-da-coral.html
Mais sobre outra 'inocente' cobra verde brasileira, no link abaixo:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/09/sobre-surucucu-que-nao-e.html
Sobre morte envolvendo opistóglifa africana:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2015/11/tributo.html
Para a inevitável pergunta 'mas qual cobra é A MAIS venenosa ?', segue-se a resposta:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/09/a-mais.html
Considerações gerais na primeira abordagem aos AAPs: 1) a não localização de pontos de inoculação não afasta AAP 2) os sintomas podem variar de acordo com idade, tamanho e procedência do animal causador do acidente 3) inoculações em áreas de alta adiposidade (abdome, nádegas) podem ser enganadoras, com ação retardada 4) os sintomas podem variar em função de idade e compleição física do acidentado.
Não se pode confiar
em classificação de serpentes por leigos. Idealmente o animal causador deverá
ser capturado ou abatido, e levado juntamente com o paciente para tratamento
hospitalar. O cruzamento de dados como estatística local dos acidentes versus
sinais e sintomas no acidentado, é importante auxilio diagnostico.
Tratamento
O tratamento pré-hospitalar aos AAP é de vital importância,
e o foco é a prevenção de erros (iatrogenias) e retardo na chegada ao ambiente
hospitalar. A vitima deve permanecer em repouso, evitando esforços físicos que
promovam disseminação da peçonha. Lavar o ponto de inoculação é o único
tratamento local indicado. Garrotes, perfurações do local da picada ou sucção
são ações sem efetividade e com potencial iatrogênico. Não se deve perder tempo
com ‘tratamentos’ advindos da cultura popular.
Estimulo à diurese e manutenção dos níveis
pressóricos, via infusão de soro fisiológico 0,9% ou mesmo hidratação por via oral lenta e continua, é medida fundamental no
primeiro atendimento. Havendo a possibilidade, monitorar pressão arterial e permitir maior ou menor
gotejamento à partir dos parâmetros obtidos.
Na unidade hospitalar classifica-se o acidente 1) de acordo
com o gênero causador 2) gravidade do caso e 3) monitora-se o paciente
(oxímetro, ECG continuo, PA, FC, FR) ANTES, DURANTE E APÓS administração do
soro especifico.
Considerações gerais
sobre a soroterapia antiofídica:
Os soros antiofídicos brasileiros recentemente tiveram seus
nomes alterados pela ANVISA:
NOMES ANTIGOS
|
NOMES NOVOS
|
Soro
antibotrópico
|
Soro
antibotrópico (pentavalente)
|
Soro
anticrotálico
|
Soro
anticrotálico
|
Soro
antielapídico
|
Soro
antielapídico (bivalente)
|
Soro
antibotrópico-crotálico
|
Soro
antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico
|
Soro
antibotrópico-laquético
|
Soro
antibotrópico (pentavalente) e antilaquético
|
CONHEÇA QUEM É QUEM NOS ESFORÇOS PELO APRIMORAMENTO DOS TRATAMENTOS (AAPS) E DOS SOROS QUE USAMOS HOJE, CONHEÇA TAMBÉM UMA GRANDE PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR, ABAIXO:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2012/05/um-certo-capitao-guilherme-e-o-complexo.html
Apesar dos protocolos oficiais, não existe a chamada ‘dessensibilização’ pré-soroterapia. Administração de prometazina e hidrocortisona, buscando prevenir reações anafiláticas ou anafilactoides é procedimento iatrogênico: conduz a uma falsa sensação de segurança, e altera parâmetros da escala de Glasgow, visto que a prometazina induz a sedação, agravando avaliação dos quadros neurotóxicos, em especial.
Confira: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/03/nao-existe-eficacia-na-medicacao-pre.html
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2012/05/um-certo-capitao-guilherme-e-o-complexo.html
Apesar dos protocolos oficiais, não existe a chamada ‘dessensibilização’ pré-soroterapia. Administração de prometazina e hidrocortisona, buscando prevenir reações anafiláticas ou anafilactoides é procedimento iatrogênico: conduz a uma falsa sensação de segurança, e altera parâmetros da escala de Glasgow, visto que a prometazina induz a sedação, agravando avaliação dos quadros neurotóxicos, em especial.
Confira: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/03/nao-existe-eficacia-na-medicacao-pre.html
Durante a administração do soro, deve-se ter em mãos, A)
seringa de insulina com 01 ampola de Adrenalina (dose 0,2 – 0,3 ml SC em
adultos, e 0,01 ml/kg/dose em crianças), para o caso de broncoespasmo,
dispneia, vômitos e exantema urticariforme maciço, B) outra seringa com
Fenergan (25 mg IM em adultos, e 0,5 mg/kg/dose em crianças) associado à inibidor
H1 e H2, para potencializar seu efeito ( Ranitidina, 50 mg/dose, adultos e
crianças) para o caso de prurido e exantema urticariforme, sem comprometimento
respiratório, e C) uma seringa com Hidrocortizona (300-500 mg para adultos, e
5-10 mg/kg em crianças, EV), para prevenir reações tardias naqueles casos em
que foi necessário Adrenalina, Fenergan e Ranitidina, e o paciente permanece
‘chiando’ (broncoespasmo) e com urticarias, justificando a repetição da
Adrenalina SC.
Gravidade do caso
Uma vez determinado o gênero causador do acidente, busca-se
avaliar a gravidade do caso. A determinação da gravidade do caso, através da
avaliação de manifestações clinicas (sinais e sintomas) e laboratoriais, irá definir o numero de
ampolas de soro especifico recomendado para o inicio do tratamento.
A determinação da gravidade do caso é tarefa difícil, e
traiçoeira. Sinais e sintomas no ofidismo não são variáveis absolutas, e assim,
com o objetivo de auxiliar socorristas não especializados no ofidismo, foi
desenvolvida uma sistematização que discutiremos à
seguir, com observações pessoais intercaladas.
Segundo David Warrell em comunicação pessoal, 50 % das
picadas de cobras são ‘secas’, sem inoculação. Assim, acidentes que sempre
provocam dor, como o Botrópico, o Laquético, e o Elapidico, devem ser
observados com cautela no ambiente hospitalar, com monitorização de dados
vitais e laboratoriais, como TC (Tempo de Coagulação) e CKT (Creatinoquinase
Total), e sem administração do soro num primeiro momento, na ausência do critério dor à admissão. O raciocínio inicial do socorrista seria: 'não dói, não inoculou'.
Qualquer evidencia de inoculação (dor local, ardência, parestesias) em acidente Elapídico ou
Laquético, imediatamente nos remete a ‘caso grave’, com inicio imediato da
soroterapia especifica: 10 ampolas EV para o acidente Elapidico, e 12 a 20
ampolas EV para o acidente Laquético (iniciar com 12, e na persistência de
hipotensão severa nas primeiras 6 hs, mesmo com infusão vigorosa de volume,
‘tatear’ até 20 ampolas). Mas atenção para variáveis imprevisíveis: 1) em acidentes por coral, indícios de inoculação outros que dor local podem ser: parestesias (perda de sensibilidade local, progressiva), ptose palpebral e turvação visual, e 2) em acidentes envolvendo surucucu, o critério dor local pode ser mascarado pela cascata de eventos que leva rapidamente à hipotensão, choque, insuficiência renal, hemorragias digestivas e hemorragias no SNC, entre outras complicações. Paciente com pressão arterial média inferior a 60 mmHg não se queixa, de nada.
74 a 90 % dos casos de ofidismo no Brasil são causados pelo
Gênero Bothrops. Jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara, boca podre,
quatro ventas, malha de sapo, patrona são nomes populares referidos nestes
atendimentos.
Aqui, no acidente botrópico, também usaremos a sistematização supra
citada para auxiliar os socorristas a avaliar a gravidade do caso: se a dor,
edema e equimoses locais são discretos, o acidente é ‘leve’, e o paciente
receberá de 2 a 4 ampolas de soro antibotrópico pentavalente (SAB). O acidente
será ‘moderado’, se houver dor, edema e equimoses evidentes, com manifestações
hemorrágicas (sangramento em ponto de inoculação) discretas, e o paciente
receberá de 4 a 8 ampolas de SAB. Dor intensa, edema extenso, sangramento
profuso no local da picada, bolhas (indicativo de acidente tardio), oligoanúria
(diurese diminuída ou ausente), e queda da pressão arterial, indicam caso grave
e o paciente recebe de imediato 12 ampolas de SAB.
‘Picada de cascavel’ (Acidente Crotálico ou AC) é o acidente
ofídico que mais mata no Brasil. AC não dói, mas essa é uma avaliação subjetiva.
A ansiedade pode mascarar o quadro e haver referencia à dor local, contudo,
poucos sintomas locais serão observados de imediato, como no acidente botrópico.
O principal foco das avaliações aqui é o sistema nervoso central (SNC), os
aparelhos genito-urinário (AGU) e músculo esquelético (ME). São sinais de
acometimento do SNC no acidente crotálico: ptose palpebral e turvação visual. Acometimento
do AGU dá-se pela clássica ‘urina cor de coca-cola’, sendo a insuficiência
renal por ação nefrotóxica direta e desidratação, complicação temida. Mialgia
(dor muscular difusa), remete ao efeito de necrose muscular observado nestes
acidentes.
Ptose palpebral e turvação visual discretos ou de surgimento
tardio (decima segunda hora), sem alteração na cor da urina, e com mialgia discreta ou ausente remete
o socorrista a um ‘caso leve’, e cinco ampolas de SAC são administrados. Ptose
palpebral e turvação visual discretos, mas de inicio precoce, associada a dor
muscular difusa discreta, mas com urina escura (‘cor de coca-cola’) nos remete a
‘acidente moderado’, com indicação de 10 ampolas de SAC. Se ptose palpebral é
intensa (paciente com olhos fechados e boca aberta, demonstrando paralisia de
musculatura da face), a dor muscular for forte, e a urina estiver escura e em
baixo volume (oliguria), trata-se de ‘acidente grave’, e o paciente recebe 20
Ampolas de SAC.
Exames laboratoriais no diagnostico, considerações gerais:
O Tempo de Coagulação não define gravidade do acidente, mas
é importante auxiliar na avaliação dos casos de ofidismo, e da neutralização
presumivelmente obtida com a soroterapia especifica. Nos acidentes botrópico, laquético ou crotálicos, TC prolongado, mesmo na ausência de sinais e
sintomas evidentes ao exame clinico, indica necessidade de soro especifico. Não
há evidencia de alterações no TC no acidente elapidico.
Controle de TC, 12 e 24 horas após o termino da soroterapia,
indicarão necessidade ou não de soroterapia adicional, tanto no acidente
botrópico quanto crotálico. Já no acidente laquético, de forma ainda não
compreensível, pode-se obter TC prolongado por semanas pós soroterapia
especifica adequada e suficiente.
Outros exames rotineiramente usados no acompanhamento dos
casos de ofidismo são as dosagens de creatinoquinase (CPK), desidrogenase
lática (DHL) e aspartato aminotransferase (AST), que quantificarão a ação
miotóxica. Dosagem de ureia e creatinina quantificarão a função renal.
CUIDADO COM HEMORRAGIA DIGESTIVA (ACIDENTES BOTRÓPICO E LAQUÉTICO), CONFIRA: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/10/proposta-de-padronizacao.html
CUIDADO COM HEMORRAGIA DIGESTIVA (ACIDENTES BOTRÓPICO E LAQUÉTICO), CONFIRA: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/10/proposta-de-padronizacao.html
Considerações
praticas sobre a terapêutica nos AAP por ofidismo: Chegará o dia em que em todo o serviço publico estarão disponíveis testes imunoenzimáticos do tipo ELISA para determinação exata de etiologia em AAP, enquanto esse dia não chega, socorristas devem ater-se ao conhecimento da distribuição geográfica de serpentes em seu meio de atuação, bem como conhecer os sinais e sintomas básicos dos acidentes provocados pelos principais gêneros. O laboratório ajuda, mas são diagnósticos eminentemente clínicos. A classificação ‘leve’, moderado’ e ‘grave’ para os acidentes é um auxilio valioso para a determinação de como se iniciar o tratamento. Nada substitui sentimento clinico que se desenvolve acompanhando de perto o paciente. Em caso de duvida administre sempre o maior numero de ampolas. A administração do soro em si requere cuidados já citados, para eventual tratamento de reações indesejáveis. As ampolas deverão atingir temperatura ambiente (estavam estocadas a 9° C) antes de atingir a circulação sanguínea, sendo misturadas à solução salina 0,9% na razão de 1:2, e ser infundidas em volume de 8 a 12 ml/minuto. Acidentes com desvitalização de tecidos podem requerer antibióticos sistêmicos e cobertura anti-tetânica. Edema com cianose de extremidades ou perda de sensibilidade distal podem indicar ‘Sindrome Compartimental’ e requerer cirurgia descompressiva. Na estatística do Instituto Vital Brazil, 1,4 % dos acidentes botrópicos cursam com essa complicação, entenda as 'fasciotomias': http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2012/06/fasciotomias-no-ofidismo-poucas.html Raros acidentes crotálicos provocam edema intenso no membro acometido e déficit na perfusão distal, e essa é a única situação clinica no ofidismo em que persiste o uso de heparina.
Escorpionismo:
São 700 a 800 casos por ano de
escorpionismo no Brasil. Três especies do gênero Tityus são as responsáveis
pelos acidentes de interesse médico em nosso meio: 1) Tityus serrulatus, o ‘escorpião amarelo’, é o
causador da maioria dos acidentes graves, agravos são registrados em São Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Espirito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás 2) Tityus bahiensis tem agravos notificados em São
Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e
Santa Catarina 3) Tityus stigmurus ocorre no Nordeste. O conhecimento da distribuição
geográfica destas espécies pode trazer alguma vantagem aos profissionais no
primeiro atendimento, mas o quadro é mais confuso do que a descrição acima:
Tityus serrulatus, claramente avança pelo país, e nos dias de hoje, à titulo de
exemplo, um socorrista no Distrito Federal não pode considerar-se livre das ocorrências
envolvendo essa espécie temida. Não é realista pretender aqui
instruir socorristas sobre como classificar as espécies supra citadas. Na imagem acima Tityus serrulatus, abaixo, amarelo ouro com faixa característica no cefalotórax, Tityus stigmurus.
Sinais e sintomas
O escorpionismo apresenta sinais
e sintomas variados e mutáveis, em função de ativação do sistema nervoso simpático
e parassimpático: pode haver midríase (S) ou miose (P), sudorese (S) ou
salivação (P), relaxamento pulmonar (S) ou broncoespasmo (P), à titulo de
exemplo.
A dor local pode ser discreta ou
insuportável, fixa ou irradiando-se. Nos
acidentes mais graves, a dor é mascarada pelos eventos sistêmicos, e começa a
surgir quando o paciente melhora.
80% das mortes ocorrem em menores
de 14 anos. A sensação que temos ao enfrentar o escorpionismo grave e potencialmente
fatal é a de lidar com paciente em choque cardiogênico, rapidamente evoluindo
para edema agudo de pulmão. Falência cardíaca, e ventilatória em sequencia. Não
é claro se há cardiotoxicidade direta, por ação do veneno. Também não é
claro se o edema pulmonar é cardiogênico, ou em função de alterações na
permeabilidade vascular pulmonar induzidas pelo envenenamento.
Os sinais locais, quando existem, são discretos: pode haver leve edema e/ou hiperemia ao redor do ponto de inoculação. Nos
acidentes envolvendo crianças, classicamente só se acha o animal muito tempo
depois da picada, e tudo o que se tem no histórico do paciente é choro forte, iniciado subitamente, por dor aguda intensa: uma
grande armadilha para quem atende nas emergência super lotadas do país, visto que qualquer cólica intestinal de recém nascido pode provocar dor desesperadora, mas um exame mais detalhado revelará frequência cardíaca de 140-160 bpm ou mais, e eventualmente crepitações finas em bases pulmonares, o que em si já indica 'sala de emergência':
IBIRITÉ MG 2013, CRIANÇA DE HUM ANO ADENTRA O PS EM CHORO DESESPERADOR, E SEM HISTÓRICO. EVOLUÇÃO RÁPIDA PARA DIFICULDADE RESPIRATÓRIA. FOI COLOCADA EM VENTILAÇÃO MECÂNICA. EQUIPE MEDICA EXPERIENTE PERDIDA, PENSANDO EM ASPIRAÇÃO. UM TELEFONEMA PARA QUE SE VASCULHASSE O BERÇO DA CRIANÇA LOCALIZA TITYUS SERRULATUS NOS LENÇÓIS. ÓBITO ANTES DA SEGUNDA HORA DE ADMISSÃO. NECROPSIA CONFIRMA ESCORPIONISMO
.
IBIRITÉ MG 2013, CRIANÇA DE HUM ANO ADENTRA O PS EM CHORO DESESPERADOR, E SEM HISTÓRICO. EVOLUÇÃO RÁPIDA PARA DIFICULDADE RESPIRATÓRIA. FOI COLOCADA EM VENTILAÇÃO MECÂNICA. EQUIPE MEDICA EXPERIENTE PERDIDA, PENSANDO EM ASPIRAÇÃO. UM TELEFONEMA PARA QUE SE VASCULHASSE O BERÇO DA CRIANÇA LOCALIZA TITYUS SERRULATUS NOS LENÇÓIS. ÓBITO ANTES DA SEGUNDA HORA DE ADMISSÃO. NECROPSIA CONFIRMA ESCORPIONISMO
.
Tratamento
Escorpionismo leve cursará com
dor leve, controlável com injeção local ou bloqueio com lidocaína 2% sem
vasoconstritor (2 a 4 ml), repetidas de hora em hora se necessário, e
observação hospitalar por doze horas.
Escorpionismo moderado, além da
dor local, evoluirá com sudorese, náusea, taquicardia, agitação, e em função da
dor, discreto aumento da pressão arterial.
Administrar 03 ampolas EV de Soro Anti-Escorpiônico (SAE)
Escorpionismo grave cursa com vômito
e sudorese profusos, prostração, bradicardia, edema agudo do pulmão e choque
(PA media menor que 60 mm Hg). Administrar 06 ampolas EV de SAE e iniciar
Terapia Intensiva, com ventilação mecânica e drogas vasoativas, noradrenalina e
dobutamina.
Confira no vídeo abaixo, de poucos segundos, o momento decisivo no escorpionismo grave. Madrugada de 05/08/2014, criança de 7 anos picada três vezes por Tityus serrulatus adulto, 1 hora de evolução. SOCORRISTAS, observar 1) que a criança não refere dor local, está passiva e torporosa 2) está salivando 3) PAUSE O VIDEO E OBSERVE MELHOR que na linha de base do eletrocardiograma (DII) os picos de onda (complexo QRS) não estão com intervalo regular entre eles, o que significa arritmia cardíaca (ritmo atrial caótico, pré fibrilação). A ausculta pulmonar ainda é limpa, há ventilação adequada, mas não por muito tempo. Este é o momento decisivo porque ou se aplicam agora 06 ampolas de SAE, ou ocorrerá agravamento da arritmia cardíaca, seguida de insuficiência cardíaca, choque cardiogênico (pressão arterial media abaixo de 60 mmHg por falência do coração como bomba propulsora de sangue), edema agudo de pulmão (pulmões se enchem de liquido, eliminação de espuma rosa), sendo necessários aqui entubação e ventilação mecânica, e uso de aminas vasoativas, dobutamina e noradrenalina, numa tentativa de se restabelecer a circulação adequada, e evitar a parada cardíaca muitas vezes irreversível que acompanha o escorpionismo grave, mesmo com a administração do SAE. Deve-se tomar cuidado para não infundir muito soro fisiológico nestes pacientes, sobrecarregando ainda mais o aparelho cardiovascular. Nos links o momento decisivo, na pratica:
https://www.youtube.com/watch?v=1BhhaEMgWkc&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=4y0ZGwVSvSA&feature=youtu.be
Obs: não houve mudanças no nome do SAE pela ANVISA na revisão recente.
Confira no vídeo abaixo, de poucos segundos, o momento decisivo no escorpionismo grave. Madrugada de 05/08/2014, criança de 7 anos picada três vezes por Tityus serrulatus adulto, 1 hora de evolução. SOCORRISTAS, observar 1) que a criança não refere dor local, está passiva e torporosa 2) está salivando 3) PAUSE O VIDEO E OBSERVE MELHOR que na linha de base do eletrocardiograma (DII) os picos de onda (complexo QRS) não estão com intervalo regular entre eles, o que significa arritmia cardíaca (ritmo atrial caótico, pré fibrilação). A ausculta pulmonar ainda é limpa, há ventilação adequada, mas não por muito tempo. Este é o momento decisivo porque ou se aplicam agora 06 ampolas de SAE, ou ocorrerá agravamento da arritmia cardíaca, seguida de insuficiência cardíaca, choque cardiogênico (pressão arterial media abaixo de 60 mmHg por falência do coração como bomba propulsora de sangue), edema agudo de pulmão (pulmões se enchem de liquido, eliminação de espuma rosa), sendo necessários aqui entubação e ventilação mecânica, e uso de aminas vasoativas, dobutamina e noradrenalina, numa tentativa de se restabelecer a circulação adequada, e evitar a parada cardíaca muitas vezes irreversível que acompanha o escorpionismo grave, mesmo com a administração do SAE. Deve-se tomar cuidado para não infundir muito soro fisiológico nestes pacientes, sobrecarregando ainda mais o aparelho cardiovascular. Nos links o momento decisivo, na pratica:
https://www.youtube.com/watch?v=1BhhaEMgWkc&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=4y0ZGwVSvSA&feature=youtu.be
Considerações gerais sobre o escorpionismo:
Fósseis de escorpião datam em até
400 milhões de anos. São animais dos mais antigos e adaptados do planeta. Não
se deve considerar que a dedetização básica os eliminará de determinado
ambiente. Por via indireta, quebra na sua cadeia alimentar com morte de baratas
por exemplo, pode haver uma falsa sensação de que houve erradicação destes
animais de determinado ambiente.
Havendo histórico de incidência
de escorpião em determinada região, recomenda-se sempre o uso de telas em ralos
de pias e banheiros, avaliação rotineira de roupas, toalhas e calçados antes de
usá-los. Berços nunca devem tocar as paredes. Galinhas são grandes predadoras
do escorpião.
Tudo sobre Tityus serrulatus em 60 segundos:
https://www.youtube.com/watch?v=WHUvqGpGer4&feature=youtu.be
Tudo sobre Tityus serrulatus em 60 segundos:
https://www.youtube.com/watch?v=WHUvqGpGer4&feature=youtu.be
ARANEÍSMO
São três os gêneros de aranhas de
interesse médico no Brasil: Phoneutria,
Loxosceles e Latrodectus.
Foneutrismo:
O gênero Phoneutria apresenta oito espécies,
distribuídas em todo o Brasil:
Destas espécies destacam-se Phoneutria
nigriventer (região sul, sudeste, nordeste e central do Brasil) e Phoneutria
fera (região amazônica), como as principais causadoras de acidentes.
Phoneutria reidy – região amazônica
Phoneutria bahiensis – BA e ES.
Phoneutria nigriventer - Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Phoneutria fera – região amazônica
Phoneutria boliviensis – região amazônica
Phoneutria pertyi – sul da BA, oeste de MG, ES e nordeste do RJ.
Phoneutria keyserlingi – região costeira da cidade do RJ até o sul de SC.
Phoneutria eickstedtae – TO, GO, MT e MS
Phoneutria bahiensis – BA e ES.
Phoneutria nigriventer - Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Phoneutria fera – região amazônica
Phoneutria boliviensis – região amazônica
Phoneutria pertyi – sul da BA, oeste de MG, ES e nordeste do RJ.
Phoneutria keyserlingi – região costeira da cidade do RJ até o sul de SC.
Phoneutria eickstedtae – TO, GO, MT e MS
São aranhas conhecidas
popularmente por ‘armadeiras’, em função de posição defensiva típica que
assumem, elevando as patas dianteiras, e mesmo dando saltos de até 20 cm na
direção da ameaça. Por serem comuns em bananeiras e cachos de banana, também
são conhecidas por aranha das bananas. É a aranha com o maior numero de
notificações no país. Sua picada gera dor intensa e imediata, e raramente
evolui com complicações, contudo, há óbitos comprovados por foneutrismo em São
Paulo e Paraná:
"Alguns anos atrás, um policial nos trouxe de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo, uma Phoneutria em um vidro com álcool e um oficio da delegacia policial local daquela cidade. Este dizia que distante alguns quilômetros daquela cidade acontecera uma verdadeira tragédia em casa de um caiçara: dois irmãozinhos, um com 6 e outro com 18 meses de idade, que dormiam na mesma cama, despertaram seu pai com choramingos e gritos. O pai procura, segundo ele declarara perante a autoridade, acalmá-los, dando-lhes leite em mamadeira, o que foi recusado. Daí a pouco as crianças morrem. Retirados os lençóis, encontrou o pai a aranha, a que acompanhava o oficio. Respondi ao delegado que se tratava de uma Phoneutria nigriventer, uma fêmea das maiores que eu tinha visto, e que eu julgava capaz de ter ferido mortalmente as duas crianças"
(relato de Wolfgang Bücherl, ex-chefe da Secção de Artrópodes Peçonhentos do Instituto Butantã, em 'Acúleos que matam', 1972)
"Alguns anos atrás, um policial nos trouxe de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo, uma Phoneutria em um vidro com álcool e um oficio da delegacia policial local daquela cidade. Este dizia que distante alguns quilômetros daquela cidade acontecera uma verdadeira tragédia em casa de um caiçara: dois irmãozinhos, um com 6 e outro com 18 meses de idade, que dormiam na mesma cama, despertaram seu pai com choramingos e gritos. O pai procura, segundo ele declarara perante a autoridade, acalmá-los, dando-lhes leite em mamadeira, o que foi recusado. Daí a pouco as crianças morrem. Retirados os lençóis, encontrou o pai a aranha, a que acompanhava o oficio. Respondi ao delegado que se tratava de uma Phoneutria nigriventer, uma fêmea das maiores que eu tinha visto, e que eu julgava capaz de ter ferido mortalmente as duas crianças"
(relato de Wolfgang Bücherl, ex-chefe da Secção de Artrópodes Peçonhentos do Instituto Butantã, em 'Acúleos que matam', 1972)
Armadeira em posição defensiva característica |
Sinais e Sintomas no foneutrismo:
Por ser aranha grande, com até 15
cm de diâmetro entre patas, o paciente relata araneísmo, e frequentemente
apresenta o animal ao socorrista. Localmente observa-se marcas de inoculação, edema, eritema,
parestesias, sudorese, agitação, e mais raramente, fasciculação muscular
(tremores involuntários). Dor sempre presente e de intensidade variável.Vômitos e sudorese profusa são
sinais de acometimento sistêmico, ocorrem nas primeiras horas do envenenamento,
e pode haver evolução rápida para hipotensão, bradicardia, arritmia, e edema
agudo do pulmão.
Tratamento:
O caso leve (95% dos caso), cursa
com dor local, edema e eritema local, eventualmente taquicardia e hipertensão
arterial leve secundários á dor e ansiedade. Indica-se bloqueio anestésico,
analgésicos, anti-inflamatórios e observação hospitalar por 12 horas.
Caso moderado evolui com sudorese
ocasional, vomito ocasional, hipertensão discreta (dor, agitação) e sialorreia,
e pede administração de 2 a 4 ampolas EV de Soro Anti-Aracnídico (SAAr), com internação hospitalar.
Caso grave normalmente acomete
criança, evolui com as manifestações já
descritas, acrescidas de priapismo (ereção involuntária e dolorosa), diarreia,
bradicardia, hipotensão, arritmias, edema agudo de pulmão e choque.
Administram-se de 5 a 10 ampolas EV de SAAr. É caso de Terapia Intensiva.
Loxoscelismo:
Ou picada de ‘aranha-marrom’,
trata-se de acidente necrotizante, e é a forma mais importante de araneísmo na
America do Sul. Há oito espécies representando o gênero Loxosceles no Brasil, e
distribuídas em todo o seu território.
Há onze espécies no Brasil, agrupadas em 4 grupos segundo Gertsch (1967):
grupo amazônica: Loxosceles amazonica
grupo gaúcho: Loxosceles adelaida, Loxosceles gaucho, Loxosceles similis, Loxosceles chapadensis, Loxosceles variegata e Loxosceles niedeguidonae
grupo laeta: Loxosceles laeta e Loxosceles puortoi
grupo spadicea: Loxosceles anomala e Loxosceles intermedia
Guarde bem a imagem abaixo ('violino' no cefalotórax) ...
Há onze espécies no Brasil, agrupadas em 4 grupos segundo Gertsch (1967):
grupo amazônica: Loxosceles amazonica
grupo gaúcho: Loxosceles adelaida, Loxosceles gaucho, Loxosceles similis, Loxosceles chapadensis, Loxosceles variegata e Loxosceles niedeguidonae
grupo laeta: Loxosceles laeta e Loxosceles puortoi
grupo spadicea: Loxosceles anomala e Loxosceles intermedia
O estado do Paraná, por motivos ainda não muito claros, responde por 90% da casuística nacional.
Peso por peso, a peçonha de
Loxosceles é um dos venenos de maior toxicidade de que se tem noticia no
planeta. O acidente é normalmente domestico, relacionado ao ato de vestir-se ou
dormir, ocasião em que a aranha é comprimida contra o corpo da vitima.
Sinais e sintomas no loxoscelismo:
Há duas formas descritas de
loxoscelismo, o cutâneo (LC) e o cutâneo-visceral (LCV)
O fato de que somente cerca de
10% dos pacientes procura atendimento medico nas primeiras 12 horas de evolução
do acidente, indica a escassez de sintomas locais precoces no loxoscelismo.
Quanto ao LC (85-99% dos casos),
observa-se que a picada é geralmente indolor, e que em media na sexta hora de
evolução começa a delinear-se no sitio da inoculação uma imagem ‘de alvo’:
centro branco, anel avermelhado em volta. O centro do alvo, ou área branca,
corresponde ao ponto de inoculação e é área em que ira ocorrer alteração
necrótica.
Em 24-36 horas o acidente evolui
com áreas de equimose mescladas com palidez, como num desenho de mármore, e a
dor local se intensifica, como numa queimadura. A necrose tecidual progride e
se estaciona por volta do sétimo dia.
Alem do quadro cutâneo, podem
estar presentes na primeiras 72 horas de evolução: náusea, vomito, exantema,
febre e prostração.
Acompanhe abaixo o pior caso de Loxoscelismo de que tenho noticias, com desfecho fatal. Próximo á mão do examinador, logo abaixo, está a área de inoculação (em forma de 'alvo'), cercada por equimose até o meio da coxa. na segunda foto intervenções cirúrgicas removendo área desvitalizada (toda a coxa), e na terceira imagem, progressão da lesão á despeito de todos os esforços: soroterapia específica, cirurgias, controle de infecção com antibioticoterapia, tudo o que o altíssimo nível do Pronto Socorro João XXIII, em BH MG, pode oferecer aos acidentados.
Acompanhe abaixo o pior caso de Loxoscelismo de que tenho noticias, com desfecho fatal. Próximo á mão do examinador, logo abaixo, está a área de inoculação (em forma de 'alvo'), cercada por equimose até o meio da coxa. na segunda foto intervenções cirúrgicas removendo área desvitalizada (toda a coxa), e na terceira imagem, progressão da lesão á despeito de todos os esforços: soroterapia específica, cirurgias, controle de infecção com antibioticoterapia, tudo o que o altíssimo nível do Pronto Socorro João XXIII, em BH MG, pode oferecer aos acidentados.
Quanto ao LV (até 13% dos casos),
este caracteriza-se por todo o quadro cutâneo supra citado, acrescido de
hemólise intravascular. Observa-se aqui anemia aguda, icterícia e
hemoglobinúria, normalmente após a 72 horas da inoculação. Pode ocorrer
insuficiência renal aguda e coagulação intravascular disseminada.
Tratamento:
Pacientes procuram tratamento
medico após 24 hs de evolução do loxoscelismo, e assim o dano tecidual,
determinado nas primeiras seis horas de inoculação, não poderá ser revertido
com soroterapia especifica. Como não se sabe ao certo se há a possibilidade de
se deter a evolução do quadro necrótico, a soroterapia especifica tem sido
empregada nos casos de loxoscelismo cutâneo (LC) atendidos no Hospital Vital
Brazil (HVB). Pacientes com lesões de até 72 hs de evolução recebem 05 ampolas EV
de soro anti-loxoscelico ou anti-aracnídico (SALox ou SAAr).
No loxoscelismo cutâneo-visceral
(LCV) o HVB sempre administra antiveneno, independentemente do tempo de
evolução do acidente, bastando ser detectada hemólise: 10 ampolas EV de SALox
ou SAAr.
Além da soroterapia especifica
corticosteroides tem sido empregados rotineiramente nos tratamentos de
loxoscelismo no HVB. Prednisona tem sido a droga de escolha, 1 mg/kg/dia em
crianças, e 60 mg/dia em adultos, por sete dias.
Nos áureos tempos de nossos Mestres - como Dr. Gastão Rosenfeld - nos quais a Clínica era realmente soberana, a agressividade (ou não) no tratamento ao loxoscelismo era ditada pelos sintomas urinários: não se administrava soro especifico por maiores que fossem as lesões cutâneas, até o surgimento de hematúria ou sangue na urina. Hematúria nem sempre é evento macroscópico. Não esperar de pronto a clássica 'cor de coca-cola'. Sumario de urina com elementos anormais e sedimentoscopia é de grande valor aqui. Hematúria no loxoscelismo é normalmente precedida de oliguria (volume urinário inferior a 40 ml/hora), e evolui para anúria (diurese zero). Os níveis de potássio (K) no sangue (5,5 e subindo) na vigência de anúria, podem requerer hemodialise de urgência, pelo risco de parada cardíaca.
Abordagem cirúrgica da lesão necrótica deve ser executada após a completa estabilização da necrose.
Mais sobre aranha marrom:
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/Learning%20to%20ask%20questions.pdf
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/11/aranha-marron-na-area-aumente-o-som.html
Nos áureos tempos de nossos Mestres - como Dr. Gastão Rosenfeld - nos quais a Clínica era realmente soberana, a agressividade (ou não) no tratamento ao loxoscelismo era ditada pelos sintomas urinários: não se administrava soro especifico por maiores que fossem as lesões cutâneas, até o surgimento de hematúria ou sangue na urina. Hematúria nem sempre é evento macroscópico. Não esperar de pronto a clássica 'cor de coca-cola'. Sumario de urina com elementos anormais e sedimentoscopia é de grande valor aqui. Hematúria no loxoscelismo é normalmente precedida de oliguria (volume urinário inferior a 40 ml/hora), e evolui para anúria (diurese zero). Os níveis de potássio (K) no sangue (5,5 e subindo) na vigência de anúria, podem requerer hemodialise de urgência, pelo risco de parada cardíaca.
Abordagem cirúrgica da lesão necrótica deve ser executada após a completa estabilização da necrose.
http://www.lachesisbrasil.com.br/download/Learning%20to%20ask%20questions.pdf
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/11/aranha-marron-na-area-aumente-o-som.html
Latrodectismo:
Popularmente conhecidas por
‘viúva-negra’, o gênero não é revisto desde 1967, e como especies confirmadas temos Latrodectus geometricus e Latrodectus curacaviensis. A famosa Latrodectus mactans é um caso controverso de incidência no Brasil. aranhas representantes do gênero (Paulo Goldoni, em comunicação pessoal).
Abaixo na primeira imagem clássica 'flamenguinha', e logo a seguir Latrodectus geometricus, em registro de Eduardo Maciel, na localidade de Saquarema RJ. Atentem para o aspecto aparentemente inofensivo destas aranhas, e para a necessidade de educar crianças em especial, no sentido de nunca tocá-las.
Abaixo na primeira imagem clássica 'flamenguinha', e logo a seguir Latrodectus geometricus, em registro de Eduardo Maciel, na localidade de Saquarema RJ. Atentem para o aspecto aparentemente inofensivo destas aranhas, e para a necessidade de educar crianças em especial, no sentido de nunca tocá-las.
Há acidentes comprovados no Rio de janeiro, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Espirito Santo e Rio Grande do Sul. 30% dos casos de araneísmo notificados na Bahia são por Latrodectus, quadro atípico em relação à epidemiologia nacional. Na Bahia, o soro especifico foi utilizado em 50% dos casos.
Sinais e sintomas no latrodectismo:
É veneno potencialmente letal,
que atua sobre o sistema nervoso autônomo, levando à liberação de
neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos. Atua sobre as terminações
nervosas sensitivas no local da picada, provocando dor do tipo ‘alfinetada’.
A dor local se inicia em até 15
minutos da inoculação, e evolui em intensidade até a terceira hora, quando já
assume sensação de queimadura.
Novamente os pontos de inoculação
tendem a não serem vistos, é aranha de pequenas proporções, mas pode haver uma
pápula eritematosa neste local, com edema satélite, dormência e infartamento
ganglionar regional (‘íngua’).
Os efeitos sistêmicos descritos e
que indicam caso de gravidade moderada são dor (em cerca de 70% dos casos),
contrações e rigidez muscular, em
especial na região abdominal. São descritos também: febre, sudorese, náusea,
vomito, sialorreia, ptose e edema palpebral, midríase, cefaleia e contraturas
em face. Há aqui indicação de 01 ampola por via intramuscular de soro
anti-Lactrodectus (SALatr). No caso grave observa-se os
sinais e sintomas do caso moderado, além de taquicardia e hipertensão, seguida
de bradicardia e arritmias, prenuncio de edema pulmonar agudo e choque, com
indicação de 02 ampolas IM de SALatr e de suporte intensivo. Não há registro de
óbito nas séries brasileiras.
Abelhas e Vespas (com observação para formigas do gênero Solenopsis e 'coreição'):
O principal fator a ser avaliado
aqui é o numero de picadas, desde uma única, às centenas. Paciente acometido
por uma única picada de abelha ou vespa pode evoluir com reação anafilática
fulminante, mas os casos mais graves são normalmente aqueles com um maior
numero de inoculações. De 1993 a 1998 foram relatados sete óbitos no estado de
São Paulo por ataque de abelhas, e nessa mesma casuística, 15% dos casos foram
considerados moderados ou graves.
Sinais e sintomas nos envenenamentos por himenópteros (abelhas e
vespas):
Anteriormente à 1956, quando
‘abelhas africanas’ não haviam sido introduzidas no Brasil, estes acidentes
eram considerados graves somente na vigência de reações alérgicas e
anafiláticas, com potencial para evolução a quadro de insuficiência
respiratória aguda. Após 1963 observou-se aumento do numero de casos graves sem
anafilaxia, em função de múltiplas inoculações por esta espécie invasora
agressiva.
Há cerca de 400 espécies de
vespas no Brasil. As temidas reações alérgicas ou anafiláticas nas picadas de
vespa e abelha são fenômenos imunológicos que acometem pacientes
‘sensibilizados’. O paciente ‘sensibilizado’ é
aquele que já foi exposto a uma picada destes insetos, desenvolvendo assim a
chamada ‘memória imunológica’, que quando ativada por nova picada, desencadeia
resposta inflamatória anormal, ou ‘hipersensibilidade’, com evolução
imprevisível que vai desde prurido e vermelhidão cutânea, até edema critico em
áreas como a glote, impedindo entrada de ar dos pulmões.
Sinais e sintomas nos envenenamentos por himenópteros:
Como vimos, as manifestações
clinicas destes acidentes podem ser divididas em 1) reações tóxicas, por ação
farmacológica de componentes do veneno, ou 2) rações alérgicas (memória
imunológica). As reações toxicas podem ser
locais ou sistêmicas. Os efeitos locais destes envenenamentos são dor, edema,
hiperemia, com duração de poucas horas e que cedem com analgesia comum e
corticoides.
Reações tóxicas sistêmicas
ocorrem em múltiplas picadas, em geral acima de 100. Picadas em crianças, em
menor numero, podem evoluir com toxicidade sistêmica. Pode haver evolução letal
por ação tóxica do veneno, naqueles casos em que houve 500 ou mais picadas.
Placas urticariformes, sensação
de prurido e calor, acompanhadas de taquicardia, cefaleia, náusea e vômitos,
cólicas abdominais e broncoespasmo são sinais e sintomas de acometimento
sistêmico. Choque e insuficiência respiratória aguda são complicações
esperadas. O óbito nestes casos se dá pela insuficiência respiratória e renal.
Picadas por vespa induzem a um
mesmo quadro de toxicidade semelhante ao supra citado, porem, um menor numero
de picadas pode levar a um quadro de risco de vida.
Como nos envenenamentos por
abelhas, envenenamentos por vespas podem gerar hemólise intravascular,
rabdomiólise, trombocitopenia, coagulopatia e insuficiência renal aguda, exames
laboratoriais devem quantificar estas alterações fisiológicas. A atenção a estes eventos bioquímicos deve se dar por não menos que quinze dias de evolução do acidente grave.
Tratamento:
Para abordagem à reações alérgicas anafiláticas e
anafilactoides, deve-se ter em mãos, A) seringa de insulina com 01 ampola de
Adrenalina (dose 0,2 – 0,3 ml SC em adultos, e 0,01 ml/kg/dose em crianças),
para o caso de broncoespasmo, dispneia, vômitos e exantema urticariforme
maciço, B) outra seringa com Fenergan (25 mg IM em adultos, e 0,5 mg/kg/dose em
crianças) associado à inibidor H1 e H2, para potencializar seu efeito (
Ranitidina, 50 mg/dose, adultos e crianças) para o caso de prurido e exantema
urticariforme, sem comprometimento respiratório, e C) uma seringa com
Hidrocortisona (300-500 mg para adultos, e 5-10 mg/kg em crianças, EV), para
prevenir reações tardias naqueles casos em que foi necessário Adrenalina,
Fenergan e Ranitidina, e o paciente permanece ‘chiando’ (broncoespasmo) e com
urticarias, justificando a repetição da Adrenalina SC.
Para reações locais extremas devem ser tratadas com
anti-inflamatórios não hormonais, anti-histamínicos e eventualmente
corticosteroides, em regime de observação hospitalar.
Efeitos tóxicos sistêmicos, em casos com mais de 300
picadas, ou mesmo em menor numero em crianças e idosos, bem como portadores de
doenças cardiopulmonares, podem levar a complicações graves e óbito. São casos
de terapia intensiva que podem evoluir com necessidade de ventilação mecânica,
drogas vasoativas e inotrópico positivas. Prevenção da insuficiência renal
aguda (por deposição de pigmentos, via hemólise) é providencia de primeira
hora, e inicia-se com hidratação vigorosa.
Reações sistêmicas rapidamente fatais ocorrem minutos após a
picada, ou picadas, e podem ser revertidas ou minimizadas no primeiro atendimento,
ainda fora do ambiente hospitalar, com administração SC de adrenalina 1:1000
nas doses de 0,2 – 0,3 ml SC em adultos,
e 0,01 ml/kg/dose em crianças.
A UNESP produziu soro especifico para picadas de abelhas, testado com sucesso em ser humano em 2016: http://noticias.r7.com/saude/soro-para-picada-de-abelha-da-unesp-deve-comecar-a-ser-testado-neste-mes-em-humanos-04042016
http://jornalacomarca.com.br/avareense-e-o-primeiro-ser-humano-a-receber-soro-contra-veneno-de-abelha/
A UNESP produziu soro especifico para picadas de abelhas, testado com sucesso em ser humano em 2016: http://noticias.r7.com/saude/soro-para-picada-de-abelha-da-unesp-deve-comecar-a-ser-testado-neste-mes-em-humanos-04042016
http://jornalacomarca.com.br/avareense-e-o-primeiro-ser-humano-a-receber-soro-contra-veneno-de-abelha/
Atenção especial deve ser prestada à retirada dos ferrões da pele dos acidentados. A estratégia ideal é de Pronto Socorro: corte do ferrão com uma 'tesoura de Iris', isolamento da glândula venenífera, e então pinçamento e retirada do residual. Qualquer pressão sobre a glândula venenífera anexa ao ferrão implica em mais veneno circulante no organismo, e agravamento iatrogênico (por erro humano) do quadro.
Formigas:
No Brasil, encontram-se documentados mais de 80 casos de
óbito por anafilaxia em acidentes envolvendo picadas de ‘formiga-de-fogo’,
gênero Solenopsis. O tratamento
acompanham aquele supra citado, para envenenamentos por himenópteros. A Colega Rosa Elisa Villanueva nos comunica dois acidentes (gravidade média com 5 picadas, e leve com 1 picada; Manaus e Florianópolis) com aquelas formigas carnívoras que varrem as matas como um corpo único de milhares de indivíduos, e não são enquadradas como um taxon especifico na família das formigas, as 'formigas-correição'
Acidentes por
lagartas do gênero Lonomia, e outra menos toxicas:
Lagartas de borboleta ou mariposa, também conhecidas por
‘taturanas’, possuem cerdas ou ‘pelos’ que ao contato provocam dermatites
urticantes, sendo comuns dor, eritema, pápulas, prurido. Analgésicos,
anti-inflamatórios não hormonais por via oral, associados à corticosteroide
tópico controlam a maioria dos casos.
Acidentes com lagartas do gênero Lonomia desenvolvem
dermatite urticante com alteração no coagulograma, já na segunda hora de
evolução do acidente.
Lonomia obliqua, em registro de Tiago Lima
Lonomia obliqua, em registro de Tiago Lima
Com coagulograma alterado, podem ou não ocorrer hemorragias,
sendo as mais comuns: gengivorragia, equimose, hematúria microscópica,
hematúria macroscópica, hematêmese, melena e epistaxe. Síndrome hemorrágica
implica em internação hospitalar e soroterapia especifica.
O coagulograma é o
principal guia para avaliação da gravidade dos casos. Tempo de coagulação
alterado (TC) com hemorragias de pele ou mucosa, acidente moderado: 5 ampolas
EV de soro antinôlomico (SALon). Para TC alterado e hemorragias viscerais,
detectadas à tomografia, 10 ampolas EV de SALon.
Casos e moderados e graves podem cursar sem hemorragia.
Insuficiência renal aguda, acidente vascular encefálico e óbito são relatados e
associados a retardo no diagnóstico e tratamento.
Acidentes de repetição com lagartas do gênero Premolis,
normalmente relacionados à exposição por
atividade profissional, como a dos seringueiros da Amazônia, podem levar a
alterações osteoarticulares permanentes.
MISCELANIA
Esse sumário abaixo, será atualizado com frequência:
1) LACRAIAS: abaixo uma das imagens que mais marcaram minha infância e juventude, sempre devorando tudo o que havia para se ler sobre animais peçonhentos. Crédito para W. Bücherl ...
Assombros à parte, a imagem que me perseguia não corresponde à minha pratica medica: acidentes com lacraias requerem controle de dor e edema, mas são benignos. Enfrentei cinco em minha carreira, o ultimo deles em 2012, em Ibirité MG, picada em pálpebra de criança, lacraia abatida e levada ao hospital, boa resposta a analgésicos e anti-inflamatórios comuns, resolução sem necrose tecidual local, como nos outros casos. O registro fotográfico desta lacraia, abaixo, é de Dr. Vidal Haddad
Resolvi recentemente voltar a Bücherl, pois lembrava-me que já em 1972 ele havia desvendado essa questão da periculosidade das lacraias. De fato, mais objetivo impossível:
"Experiencias com os gêneros Scolopendra, Otostigmus, Rhysida, Cryptops, Otocrytops, permitiram-me concluir sem sombra de dúvida que o veneno das lacraias, por maiores que fossem suas dimensões, não ofereciam perigo à vida humana nem mesmo à de crianças de pouca idade"
2) Grandes aranhas ‘CARANGUEJEIRAS’ (abaixo) não infligem acidentes de interesse médico. Fui picado por uma delas do polegar direito na Ilha da Gipóia, RJ, e doeu muito, mas minhas piores experiencias com essas aranhas foram as nuvens de pelo que recebi por duas vezes - sim, elas projetam pelos do corpo quando acuadas - e que provocaram coceira desesperadora, mas que responte bem a corticoide tópico e anti-histamínicos orais. Num dos meus casos foi necessário uso de corticoide sistêmico (Diprospan, 01 ampola IM).
3) 'TARANTULA' ou 'Aranha de jardim', nossa comuníssima Lycosa, é responsável por grande numero de acidentes MUITO dolorosos, que nos casos mais graves cursam com edema acompanhado de infusões hemorrágicas, e eventual foco necrótico discreto no ponto de inoculação, mas que ainda assim são eventos benignos, que regridem em 24-72 horas, sem tratamento além dos anti-inflamatórios e controle de dor.
4) Há um inseto chamado 'POTÓ' (Paederus irritans), capaz de produzir dermatites gravíssimas ao andar sobre a pele de suas vitimas adormecidas. Enfrentei dois casos no Vale do Jequitinhonha, com infecção secundária, graves. É o inseto de numero 10 na prancha abaixo, de autoria de Celso L. Godinho Jr., autor de um livro imperdível, 'Besouros e seu mundo', da Technical Books, com mais de 1.400 ilustrações do mais alto nível, confira http://www.besouros.webs.com/
5) 'Muriatim' ou 'NIQUIM' (Thalassophryne natteri) são peixes oceânicos que também já me surpreenderam pela gravidade dos acidentes, quando cravam seus esporões cobertos de muco toxico nas vitimas. O acidente mais comum é a pisada inadvertida, ou tocá-lo quando se retiram algas de uma rede de pesca (a camuflagem é perfeita). Atendi acidente no pé de um adulto em Morro de São Paulo, Bahia, em que o edema se estendeu até a coxa, e que a dor não foi controlada com calor local ou analgesia comum, requerendo morfina.
OBS: o principio oculto do tratamento popular 'urinar no ferimento', tanto nos casos de niquim quanto de arraias, é o CALOR LOCAL. Funciona na maioria das vezes e alivia a dor. No caso do NIQUIM a imersão do membro acometido em água o mais quente que se tolerar é o único tratamento recomendado. Como visto no caso acima, nem sempre funciona, mas é a primeira escolha
6) sobre os graves casos envolvendo ARRAIAS, confira:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2006/10/01/como-um-punhal/
SOBRE A QUESTÃO RECORRENTE DA SOROTERAPIA EM CAMPO (FORA DO HOSPITAL), CONFIRA:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2014/05/soroterapia-em-campo.html
SOBRE ACIDENTES COM ANIMAIS NÃO PEÇONHENTOS NO BRASIL - SUCURI, JACARÉ, ONÇA, ANTA (SIM, ANTA, E FATAL) E ETC - CONFIRA:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2011/04/os-essenciais-8-dr-vidal-haddad-ou-de.html
AJUDE NOSSO TRABALHO A PROSSEGUIR, saiba como no link abaixo:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2014/09/vaquinha-sos-nsg-fund-raising-e-obrigado.html
5) 'Muriatim' ou 'NIQUIM' (Thalassophryne natteri) são peixes oceânicos que também já me surpreenderam pela gravidade dos acidentes, quando cravam seus esporões cobertos de muco toxico nas vitimas. O acidente mais comum é a pisada inadvertida, ou tocá-lo quando se retiram algas de uma rede de pesca (a camuflagem é perfeita). Atendi acidente no pé de um adulto em Morro de São Paulo, Bahia, em que o edema se estendeu até a coxa, e que a dor não foi controlada com calor local ou analgesia comum, requerendo morfina.
OBS: o principio oculto do tratamento popular 'urinar no ferimento', tanto nos casos de niquim quanto de arraias, é o CALOR LOCAL. Funciona na maioria das vezes e alivia a dor. No caso do NIQUIM a imersão do membro acometido em água o mais quente que se tolerar é o único tratamento recomendado. Como visto no caso acima, nem sempre funciona, mas é a primeira escolha
6) sobre os graves casos envolvendo ARRAIAS, confira:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2006/10/01/como-um-punhal/
SOBRE A QUESTÃO RECORRENTE DA SOROTERAPIA EM CAMPO (FORA DO HOSPITAL), CONFIRA:
http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2014/05/soroterapia-em-campo.html
SOBRE ACIDENTES COM ANIMAIS NÃO PEÇONHENTOS NO BRASIL - SUCURI, JACARÉ, ONÇA, ANTA (SIM, ANTA, E FATAL) E ETC - CONFIRA:
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